A conversa de Jesus com Nicodemos: da Reencarnação à Ressurreição.

André Silva
EspíritodaLetra
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25 min readJun 13, 2022
Jesus e Nicodemos

Há um curioso diálogo entre Jesus e Nicodemos que é carregado de mistérios até os dias de hoje. Na ocasião, um Fariseu de nome Nicodemos vai até a casa de Jesus na calada da noite ter com ele uma conversa. Nicodemos era Fariseu, príncipe dos judeus, portanto, membro do Sinédrio. Ou seja, fazia parte do grupo que trabalharia pela morte de Jesus, uma vez que Jesus colocava em risco a tradição, a autoridade do sinédrio e o status quo com a sua doutrina, muito embora Nicodemos o tenha defendido o quanto pode diante seu grupo.

A situação por si só já levanta alguns pontos de investigação.

Primeiro, fica claro que há um grande interesse particular do Fariseu em Jesus a ponto de sair da sua casa à noite para conversar reservadamente com ele. Essa busca “à noite” pode indicar um temor da parte de Nicodemos em ser visto à procura de Jesus e aponta, ao mesmo tempo, um risco que o Fariseu esteve disposto a assumir, o que obviamente o causaria problemas e que mostra a importância da questão para o Fariseu, um doutor da lei.

A razão do interesse de Nicodemos provavelmente tinha a ver com a expectativa que era compartilhada pela mentalidade judaica da época da vinda de um messias salvador, um enviado que colocaria os inimigos dos judeus a seus pés; naquele tempo, os romanos. Não por enxergar na pessoa de Jesus esta figura messiânica. E sim por ver nele a figura de um profeta. Isto porque não apenas a figura do messias era vista como “enviado de Deus”, mas também profetas. Tal detalhe é notável logo pela própria fala inicial de Nicodemos que pressupõe Jesus ser alguém “vindo de Deus”. Neste caso, não porém, um novo profeta, mas um profeta de grande relevância do passado que voltou por meio da “ressurreição”, como o profeta Elias. Alguns levantaram essa ideia de um Elias ressurgido não só a Jesus, mas também a João Batista, tendo em vista outras situações que constam ao longo do texto bíblico.

No diálogo que se segue, talvez se entenda o porquê Jesus nesta conversa questiona Nicodemos, com justa ironia, sobre sua surpresa quanto a noção do renascimento humano, como veremos na transcrição abaixo. Nicodemos, que era um doutor da lei, mostra surpresa com a fala de Jesus quanto a afirmação da necessidade de todos de “nascer de novo”, reagindo com algum sarcasmo. Jesus, por sua vez ironiza demonstrando surpresa no fato de Nicodemos ser também mestre em Israel e não saber destas coisas. Ou seja, para parte dos populares era compreensível que este conhecimento até provocasse surpresa, mas não a “doutores da lei”, homens que viviam para isso, que se aprofundavam e extraíam o “espírito da letra”, pois tinham conhecimentos para encontrar corretamente o sentido das ideias e mesmo de certas alegorias. Acontece que Nicodemos, como se verá adiante no texto, sinaliza ceticismo quanto a ideia de “nascer de novo” ao formular sua questão, pois ele enxerga o nascimento pelo ventre como indispensável, mas também impossível a um homem já adulto, denotando um estranhamento. Curiosamente seu questionamento pode remeter aos Saduceus, contrários aos Fariseus e que não acreditavam na ideia de retorno da alma. Mas o ponto é que a ideia de ressurreição entre os judeus é um conceito muito amplo, mal definido e que frequentemente ainda gera confusões.

Nascer de novo na carne, ou, numa palavra: Reencarnar

Segue o trecho para a análise:

João 3:1 E HAVIA entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.

Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.

Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.

Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?

Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto? Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho. Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?

A fala de Jesus diz que é necessário “nascer de novo” para “ver” o reino de Deus. Ou seja, que se isto não ocorrer não é possível “ver” este reino. Independentemente do que seja este reino, segundo os versos, percebe-se que Nicodemos, que era um mestre porquanto, vale lembrar, era um doutor da lei, considerando Jesus também mestre o julga “vindo de Deus”, o que ele justifica explicitando uma condição: não seria possível fazer os prodígios e sinais que Jesus faz sem, de certo modo, “ser” com Deus.

