O renascer de um amor

Lucas Spricigo
sentimentalizador
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5 min readJan 3, 2019
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Era algum momento do primeiro semestre de 2013 e ela entrara pela porta da minha sala como uma aluna nova. Jeans, roupa escura e um tom gótico que enchia a sala de olhares. Muitas pessoas a conheciam, mas eu não. Chegou acompanhada de amigos e amigas enquanto eu trocava meu lugar na sala de aula, trocava meu grupo de amigos primários naquela turma.

Por destino, ela se sentou próximo e fato é que era colega de longa data das pessoas que faziam parte do meu grupo. Aos poucos e por tabela nasceria uma amizade entre nós, mas nunca pareceu ser apenas isso.

No auge dos meus 16 anos, eu presenciara um grupo de pessoas que não passava um momento se quer sem falar de relacionamentos, mas eu de pouco vivia, não possuía experiências para compartilhar. Algo eu deveria fazer para me enturmar.

Eu sempre banquei o terapeuta da escola, dava bons conselhos e sempre ganhava agradecimentos pois resultados apareciam. Talvez tenha sido essa aura psicológica que me levou à Psicologia anos depois.

Por sorte em 2013 ela vivia um romance não correspondido e diversas vezes falara o quanto tal pessoa era impactante em sua vida, mas nossas conversas se prendiam incialmente a besteiras de adolescentes e desabafos nefastos. Eu queria conversar mais, queria passar mais tempo por perto. Eu queria mais.

Ao mesmo tempo que via que ela merecia mais. Merecia reciprocidade no sentimento, merecia uma troca de paixões e uma pessoa que a correspondesse dessa forma.

Eu deveria criar algo para que pudéssemos criar um vínculo ainda mais íntimo, então criei um dos meus maiores relacionamentos, um que nunca aconteceu, e levei a questão a ela. Hoje pode parecer que eu menti, mas eu prefiro ver como uma criação teatral, uma ficção.

Eu sempre fui uma pessoa que preferia um amor amigo do que um amor desconhecido. Preferia antes criar uma amizade e evoluir a relação do que conhecer com intuito de relação. Nessa projeção de relacionamento eu acabei por vezes errando e nunca dava certo por conta de inúmeros motivos. A friendzone atacava subitamente por diversas vezes, mas eu nunca desisti. Eu sempre queria mais.

Pouco tempo depois, quando me vi deveras envolvido com aquela moça magra e branquinha que ocupava da melhor forma o horário de intervalo, eu quis falar, eu quis deixar meu sentimento se rebelar, mas eu não consegui. Era uma mistura de “momento maduro”, por ter errado tanto e “já estar no terceirão”, ou querer um algo a mais.

Assim como aqueles 15 minutos de intervalo que passavam voando, as aulas acabaram e não teríamos mais o mesmo contato. Era o fim daquele 2013 e ela nunca soube o que eu senti.

Porém, uma forte amizade se mantinha e, não é novidade que ela viria a ser uma das poucas, se não a única pessoa da escola que ficou perto da minha vida nos anos seguintes.

Aquele sentimento não passou nos anos iniciais, mas cada um seguiu um caminho na vida e acabamos por se distanciar em relação àquela amizade que tínhamos. Eu vivi outras coisas, outros sentimentos que nunca deram certo, vivi outros episódios que me mostraram caminhos interessantes, mas também nunca se concluíram. Idas e vindas que eu confiava em segredo a ela.

Assim como na escola, de alguma forma tínhamos que contar um para o outro o que estava acontecendo, o que sentíamos por outras pessoas e o que fizemos em determinado episódio de nossas vidas.

O sentindo que havia vivenciado em 2013 foi sufocado por outros episódios, eu perderia a essência daquilo que senti.

Confesso que era um tanto quanto estranho o tanto de “arrogância” que ela começara a tratar minhas histórias uns dois anos depois. Era muito dura, direta e parecia que de alguma forma sempre optara pela ideia pior para minhas pseudo paixonites. Eu nunca entendi direito.

Nossa amizade se diferenciou e voltou a ficar forte nessa época. Brincávamos um com o outro sobre assuntos sérios e por vezes algum assunto caia no estranhamento, pelo menos de minha parte. Porém, a minha visão de que tudo parecia mal-entendido, nunca deixou com que o assunto ganhasse maior projeção entre nós.

O ano de 2018 trouxe mais paixões sem sentido e escolhas erradas em minha vida. Enquanto ela permanecia lá, sempre me falando do quão erradas também eram suas escolhas.

De alguma forma nós erámos semelhantes neste sentido. Nenhum dos dois dava certo com relacionamentos duradouros ou mesmo recebia a tão quista reciprocidade.

O ano ganhou meses, o tempo foi se passando enquanto aquele estranhamento se aumentara gradativamente com o decorrer das conversas. Às vezes parecia que ela queria chamar minha atenção, mas me negava a acreditar que algo ela queria.

A rotina extenuante me fazia negar vários convites para sair. Porém, lembro-me bem da vez em que saímos para nos ver e contei sobre duas situações que vivia, dois possíveis relacionamentos que brotavam. Dessa vez as falas ásperas tomaram conta do encontro e eu não conseguia entender o motivo.

Noutros encontros me negou até abraços e fazia com que eu entendesse cada vez menos e me perguntasse cada vez mais o que passava por sua cabeça.

Me indicava de várias formas que algo queria. Eu confesso que não tenho certeza se via e fazia que não entendia. Realmente eu tinha receios de entender a história errada e acabar alavancando um assunto que não daria certo. Mas eu também tentei por vezes mostrar que se ela estivesse sentido algo, estaria disposto a voltar a sentir.

Com quase 5 meses de namoro, ainda não conseguimos uma foto bonitinha

Depois de muito insitência para que ela falasse, revelou que na verdade havia criado um sentimento sem igual. Há meses sentia que deveríamos ter aquilo que eu sempre quis, o meu desejo de há quase cinco anos poderia dar certo agora, mas eu ainda tinha dúvidas sobre.

Não sabia se seria capaz de resgatar a paixão que havia sentido, mas sabia que ambos tínhamos madurez e tempo de erro o bastante para fazer dar certo.

Confesso que o primeiro encontro com objetivos novos foi estranho. Na frente da mesma escola que nos conhecemos, porém, a estranheza não durou muito e logo um beijo atrapalhado ganhou nossas bocas, ao mesmo tempo que um sorriso sem igual se apresentava intercalando.

As dúvidas logo se findaram. A paixão pisoteada e sufocada por outros tempos e outro estilo de vida renasceu, e em poucos dias eu já entendia que havia cometido o primeiro acerto, após anos de erros. O amor havia renascido em cinco anos de história.

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Lucas Spricigo
sentimentalizador

Estudante de Psicologia e jornalista por tabela. Vê sentimento em tudo e exterioriza em histórias.