Colorismo na adolescência e o não lugar

Como isso afeta diretamente as adolescentes negras

Adriane Palmeira
Sementes Coletivas
3 min readJun 8, 2021

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Em primeiro lugar precisamos explicar, o que é o colorismo? é um termo usado para distinguir as diferentes tonalidades da pele negra, e este também é um dos instrumentos da branquitude para nos afastar da nossa identidade, desde dos tons mais claros aos mais escuros, essas tonalidades permitem a inclusão ou a exclusão na sociedade — basicamente quanto mais pigmentada uma pessoa for, mais discriminação ela sofrerá.

Para compreendermos melhor o colorismo precisamos entender dois processos: O primeiro processo foi para fins políticos na intenção de remover as identidades negras da pauta, para embranquecer a nação e evitar procedimentos de compensação racial. Na população negra do Brasil, o uso do discurso discriminatório racial e a supressão de dados raciais são meios para legitimar as ideias da não negritude. O segundo foi quando pessoas negras começaram a buscar distanciamento dos vínculos com a negritude, na tentativa de dissociar a própria imagem dos vestígios da marginalização. É preciso perceber quão forte é o impacto da escravização e da precarização da imagem de pessoas negras no período pós-colonial.

Como o colorismo afeta as adolescentes? pela falta de identificação da cultura negra, uma vez que essa é tratada como uma subcultura, traz um conflito interno para o desenvolvimento físico, mental e social. Além de causar confusão na autodeclaração e identificação de pautas, temos o exemplo de jovens negras de pele clara não se autodeclararem como negras, se colocando no lugar de “branca demais para ser preta e preta demais para ser branca”, também tem o famoso termo pardo, que é mais um dos instrumentos da branquidade, e consequentemente essas jovens entram em um processo de “se descobrirem negras” e aceitar os traços da “parcela preta” que as constituem, sendo que essa negação é puro fruto da nossa sociedade racista e principalmente pelo padrão europeu imposto pela mesma, sendo que mais de 50% da população é preta. Incluindo que esse padrão fez com que negros e negras quisessem desassociar sua própria imagem, alisando seus cabelos e fazendo procedimentos estéticos para terem menos traços negroides, como cabelos cacheados e crespos e lábios cheios. Atualmente, o mais surpreendente é notar que esses mesmos traços pretos, que não eram ao menos aceito em seus corpos negros, são usados por brancos e são elogiados, mas quando colocados em alguém de pele escura é marginalizado e não aceito na sociedade.

“É isso. Mas não é só isso. Poder ser vista como branca, ou melhor, como não negra, me permitiu oportunidades que provavelmente eu não teria se tivesse a pele mais escura, como ocupar um cargo de coordenação em um colégio europeu, de elite, onde um dia precisei argumentar fervorosamente que era uma mulher negra e que essa era uma afirmação importante. Mas, não se pode perder de vista que na cidade onde vivo, São Paulo, empregos subalternos, o trabalho doméstico, os presídios têm a minha cor de pele” fala de Leila Gonzalez para Revista Cult. Ou seja, as identidades “pardas” e pretas possuem números extremamente altos nas taxas de desemprego, letalidade, baixa renda e violência, criando um abismo quanto a pessoas brancas, porém precisamos reconhecer, que os não-retintos tem uma possibilidade mais ampla em ocupar locais visíveis e vantagens por ter a “tolerância” de se distanciarem da identificação negra e marginalizada, mas esse preconceito velado, acaba virando rivalidade entre as pessoas negras de pele clara e as de pele escura, o sentimento de injustiça que pode intensificar a falsa ideia de que as pessoas de pele clara não seriam negras, porque têm acesso a muitas oportunidades. Temos que ter consciência que muitos pretos não sabem a respeito da sua ancestralidade porque a miscigenaçao veio do estupro, sendo totalmente forçado, o que acaba dificultando mais na sua autoidentificação.

Referências:

https://www.folhape.com.br/cultura/entenda-o-que-e-colorismo-e-por-que-ele-voltou-a-ser-discutido-pela/155942/

https://www.cartacapital.com.br/entrevistas/o-colorismo-e-o-braco-articulado-do-racismo/

https://www.geledes.org.br/colorismo-o-que-e-como-funciona/

https://drive.google.com/file/d/158H8h6vcgZJJ7zClFRtQrAIyjiQzKh4p/view

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