Importante notar que logo à sua primeira fala Nicodemos é interrompido sendo corrigido pelo próprio Jesus, já que apresentou sobre ele uma pressuposição. Mais do que natural que Jesus, discordando daquilo que lhe dizia respeito, proporcionasse um esclarecimento. Essa correção fica clara pelo uso da expressão: “Na verdade, na verdade te digo”.

Daí, convém analisar com profundidade esta colocação inicial de Nicodemos que levou Jesus a corrigi-lo. O doutor da lei apresenta duas afirmações sobre Jesus: “bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus…”, em seguida ele apresenta uma justificativa para esta dedução. Uma sentença proferida por ele como uma premissa designada de forma generalista pela frase: “porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.” De outro modo, esta expressão de Nicodemos presume uma espécie de condição necessária ou natural a todo “enviado”. Algo como uma realidade, tomada por ele ali como uma constatação. Subentende-se, conforme a fala do Fariseu, que fazer sinais e prodígios seria próprio de certo estado peculiar de “sintonia”, interação ou relação com Deus, algo que só poderia ser realizado por um “enviado de Deus”, um grande profeta (embora, claro, também por um Messias).

Jesus não só contrapõe corrigindo a colocação de Nicodemos novamente com a figura de linguagem “Na verdade, na verdade te digo”, como denota ter autoridade no assunto e o faz por usar as informações e palavras que o próprio Fariseu o entrega. Apresenta por isso, na mesma medida, uma colocação diferente da proposta do Fariseu, por sua vez afirmando outra condição natural ao qual todas as pessoas estariam implicadas, dizendo que não é possível a ninguém “ver” o reino de Deus se não “nascer de novo”. De outra forma, a princípio, conforme a sequência do diálogo e nossa tese: se não reencarnar.

A expressão “de novo” também poderia ser traduzida como “do alto”, mas esta possível ambiguidade é desfeita pela literalidade do questionamento de Nicodemos. Se o entendimento possível fosse outro que não a tradução “de novo”, a questão seguinte do Fariseu não faria qualquer sentido. O contexto, pois, esclarece o termo:

Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?

Nicodemos entendeu — e sem dúvidas — tratar-se a fala de Jesus de um retorno carnal pela via do nascimento: “tornar a entrar no ventre de sua mãe”. Não percebeu conotação com sentido figurado, por exemplo, como se “nascer de novo” expressasse ideia de uma condição impossível, figura que é mais usual nos dias atuais e em nossa sociedade (como quando dizemos: “só se ele nascesse de novo conseguiria isso”), ou de uma revolução íntima radical numa mesma vida carnal e única. Nicodemos entendeu a alusão, em vista de sua reação cética pela pergunta irônica, a uma reencarnação efetivamente, ainda que repelisse isso.

A pergunta que o Fariseu elabora ante a fala de Jesus denotou não só o ceticismo do doutor da lei, mas ironia chegando a um sarcasmo. Nicodemos não aceitou concebível o que Jesus disse: a ideia da necessidade de um renascimento carnal (que aqui designamos por “reencarnação”). Sua pergunta apontou reação a um absurdo. A reação cética segue intrínseca ao questionamento formulado sob uma imagem esdrúxula de um velho voltando ao ventre da mãe, algo que denuncia certa ridicularização com a ironia pelo uso da figura exagerada e extrema, demonstrando seu choque e estranhamento.

Essa reação cética representa muita coisa. Sua reação de oposição a um absurdo indica que não existiria qualquer interesse da parte de Nicodemos ou tendência pessoal do Fariseu para entender a fala de Jesus como reencarnação. A reação denuncia surpresa em algum nível, ou seja, denuncia tratar-se de uma novidade para ele tal concepção, de forma que fica evidente que houve suficiente clareza na conotação de Jesus referindo-se a fenômeno equivalente a reencarnação, que é, vale lembrar, uma perspectiva entre outras que são possivelmente mais comuns do que ela, dentro da abrangente ideia de retorno da alma, ressurreição.

Cabe considerar aqui ainda que se trata do registro de um “Escritor” que escolheu relatar um questionamento de Nicodemos que claramente põe em pauta a situação da reencarnação pela expressão “tornar a entrar no ventre”, ainda que a pergunta atribuída a Nicodemos denote o ceticismo do Fariseu sob sua ironia. Em outras palavras, para providenciar um registro escrito de pressupostos eventos aos quais se tem o testemunho, esse “Escritor” escolhe o que relatar e o que deixar de relatar. E sua escolha foi trazer um diálogo sobre reencarnação.

Os dois tipos de Nascer

E o diálogo continua. Segue-se a resposta de Jesus à ironia de Nicodemos:

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.

