Bissexualidade performática na adolescência

O que é ser bissexual? Ser bissexual é sentir atração sexual pelos dois sexos.

Mell Avila
Sementes Coletivas
3 min readJun 2, 2021

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É sabido que a adolescência é a fase em que os jovens começam a descobrir seu lugar no mundo e descobrir sua sexualidade. Também é nessa fase que participar de certos grupos sociais vira uma prioridade, ser aceito vira uma necessidade. Muitos jovens imaginam que, dentro da comunidade LGBT vão encontrar acolhimento, mas quando se fala de mulheres que amam mulheres (falando nesse artigo mais especificamente sobre mulheres bissexuais) isso vira uma dificuldade. Levando em consideração o patriarcado e a forma que ele age, se encontra em nós, jovens, a perpetuação de certos comportamentos moldados pelo patriarcado por meio de nossa socialização.

Para a sexóloga Carla Cecarello “As adolescentes de hoje estão num mundo cheio de informações, o que facilita o aprendizado e também o desejo de experimentar algo inerente à formação. Contraditoriamente, muitas até dão selinhos nas amigas para chamar a atenção dos meninos.”

Sabemos que a bissexualidade é sim uma orientação sexual válida e existente, mas ao sermos moldadas pela nossa socialização desde o berço, nos é ensinado a prezar pelo prazer masculino e “querer conquistar o olhar e a atenção masculina a qualquer custo” mesmo que não seja uma vontade consciente.

Assim, nós adolescentes do sexo feminino, acabamos por reproduzir esse padrão da heterossexualidade compulsória mesmo ao explorar a nossa bissexualidade, preferindo mesmo que sendo bissexuais, homens, pois somos inclinadas a relacionamentos héteros por meio de nossa socialização. Alguns exemplos de heterossexualidade compulsória e performance da bissexualidade são: ficar com meninas na frente de um menino para que ele se interesse em ti ao fetichizar teu beijo com outra mulher, e também priorizar relacionamentos heterossexuais à um relacionamento lésbico. Os dois maiores motivos da priorização de relacionamentos heterossexuais por mulheres bissexuais são: o sintoma social e a estratégia política que tem como objetivo a demonização de relacionamentos lésbicos, além da fetichização cruel de lésbicas por meio da pornografia como “ brinquedos” e “coadjuvantes” para a experimentação de uma nova vida sexual.

Performar a bissexualidade invalida toda a luta que os bissexuais tiveram para serem tratados, não como uma indecisão, e sim como pessoas que se atraem por ambos os sexos. Se descobrir é uma coisa completamente diferente, a adolescência é sim o momento de experimentar, mas levantar bandeiras, só para se sentir parte de um grupo, para chamar atenção masculina, ou só para “ter uma opressão para chamar de sua” é de uma grande falta de responsabilidade.

Visto que, dados retirados National Intimate Partner and Sexual Violence Survey (NISVS) de 2010 aponta que:

-Mulheres bissexuais sofrem 61,1% com a prevalência de estupro, violência física e/ou perseguição por um parceiro íntimo ao longo da vida;

-Entre as mulheres que sofreram estupro, violência física e/ou perseguição no contexto de um relacionamento íntimo, a maioria das mulheres bissexuais, 89,5% relataram apenas perpetradores do sexo masculino;

-Quase metade das mulheres bissexuais (48,2%) foram estupradas pela primeira vez entre 11 e 17 anos.

Sem contar a questão da saúde mental e física de mulheres bissexuais, dados da Bisexual Resource Center (BRC) apontam que:

-Quarenta e cinco por cento das mulheres bissexuais consideraram ou tentaram o suicídio, tendo o índice mais alto dentro da comunidade LGBT;

-As mulheres bissexuais têm duas vezes mais chances de ter um transtorno alimentar do que as mulheres lésbicas;

-Mulheres bissexuais relatam as taxas mais altas de uso de álcool, consumo excessivo de álcool e problemas relacionados ao álcool quando comparadas às mulheres heterossexuais e lésbicas;

-Homens e mulheres bissexuais relatam as taxas mais altas de tabagismo dentro da comunidade LGBT.

Portanto, nós adolescentes que estamos nos descobrindo, temos de ter responsabilidade sobre nossos atos e falas, pois ao acreditarmos que o pessoal é político, devemos estar o tempo todo fazendo uma autoanálise sobre o que são nossos gostos pessoais e o que é a nossa socialização, levando sempre em conta que nossas ações pessoais são políticas, que carregar bandeiras e lutar pelos direitos e saúde de mulheres, sendo hétero, bi ou lésbica é uma grande responsabilidade e um grande fardo.

Referências:

https://www.thetaskforce.org/bisexual-health-awareness-month-draws-attention-to-communitys-urgent-health-needs/

https://www.thetaskforce.org/bisexual-women-have-increased-risk-of-intimate-partner-violence-new-cdc-data-shows/

https://agenciaprefixo.wordpress.com/2017/07/04/bissexualidade-na-adolescencia-escolha-ou-modismo/

https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/mulher/ser-bissexual-esta-na-moda-ou-e-tendencia-de-comportamento,0f386ee9f9e27310VgnCLD100000bbcceb0aRCRD.html

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