O mito da mulher como origem do mal

Vitória Frederico
Sementes Coletivas
Published in
4 min readJan 9, 2023

A mulher muitas vezes é retratada por lentes negativas nos livros e histórias, diminuindo a sua autonomia como um ser, em prol da manutenção do status masculino enquanto “ser detentor de todo o conhecimento”.

Dessa forma, são criadas estratégias de culpabilização, construídas culturalmente desde os tempos antigos e que se mantêm presentes em forma de ódio contra a mulher — traçando limites que não podemos cruzar.

Segundo a mitologia grega e a cultura patriarcal instaurada em nossa sociedade, a mulher nunca conseguiu atingir sua plenitude, muito menos liberdade e em todos os âmbitos (físico, mental, emocional, social, profissional, entre outros).

Esse conceito místico e cultural, então, que nos permeia até o presente, nos traz uma sensação de peso e culpa sobre algo que nunca fizemos. Isso é expressado em várias histórias conhecidas, até mesmo quando se fala sobre os desastres causados pela “Mãe Natureza”.

Eva

Eva foi a responsável pelo pecado original na Escritura Sagrada — sendo a primeira a ceder ao mal e ainda responsável por levar o homem pelo mesmo caminho. Por seu erro, a humanidade foi contaminada pelo pecado.

Se Eva não tivesse escutado a serpente (em algumas histórias vista como Lilith, a primeira mulher), Adão não teria sido condenado ao castigo de precisar trabalhar na terra por toda a vida a fim de conseguir alimento, e Eva amaldiçoada com as dores do parto e o desejo de estar sempre ao lado do marido, que a dominaria eternamente.

Enquanto o castigo do homem o dignifica, afinal, o que é mais bonito e respeitado do que um homem trabalhador? O castigo da mulher traz dor e sofrimento constante.

Pandora

Pandora abriu a caixa e todo tipo de mal se espalhou pela humanidade. A miséria, a guerra, a discórdia, a doença e a inveja, as piores coisas do mundo saíram da caixa devido a sua curiosidade.

Mais um limite traçado para as mulheres: cuidado com a curiosidade. Não pergunte demais, não estude demais, não se meta onde homens predominam.

Sereias

Na maioria dos mitos, sereias são seres belíssimos que se utilizam da sedução e do cantar para atrair marinheiros para o fundo do mar. Uma vez que os capturam em tais armadilhas, elas se transformam em monstros horríveis prontos para matar ou afogar os homens.

E quem não se lembra da famosa história da Pequena Sereia?

“Mas se me tira a minha voz, disse a Pequena Sereia, “o que me sobrará?”

“Sua linda figura”, disse a bruxa, “seus movimentos graciosos e seus olhos expressivos.

Com eles pode encantar facilmente um coração humano… Bem onde está sua coragem?” (ANDERSEN,2010, p. 233).

Bruxas

São caracterizadas em todos os lugares como seres grotescos, por irem contra a ideia de feminilidade. Nas histórias e na vida real, mulheres que eram acusadas de praticar magia eram condenadas e mortas.

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Um homem, por outro lado, era visto como feiticeiro, alquimista, ou simplesmente alguém que buscava respostas através de meios não tão convencionais.

As bruxas nada mais eram do que mulheres que de alguma forma haviam ferido as expectativas sociais, políticas ou religiosas, normalmente de classe social mais humilde.

Mulheres viúvas, com aparência vista como desagradável, com deficiência física, deformidades e idade avançada, ou então muito bela, mas que não correspondiam aos desejos de homens poderosos, poderiam ser denunciadas por praticar bruxaria ou então ter um pacto com o demônio.

Mula Sem Cabeça

Seria uma mulher amaldiçoada por manter relações com sacerdotes. Transformada em um cavalo com chamas saindo do pescoço, essa alma condenada corre pela noite em busca de vítimas nas estradas desertas. Trazida ao Brasil pelos portugueses, a lenda religiosa condenava mulheres pela prática sexual antes do casamento, sobretudo com membros da Igreja.

Nos contos e histórias antigas, caraterísticas atribuídas ao sexo feminino são relacionadas ao desastre e caos. A mulher acaba sendo condenada e culpada de uma maneira ou de outra. Um exemplo disso são as mulheres vítimas de estupro no Afeganistão, que apesar disso são punidas por cometer sexo fora do casamento.

Muitos desses mitos ainda se fazem presentes no nosso dia a dia: no ódio contra mulheres, na culpa, na exigência da aparência, de comportamentos e de subserviência aos homens. As histórias citadas podem ser mitos, mas a misoginia não é.

BIBLIOGRAFIA

BATISTA, Rafaela; OLIVEIRA, Ana; GROKORRISKI, Ricardo. A influência do mito: A mulher como origem do mal na sociedade ocidental.. XV JORNADA CIENTÍFICA DOS CAMPOS GERAIS , Ponta Grossa, p. 1–3, 27 out. 2017.

https://www.queridoclassico.com/2022/08/a-origem-do-mal-relacionada-a-mulher.html

https://www.infoescola.com/historia/caca-as-bruxas/

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