O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.

Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.

Jesus contrapõe e corrige a ironia do doutor da lei dizendo “na verdade, na verdade te digo” apresentando pormenores: “aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.” Ou seja, não se trata, portanto, apenas de um tipo de nascer, mas de dois tipos. Nascer da água e nascer do Espírito.

O nascimento carnal se dá pela água, caracterizada pela bolsa contendo líquido amniótico, que é água com algumas substâncias dissolvidas ou em suspensão, bolsa na qual o feto fica mergulhado, além do que a maior parte do próprio corpo de carne é formado por água. Deste modo, o nascimento da água é, como se vê na sequência, alusão ao nascimento carnal, motivo pelo qual Jesus refere-se logo em seguida que “o que é nascido da carne é carne”. Portanto, este ressurgimento da alma na carne é compreendido pela via do nascimento, e não se trata apenas de um “nascer”, mas, como consta no registro textual, de nascer “de novo”, nascer novamente.

Quanto a este termo, “nascido do Espírito”, que se refere ao segundo tipo de nascer, nota-se que desta vez Jesus diz que quem não nascer das duas maneiras mencionadas, isto é, da água (carne) e do Espírito, não pode “entrar” no reino de Deus. São duas situações distintas também por outro detalhe útil para compreender do que se trata este “nascer do Espírito”. Primeiramente ao falar sobre a necessidade de “nascer de novo” (reencarnação) Jesus fala sobre VER o reino de Deus. Já quando ele adiciona o segundo tipo de nascer, ele fala sobre ENTRAR no reino de Deus. Ver não é obviamente o mesmo que presenciar, estar presente, vivenciar, que é o que alude o sentido de ENTRAR. Entrar, neste sentido, é como “estar”, “ser com”, vivenciar este reino. Mas, antes, indica a transição de fora para dentro, e assim, o início de um novo estado. Importa notar, nesse caso, que ENTRAR no reino de Deus é obviamente condição melhor do que apenas VER esse reino.

Portanto, depende-se das duas condições: se não nascer de novo da carne e se não nascer do Espírito, não é possível “entrar” no reino de Deus, logo, não é possível “ser” ou “estar” com Deus, o que permite inferir que “ser” com Deus implica em um estágio avançado de evolução espiritual, por assim dizer. O mesmo estado que caracteriza a condição espiritual dos profetas ou messias, vistos como “enviados de Deus”. É como se as sucessivas reencarnações na carne pouco a pouco “limpassem” (por intermédio do corpo) a alma até purifica-la por completo.

Esse estágio de plenitude se realizaria, então, alcançando uma condição de pureza, como é possível supor. Em todo o Novo Testamento podem ser identificados dois extremos que são dados por algo como um “grau de pureza”. Há menções na narrativa bíblica a “espíritos puros” e “espíritos impuros”. É possível deduzir que para “ser” com Deus, necessário é tornar-se puro. E, ao que tudo indica, tornar-se um espírito puro, como os anjos ou enviados de Deus, depende deste segundo tipo de nascer, o “nascer do Espírito”. Um nascer que é a “ressurreição” propriamente dita, tal como Jesus, ao que parece, a compreende. Uma ressureição espiritual.

Isso está de acordo com outra passagem, talvez das únicas do Novo testamento em que Jesus utiliza o termo “ressurreição”. Quando questionado por Saduceus acerca da ressurreição, Jesus dá uma resposta, talvez, não por acaso, em conformidade a esse entendimento que tange ao “nascer do Espírito”.

Aqui é importante saber que na cultura judaica daquela época, caso o marido morresse antes que o casal tivesse filhos, a esposa deveria se unir em casamento com o irmão de seu marido para continuar a linhagem familiar, uma vez que o casamento envolve mais do que uma questão pertinente ao casal, mas a todo o núcleo parental, e é sobre isto que os saduceus interrogaram Jesus:

Mateus 22 No mesmo dia chegaram junto dele os saduceus, que dizem não haver ressurreição, e o interrogaram, Dizendo: Mestre, Moisés disse: Se morrer alguém, não tendo filhos, casará o seu irmão com a mulher dele, e suscitará descendência a seu irmão. Ora, houve entre nós sete irmãos; e o primeiro, tendo casado, morreu e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão. Da mesma sorte o segundo, e o terceiro, até ao sétimo; por fim, depois de todos, morreu também a mulher. Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, visto que todos a possuíram?

Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu.

E, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos.

Jesus diz que na ressurreição literalmente “serão como os anjos de Deus no céu”, isto é, serão espíritos puros. Está implícito aqui que se trata de uma situação concernente a toda pessoa, indistintamente, uma vez que o trecho é abrangente. A colocação de uma situação hipotética generalista teve como resposta de Jesus que aquele que chegar à ressurreição será como os anjos. Os anjos são espíritos puros e esta condição de pureza é acessível a quem quer que se purifique em sua jornada de vidas sucessivas. Além disso, os mencionados patriarcas não são interpretados por Jesus como mortos, mas como vivos. O ponto curioso é que poderia ser suficiente o termo “ressurreição”, mas Jesus utiliza a expressão “ressurreição dos mortos” remetendo a tais patriarcas, pessoas cujo corpo físico já morreu, dizendo por fim “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, podendo perfeitamente denotar que tais famosos patriarcas continuam vivos como espírito, porquanto o que morre é apenas o corpo físico e não a alma.

Assim, retomando o diálogo com Nicodemos que vem sendo aqui analisado, em suma, Jesus em sua fala ao Fariseu não aborda apenas uma ou outra perspectiva, isto é, a reencarnação ou a ressurreição, mas, sim, as duas perspectivas distinguindo dois tipos de nascer que se relacionam. Um tipo de nascer levando a outro. A reencarnação é carnal pelo renascimento do homem na carne. A ressurreição é espiritual, alusão que também está no diálogo, como expresso na fala de Jesus: O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.

Desta forma, nascer de novo, ou reencarnar, leva o ser a “ver” o reino de Deus, por progressivamente melhorar a si mesmo percebendo e corrigindo seus maus pendores, uma vez que tende a tornar-se mais auto consciente e preocupado com as próprias ações no mundo. Ao passo em que nascer do Espírito ou ressurgir espiritualmente é a conclusão deste processo, que leva o ser a passar a “estar presente”, a “entrar” nesse reino de Deus, a vivencia-lo.

Portanto, aquele que é “nascido do Espírito”, isto é, que já concluiu/conseguiu se tornar um espírito puro transformando-se moralmente pela experiência de muitas reencarnações, é espírito, tais como os patriarcas, os anjos que “estão” no céu. A continuação do diálogo com Nicodemos esclarece mais o ponto quanto a essa condição daquele que não precisa mais de reencarnar compulsoriamente:

Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

Jesus, poeticamente, como próprio do judeu, se utiliza muito bem das figuras de linguagem, analogias, alegorias, metáforas. Ele finaliza o ponto principal da conversa, conforme o trecho agora citado acima, falando sobre a condição daquele que “está com Deus”, isto é, a condição de todo aquele que consegue alcançar esse estado de “pureza”. Faz isso com uma analogia. Todo aquele que é nascido do Espírito, que se transformou moralmente e se tornou um espírito puro se faz como o vento. O vento assopra onde quer e escutam a sua voz, pois, a “voz” do espírito puro são suas boas obras, sua mensagem, que evidentemente acaba por ter poderosa influência, pelo simples pressuposto de ser alguém de certo modo plenamente evoluído, realizador e benevolente.

Diz ainda Jesus a Nicodemos, por fim, que “não sabes de onde vem, nem para onde vai”, isto pois um tal espírito exerce sua plena vontade de ir e vir no Espaço, sem ser constrangido a passar por vivências em círculos carnais. Círculos aos quais muitos se vinculam por agir mal, por irresponsabilidade para com o próximo e para consigo mesmo, enfim, por más escolhas sobre as quais individualmente precisam se redimir, ou que se vinculam pelo imperativo de progredir. Ela, a alma ou espírito, quando alcança condição totalmente liberta do espinho da carne, exerce mais livremente sua vontade, escolhe o seu futuro e destino por seu livre-arbítrio com autonomia e se manifesta nos mundos, mas, num sentido simbólico, não são do mundo, como Jesus disse não ser do mundo (João 17.14). Elas são livres para ir e vir “nas muitas moradas da casa do Pai” (João 14.2).

Nicodemos na sua colocação afirmava Jesus vir de Deus. Jesus, por sua vez, em sua resposta dizia que, nem Nicodemos, nem os seus, poderiam saber de onde vem, nem para onde vai uma tal alma que se libertou desta forma, “nascendo do Espírito”. E veja que Jesus fala com propriedade sobre o assunto porque, esta “propriedade” lhe foi atribuída pelo próprio Nicodemos; mas também porque “pode” ser ele, sim, um espírito de tal estirpe falando com conhecimento de causa. Tal genialidade e inteligência ao criar essa ambiguidade já é um forte indício em defesa de que a condição de Jesus de espírito de elevada evolução não seja apenas uma conjectura.

