Misoginia no continente africano

E como isso afeta todas as mulheres africanas

Adriane Palmeira
Sementes Coletivas
3 min readJun 16, 2021

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Ser mulher é um desafio permanente em nossas sociedades, mas nascer mulher no continente africano é ainda mais complexo, ela sofre diversos tipos de restrição, são prisioneiras de seus próprios corpos, que são policiados por uma sociedade patriarcal. A violência e o controle sobre as mulheres brancas, negras, africanas, nunca foi igual, até porque elas foram inseridas no jogo político, econômico, social, cultural, psíquico e religioso dos homens e do poder com diferentes humanidades, valores e concepções sobre si e seus corpos.

Na África do Sul uma mulher é assassinada a cada três horas e, pesquisas feitas recentemente mostram que 50 mil mulheres denunciaram terem sido estupradas. Um estudo mostra que apenas 1 em cada 13 vítimas de estupro sul africanas chegam a denunciar o crime, então multiplique 50 mil por 13 e pasme com as 650 mil vítimas por ano que irá obter. Segundo a Rape Crisis: nos últimos 10 anos, de 25 homens acusados de estupro no país, 24 sairam livres de punição; dois terços dos estrupadores confessaram terem abusado das mulheres porque acreditavam que era seu direito, 62% dos meninos com mais de 11 anos acreditam que forçar alguém a fazer sexo não é um ato de violência machista.

Em agosto de 2020, a ONU repudiou um projeto de lei na Somália que pretende legalizar o casamento infantil. Uma análise da própria organização, entre 2005–2019, mostrou que o país africano possuía mais de 45% da sua população feminina casada ou em uma “união estável” antes de completarem 18 anos.

Você sabe o que é mutilação genital? É um corte que pode ser feito, arrancando parte do clitóris, dos lábios vaginais, ou então costurando parte do órgão deixando apenas uma parte para urina e sangue menstrual. Em alguns locais ele é feito por médico, parteira ou pessoas consideradas profissionais para realizar a mutilação. Segundo o relatório “Estado da População Mundial 2020”, elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), 75% das meninas gambianas entre 15 a 19 anos foram submetidas a algum tipo de mutilação, enquanto na Somália, no oriente da África, esse procedimento atingiu 97% das meninas somalis.

Você já ouviu falar sobre ‘’Breast ironing”? É uma prática para atrofiar os seios de mulheres , um método ainda realizado em países africanos que consiste em utilizar objetos contra os seios para que as mulheres “despertem menos desejos”, o número de meninas que foram submetidas ao breast ironing é estimado em um em três (cerca de 1,3 milhão).

Além de que as mulheres são os motores das economias africanas, no entanto, em cada curva, a importância das suas contribuições é minimizada e colocam-se obstáculos às suas ambições, por exemplo, elas recebem apenas 10% do crédito concedido aos pequenos agricultores e menos de 1% do total de empréstimos agrícolas, sendo responsáveis pela produção de 80% da comida do continente.

No processo de descolonização, foi deixado um rastro de destruição massiva em todos os aspectos da sociedade, juntamente com uma identidade confusa, adulterada e aculturada, tanto nos africanos que ficaram, como nos que partiram. Herdaram-se lutas infindáveis com necessidades emergentes e a luta pela igualdade de gênero nunca foi, infelizmente e compreensivelmente, uma delas, pois tiveram que lutar pela sua sobrevivência.

Referências:

https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2019/05/breast-ironing-uma-pratica-para-atrofiar-os-seios-de-mulheres.html

https://ponte.org/a-luta-contra-a-mutilacao-genital-e-o-casamento-infantil-naafrica/#:~:text=Em%20agosto%20de%202020%20a,antes%20de%20completarem%2018%20anos

https://www.google.com.br/amp/s/azmina.com.br/reportagens/na-africa-do-sul-as-mulheres-sao-prisioneiras-do-proprio-corpo/amp/

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