A pobreza como resultado da discriminação sexual no mercado de trabalho
Para falarmos sobre desigualdade econômica, precisamos também colocar em pauta o racismo e o acesso à educação.
Embora para a maioria das pessoas a pobreza não dure muitos anos, no caso de mulheres e negros ela é duradoura (BELLE, 1990), isso acontece porque, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o maior percentual de pessoas com acesso restrito à educação é relativo a pessoas negras. Isso, é claro, sem contar o fato de que o racismo no mercado de trabalho ainda é uma enorme questão não resolvida.
Consequentemente, o tempo de estudo impacta nas oportunidades trabalhistas dessas pessoas, estando elas sujeitas, então, a trabalhos precários, informais ou domésticos — tanto é que a população negra é a que mais executa trabalhos domésticos no país.
Dados
Dos 12 milhões de brasileiros desempregados, 6,5 milhões são mulheres, segundo última pesquisa do IBGE. No último ano, 51,56% das mulheres estavam empregadas e entre os homens, o índice é de 71,64%.
Ainda de acordo com o Instituto, a diferença entre os salários de homens e mulheres que trabalham a mesma quantidade de horas semanais é de 20,5%, sendo assim, colocando esse percentual em um cálculo anual, é como se as mulheres trabalhassem 74 dias por ano DE GRAÇA!
Segundo o levantamento da empresa Catho em 2017, a desigualdade salarial entre os sexos está presente em TODOS os cargos, do estágio à gerência. A pesquisa listou os salários em 28 áreas de atuação e os homens têm salários mais altos em 25 dessas carreiras.
Educação
Entre outubro e dezembro de 2021, as mulheres que estavam empregadas tinham em média 10 anos de estudo e os homens, 9,8 anos.
Mulheres ocupam 56% dos cursos de mestrado e 54% em doutorado. Mas então, se mulheres estão mais qualificadas para o mercado de trabalho pois estudam mais, por qual motivo são a maioria quando falamos em desemprego? Uma das respostas para essa pergunta é: discriminação sexual.
Desde muito pequenas, nós mulheres, somos incansavelmente incentivadas ao estudo e interiorizamos essa necessidade da realização profissional a qualquer custo. Entretanto, sabemos que lá na frente, na hora de disputar uma vaga importante, para qual outros concorrentes são homens brancos, por mais que eles possuam menos competência e qualificação, ainda estarão em vantagem.
A dificuldade no meio trabalhista
As mulheres têm menos chances de serem contratadas pelo simples fato de poderem engravidar. Além de que quanto maior a quantidade de filhos, mais mal vista é a mulher para o mercado de trabalho. Afinal, como ela daria conta de cuidar da casa, dos filhos, do marido e exercer sua função trabalhista?
No Brasil, a licença-maternidade é de 4 meses, de acordo com pesquisa de doutorado acompanhada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a queda no emprego começa imediatamente após o período de proteção, e quase 50% das mães que tiram esta licença são demitidas depois de 24 meses.
Licenças para cuidar dos filhos e outros afastamentos do trabalho são citados como prova de que os homens são mais comprometidos com o trabalho do que as mulheres.
Não é por coincidência que a grande maioria dos homens decide se casar logo após conseguirem o primeiro emprego. Eles encontram a necessidade de transferir o cuidado materno para sua futura esposa. E, mesmo que ela ainda tenha seu próprio trabalho fora de casa, dedica 2,5 vezes mais horas semanais aos afazeres domésticos do que o homem — o que influencia diretamente não só na sua renda, mas na qualidade e quantidade de horas trabalhadas em seu emprego, de forma que ela se torna eternamente subalterna e dependente financeiramente de seu marido.
A ausência de políticas que favoreçam a atuação de mulheres em ocupações de maior remuneração é resultado do mercado capitalista e patriarcal que nos vê apenas como reprodutoras e donas de casa, sendo, assim, incapazes de gerenciar uma empresa ou uma equipe.
Enquanto mulheres não forem recompensadas pelo trabalho doméstico, incluindo o cuidado com os filhos, realizado enquanto os homens estão construindo suas carreiras fora de casa, e o judiciário seguir priorizando as necessidades de homens sobre de mulheres (cf. WEITZMAN, 1985), áreas de trabalho onde a predominância de atuação é feminina seguirão sem o reconhecimento apropriado. E assim, o medo da pobreza, e de uma condição ainda mais subalterna, continua para a maioria de nós.
BIBLIOGRAFIA
BELLE, D. Poverty and women’s mental health. American Psychologist, 1990.
DEE L. R. Graham. Loving to survive. New York University, 1994.
WEITZMAN, L. J. The divorce revolution. New York, 1985.