Um exemplo humano para a Humanidade

Nesse sentido, é importante considerar que a contraposição de Jesus a Nicodemos em sua primeira fala também tende a esclarecer dois aspectos simultaneamente implícitos na situação:

- Um primeiro aspecto, relativo ao próprio Nicodemos, refletido em sua postura. Nicodemos está posicionado em sua primeira fala como consciente e capaz de reconhecer um “enviado de Deus” pelos seus sinais, tomando como base a tradição, que envolvia profecias quanto a aspectos tais como genealogia e outras constatações. Ele ironicamente se baseia em uma alegação material para o reconhecimento de uma condição espiritual, o que é um contrassenso. Em sua contraposição, Jesus denota que não é essa busca por um profeta ou Messias salvador o que realmente importa, mas sim a trajetória própria de mudança interior de cada um. De nada adianta esperar a vinda de “enviados” para mudar o mundo em que se vive se a vida é de cada um e intransferível. De nada adiantará viver em um mundo melhor se a própria pessoa não for também melhor para este mundo. Um assassino psicopata em um mundo bom ainda é um assassino. Um iluminado em um mundo ruim ainda é um iluminado. E consequentemente, é necessário mais a alguém para ver as coisas do reino do que apenas focar nos aspectos tradicionais visíveis como os sinais das escrituras. O Fariseu talvez estava longe de ser capaz de reconhecer um “enviado de Deus” como aparentava, pela sua postura, pois, de certo modo, este enviado seria reconhecido mais pelo “coração”, pelo espírito, pela intuição do que pelo “conhecimento dos olhos” (João Batista nos serve aqui de base ao expressar por intuição sobre Jesus ser o “cordeiro de Deus”, certamente dizendo isto de seu coração).

Isso pode implicitamente ser indicativo, como em outras passagens, de que Jesus tinha noção de que não correspondia às expectativas judaicas, sobretudo porque ele contrapõe esse pressuposto do Fariseu, mesmo para a suspeita de que Jesus fosse um profeta enviado.

É preciso efetivamente nascer de novo, isto é, passar por sucessivos nascimentos e vivências na carne, o que se identifica com o fenômeno da reencarnação. Ora, se Nicodemos pretendeu afirmar uma condição natural, a resposta de Jesus apresenta uma condição natural diferente e abrangente, que se relaciona ao segundo aspecto.

- Quanto a esse segundo aspecto, o Fariseu em sua primeira fala realiza afirmações sobre a específica pessoa do mestre de Nazaré colocando Jesus como alguém especial, um “enviado de Deus”, um profeta, ignorando talvez que essa condição de “relação com Deus” também é alcançável a todo aquele que pratique com plenitude a Lei divina e se purifique nesta prática nas vidas necessárias que viver. Jesus em sua humildade e genialidade características, sem focar no mérito da questão, se é ou se não é um “enviado”, amplia a perspectiva defendendo que não é uma questão exclusiva a ele próprio nem a ninguém, mas uma questão relativa a todas as pessoas interessadas no reino dos Céus, sem acepção de pessoas. Isso fica claro no seu modo de dizer:

A expressão “aquele que” em “AQUELE QUE não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” não restringe à pessoa de Jesus, mas generaliza, englobando todo aquele que cumprir esta condição: de nascer da água (carne) e do Espírito. Tal generalização se confirma pelo uso do pronome “vos” na sequência do verso: “Não te maravilhes de te ter dito: Necessário VOS é nascer de novo”. E essa mesma expressão “aquele que” está também no verso anterior: “Na verdade, na verdade te digo que AQUELE QUE não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”, o que demonstra que é de aplicação geral e que “nascer de novo” está ligada à frase “nascer da água e do Espírito”.

Consequentemente, fica assim claro que as falas de Jesus sobre as formas de nascer se direcionam a todos, inclusive a Nicodemos, que mais uma vez vale lembrar, era um Fariseu, doutor da lei, príncipe dos judeus e, portanto, membro do Sinédrio. Pertencia à classe daqueles que concorreram diretamente para a condenação e morte de Jesus, muito embora Nicodemos, como já dito, fosse um defensor do mestre Galileu.

