SETEMBRO AMARELO: A LOUCURA FEMININA A PARTIR DA SOCIALIZAÇÃO
A histeria feminina é um exemplo histórico de como a “loucura feminina” foi moldada pela socialização de gênero. No século XIX, a histeria foi considerada uma condição exclusiva das mulheres, frequentemente associada à repressão sexual e à inadequação do papel social. A obra “A Criação do Patriarcado” de Gerda Lerner ajuda a compreender como a subjugação das mulheres está profundamente enraizada na história e na cultura.
Socialização Feminina e Expectativas de Gênero
Desde a infância, somos ensinadas a internalizar normas e expectativas de gênero que moldam nossa identidade e comportamento. Essas pressões sociais podem contribuir para a manifestação de transtornos mentais.
As normas de comportamento feminino incluem ênfase na empatia, delicadeza, conformidade e constante alegria. Quando as mulheres não atendem a essas normas, podem enfrentar julgamento social, o que pode levar a sentimentos de inadequação.
“O sexismo internalizado e as pressões sociais para atender a padrões de beleza irreais podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos alimentares em mulheres. A opressão de gênero desempenha um papel significativo na relação entre imagem corporal e saúde mental.” — Linda Smolak and J. Kevin Thompson, “Body Image, Eating Disorders, and Obesity in Youth: Assessment, Prevention, and Treatment”
Um dos primeiros ensinamentos a uma garota é que devemos ser cuidadoras da família e vigilantes constantes do bem estar do outro. Isso inclui cuidar dos filhos, do parceiro, dos pais idosos e, em algumas culturas, até mesmo de membros estendidos da família.
O papel de cuidadora pode resultar em uma carga desproporcional de trabalho doméstico e de cuidados. Muitas mulheres enfrentam a pressão de equilibrar empregos remunerados com as responsabilidades de cuidar da família. Isso pode levar à exaustão física e emocional. Um Burnout. E assim, sobra cada vez menos tempo para sua vida pessoal, social, aumentando sentimentos de solidão e isolamento social. Depressão.
O medo de “não dar conta” de cumprir o nosso papel — designado por eles — causa pânico e sensação de não pertencimento. O medo de sermos rotuladas como emocionalmente instáveis torna o nosso sofrimento silencioso.
“A histeria, que é mais comum em mulheres, tem sido historicamente vista como um distúrbio psicológico relacionado à opressão de gênero. As mulheres foram muitas vezes desencorajadas a expressar suas necessidades e desejos, o que pode resultar na conversão de angústia emocional em sintomas físicos.” — Rachel Reiland, “Get Me Out of Here: My Recovery from Borderline Personality Disorder”
Transtorno de Personalidade Borderline
Embora o TPB seja uma condição de saúde mental que afeta pessoas de ambos sexos, as discussões feministas destacam como as mulheres podem ser especialmente vulneráveis a esse transtorno devido às normas de gênero e às experiências de opressão que enfrentam.
As mulheres muitas vezes são socializadas para suprimir suas próprias necessidades e desejos, concentrando-se no bem-estar dos outros. Isso pode criar um vazio emocional e uma sensação de instabilidade, que são características do TPB.” — Susie Orbach, “The Impossibility of Sex”
“A perseguição histórica de mulheres como ‘bruxas’ estava enraizada na ameaça que elas representavam às normas de gênero e à ordem social patriarcal. O rótulo de ‘histéricas’ muitas vezes era aplicado a mulheres que desafiavam essas normas.” — Sylvia Federici, “Calibã e a Bruxa”
Conclusão
Transtornos mentais estão fortemente ligados a alienção de grupos oprimidos. Isso me leva a questionar a demanda de mulheres lésbicas que foram diagnosticadas com TPB. Um grupo socialmente reprimido, lidando com o abandono, negligência constante e a internalização do ódio. Como ter relações que não beiram ao extremo com essa vivência? Como lidar com a raiva constante se o que foi me ensinado é, sequer, sentir raiva?
“As mulheres são frequentemente vistas como objetos de uso, desvalorizadas e subjugadas na sociedade. Essa desvalorização contínua pode contribuir para o sofrimento psicológico e emocional que algumas mulheres experimentam.” Andrea Dworkin.
A socialização como mulher dentro de uma sociedade predominantemente masculina não influencia apenas na questão de justiça social, mas também de saúde mental. À medida que continuamos a desafiar estereótipos de gênero, também estamos promovendo o bem-estar emocional e psicológico para as nossas.
Referências
Susie Orbach, “The Impossibility of Sex.”
Sylvia Federici, “Calibã e a Bruxa.”
Andrea Dworkin.
Gerda Lerner, “A Criação do Patriarcado.”
Linda Smolak e J. Kevin Thompson, “Body Image, Eating Disorders, and Obesity in Youth: Assessment, Prevention, and Treatment.”
Rachel Reiland, “Get Me Out of Here: My Recovery from Borderline Personality Disorder.”