A perspicácia de Jesus no uso da informação

O diálogo ainda prossegue mais algumas linhas:

Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?

Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?

Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho.

Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?

Retomando um pouco a passagem, num primeiro momento, como visto, quando Jesus se refere ao nascer da carne novamente, isto é, à reencarnação, Nicodemos reage com uma crítica sarcástica como alegando um ridículo absurdo que seria voltar ao ventre um homem já velho. No entanto, Jesus declarando por notório o sarcasmo do fariseu com a expressão “Não te maravilhes de ter dito”, detalha não só o primeiro tipo de nascer, mas o segundo, por serem processos essenciais concernentes a um “enviado de Deus”, o que Nicodemos, agora, tornando-se mais razoável, assume não entender, pedindo esclarecimento ao dizer: “Como pode ser isso?”

Jesus, dá consciência a Nicodemos da contradição em que o doutor da lei se envolveu devolvendo uma pergunta irônica em consequência à primeira resposta sarcástica do Fariseu: “Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?” Isto, pois estes conhecimentos não são nada incomuns para mestres e doutores da lei, Fariseus, que tem ao menos noção sobre a perspectiva do Misticismo Judaico. A dificuldade para Nicodemos aqui talvez esteja na amplitude do conceito da “guilgul” ou na ausência para alguns de uma concepção propriamente de “alma”, como certo entendimento de “ressurreição” que a compreende literalmente como um retorno do ser em carne como que materializando-se, o que poderia ser o caso da sua perspectiva.

Jesus, contudo, remeteu à resposta sarcástica do Fariseu deixando claro que se uma necessidade natural terrestre, a da reencarnação, gerou em Nicodemos a completa descrença mesmo Jesus sendo para ele um mestre “enviado de Deus”, como poderia conseguir esclarecer Nicodemos sobre aspectos ainda mais distantes da sua realidade prática como são as coisas do espírito?

A fala de Jesus na sequência refere-se ao início do diálogo, que convém relembrar. Nicodemos abre a conversa falando ao Nazareno: “bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele”.

Nestes dizeres está explícito que Nicodemos e possivelmente muitos do grupo dos Fariseus reconhecem a condição de Jesus de Mestre por, entre outras razões, notarem ele dominar o conhecimento da lei. E lhe creditam ser profeta, afirmando ser ele “vindo de Deus” pois, ao que parece, testemunharam com os próprios olhos sinais e prodígios que o Nazareno realizou, uma vez que Nicodemos a isso menciona, estando implícito junto à palavra “sinais” uma percepção possivelmente visual.

Jesus em sua resposta muito perspicaz remete a esta fala de Nicodemos que dizia “bem saber” ser Jesus mestre, ainda mencionando os tais sinais e prodígios referidos dos quais o Fariseu e seu grupo eram testemunhas. Ora, se Nicodemos e outros sabiam que Jesus era Mestre e o consideravam um enviado, “vindo de Deus”, chegando a tal conclusão pelos sinais que eles mesmos enxergavam, então era contraditório que Nicodemos repelisse como absurda as colocações de Jesus sem, de certo modo, ir às explicações, sobretudo se o consideravam profeta. Consequentemente, faria menos sentido ainda se Jesus pretendesse insistir em explicar um âmbito que é ainda mais extraordinário à vida terrestre, como é aquilo que tange às coisas do espírito, as coisas celestiais, domínio que o próprio Nicodemos indiretamente alegava Jesus ser conhecedor ao afirma-lo “vindo de Deus”.

Daí Jesus dizer: Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho. Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?

Nicodemos demonstrava estar fechado. É aceitável e natural alguém estranhar ou mesmo não concordar com algum conhecimento, sobretudo, se é ignorante no assunto específico. Mas não é uma reação receptiva utilizar de sarcasmo. A ironia ou o sarcasmo, neste sentido, implicam em uma negação, mesmo, da possibilidade de existência do fundamento. Ou melhor, é uma crença na inexistência desta possibilidade, e uma indisposição a, sequer, conhecer uma fundamentação.

Assim, em resumo, se Jesus lhe dizia sobre a necessidade de nascer na carne de novo como condição para toda pessoa física humana atingir a perfeição como uma lei da natureza e Nicodemos, que o reconhecia mestre e o supunha vindo de Deus, já repelia a ideia antes mesmo de tentar entender melhor solicitando explicações (como fez depois), que sentido faria Jesus insistir em esclarecer aspectos de uma forma de viver completamente diferente da compreensão vulgar como é a vida espiritual? Este o sentido da reflexão de Jesus.

Reencarnação é uma fatalidade para todos

A genialidade das respostas de Jesus envolve, sobretudo, o fato de que ele utiliza com excelência as próprias colocações que o entregam para criar ensinamentos e oportunizar lições de sabedoria moral, sem se auto afirmar. Não propõe ele, em toda a conversa, ser este “enviado especial” como Nicodemos o pretendeu exaltar. Mas usa disso para o lembrar de se ocupar de olhar para dentro mais do que se preocupar em ser salvo por alguém de fora. Revela ainda, na situação, o seu conhecimento sobre a evolução humana espiritual para todos e dá consciência da contradição do doutor da lei, consequência da sua expectativa. Uma expectativa completamente fundada em indícios puramente materialistas.

É de se observar que toda essa perspectiva de Jesus aqui apresentada, como a relativa ao seu diálogo com Nicodemos, demonstra ideias condizentes com o Espiritualismo. A reencarnação humana, conforme tal linha, é um caminho de “purificação” do espírito para o verdadeiro ressurgimento, uma vida liberta de peias, isto é, o fim do ciclo necessário de reencarnações a partir do aperfeiçoamento completo do ser. Grosso modo, o espírito reencarna várias vezes para, nas diferentes vivências que irá experimentar em cada nova vida, gradualmente se purificar e não precisar mais retornar à carne por necessidade, e sim por livre e espontânea vontade, apenas como missão, se lhe aprouver. É dessa livre vontade que provavelmente se refere a analogia de Jesus, do espírito livre como o vento já transcrita acima, por ocasião da menção do Fariseu a alguém que viesse de Deus.

Essa perspectiva justifica com plenitude de sentido o esforço de Jesus em incentivar que toda e qualquer pessoa busque se transformar moralmente, aprendendo a amar a si mesmo, a amar o próximo, amar, mesmo, os inimigos. Vale lembrar que ele falava às multidões e no meio delas estavam quaisquer pessoas que tivessem interesse ou não em se melhorar moralmente. Estava entre a massa o Centurião Romano Cornélius e outros Centuriões. Estavam também os sacerdotes, escribas, os soldados de Herodes, Zelotas, Fariseus, Saduceus, Publicanos, Samaritanos, pecadores em geral e muitos outros, e ele falava de boa vontade a todos. De outro modo, se Jesus não tivesse um genuíno desejo de fazer a todos, indistintamente, um bem pessoal, ensinando o meio de vencer o mal de si mesmos, ainda que aquele bem não florescesse naquele tempo, naquela vida, não faria sentido ensinar o bem às multidões onde se encontravam, mesmo, aqueles que o procuravam matar. Vale refletir, inclusive, no porquê ele disse pouco antes de sua morte: “Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23.24).

Desejar tal bem, como Jesus desejou, só faria sentido se mesmo aos algozes fosse possível a transformação íntima ao longo de muitas vidas, reestabelecendo de certo modo aquilo que destruíram. Logicamente, uma tal transformação pessoal para muitos indivíduos não caberia em uma rápida e única vida na carne, como para tantos que morrem recalcitrantes no mal. Portanto, parece óbvio ser preciso a vivência de muitas reencarnações para a reforma íntima, para a compensação pelo mal realizado fazendo o bem, buscando o completo amadurecimento do espírito e o total aperfeiçoamento do caráter. Trata-se de uma doutrina que dá condições a todos de evoluir à perfeição por esforço próprio, sem eximir ninguém da responsabilidade de “corrigir” o que “destruiu”, dando oportunidade a que nem uma só ovelha fique perdida na humanidade, assim como nem um só til fuja de ser cumprido na Lei.

Diante disso, essa visão do reino de Deus é fruto de uma construção íntima e interna de cada um. Construção que vai se realizar pelo percurso de muitas vidas. Contudo, falava mais alto e pesava mais para a maior parte dos judeus naquele contexto histórico e regional a grande expectativa, alimentada pelo texto tradicional sagrado, sobre a figura de um messias guerreiro, salvador político, representante judaico.

As palavras de Jesus dão ensejo à reflexão de que o que realmente importa não é constatar se ele se trata ou não de um enviado de Deus, profeta, ou messias, mas sim perceber a realidade ao qual aquele código moral, que ele teve o brilhantismo de engrandecer, convida as pessoas a praticar.

Não se sabe muito mais sobre o desfecho real deste diálogo com o doutor da lei na calada da noite. Há uma sequência final de falas que é suspeito de acréscimo do escritor, haja vista o uso de expressões como “filho unigênito” atribuídas a Jesus referindo-se a si mesmo, o que é contraditório ao próprio diálogo como um todo, em que Jesus sai justamente da atribuição de qualquer condição especial ligada a um messianismo, além do que essa terminologia não é condizente com a época de Jesus, mas particular de um esforço do Cristianismo na defesa de um Jesus Messias. Contudo é certo, de uma forma ou de outra, que o destino desse diálogo era o futuro leitor, a quem justamente importa a reflexão, afinal, um texto foi escrito para alguém, e como podem ver, há sobre ele muito o que notar.

Conclusão

Os aspectos históricos, os milagres, as predições, as palavras que fundam dogmas, e mesmo a tese de textos como este serão sempre questionáveis, em vista da escassez de provas, da distância temporal dos fatos, das discrepâncias e peculiaridades culturais de um povo muito distinto em sua época, das necessárias replicações e traduções do texto ao longo do tempo, das apropriações, deturpações, jogo de interesses, etc. O que sempre permanecerá incólume e disponível de forma inviolável a qualquer pessoa de qualquer credo é o ensino moral que sua mensagem contém se considerada em sua realidade, que é o que a própria reflexão desta passagem tem de mais importante e valioso. Jesus, sendo um espírito puro, de grande evolução, fatidicamente não derrogou, mas deu plenitude à lei, apresentando uma valorosa interpretação. E aqui, neste diálogo, ele apontou que era superficial se preocupar em identificar os sinais da vinda de um Messias se as pessoas não se ocupassem mais de melhorar a si mesmos, que é o que de fato tem importância para viver em um reino liberto e próspero, que é tão desejado.

A visão de Jesus era sempre para muito além do próprio interesse pessoal ou dimensão pessoal. É mais importante em sua mensagem que tantos quanto possível “enxerguem” o reino de Deus para que o alcancem sem demora, do que encontrar um salvador sob a exatidão de uma promessa física, tecida por homens e sujeita aos seus caprichos e imprecisões. A mensagem é real e perpétua, isto basta, porquanto mesmo para a vida futura, se considerar um fato as reencarnações sucessivas, irá importar nossa conduta AGORA.

Mas claro, essa concepção e ideias manifestas de Jesus podem se limitar também simplesmente a isso: a uma concepção partilhada por Jesus, independente do leitor concordar com ela, como alguns escritores já mostraram divergir procurando adulterar o texto com outros fins, como hoje se sabe de algumas deturpações realizadas por copistas, tradutores e mesmo pais da igreja ao que se tem de ‘original’ em termos de Novo testamento.

Pode tratar-se, ainda, de uma perspectiva do Escritor (ou do grupo deles). Neste caso, assim mesmo se revela a naturalidade e evidência da temática reencarnação, seu profundo significado e implicações. Se não entre as testemunhas, ao menos entre os escritores. Dos escritores sobraram claros vestígios do tema na recorrência com que aparecem os indícios nos evangelhos.

Ou, para além destas hipóteses, talvez Jesus tivesse sido influenciado pela proximidade com os próprios Essênios, ou mais especificamente com seu primo Essênio João Batista, que parecia demonstrar convicção de que Jesus era, não um profeta, mas o próprio Messias. Nesse sentido, Nicodemos, apegado aos sinais materiais, não se dava conta de que estava diante um verdadeiro messias espiritual em quem todo e qualquer ser humano poderia se espelhar, aquele que o libertaria da prisão de si mesmo, fazendo-o livre do egoísmo para viver como um espírito livre.

Entre os primeiros escritores e as testemunhas que contaram a história, está a realidade da cultura e do contexto judaico da época, carregado de suas características próprias. Estas características permitem certas deduções seguras, como é seguro deduzir a naturalidade da temática do retorno da alma, na cultura judaica. Embora a mensagem de Jesus fora modulada por deturpações ao longo da história, a essência moral é, com o perdão da redundância, essencial. Ela estará sempre disponível, ao menos em partes, até que a comunidade desvende seus valores, com olhos de ver e ouvidos de ouvir.

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André Silva
EspíritodaLetra

Pensador, investigador e “filosofista”. Pesquisa a ciência, a consciência, o espírito, linguagem, cultura, redes, etc. Mestre em C.I. Instagram: @andrefonsis