Mulheres no Esporte: a busca por equidade de gênero

Mariana Rosa
#SerEsporte
Published in
4 min readJun 24, 2019

No Brasil, acreditava-se que esporte não era coisa de mulher, uma prova dessa afirmação é que durante a Era Getúlio Vargas, no Brasil, foi implantado o Artigo 54 no Decreto-Lei 3199 onde constava que “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país.” Com isso, as mulheres não poderiam praticar esportes como futebol ou lutas de qualquer espécie. Esse decreto foi revogado apenas em 1983.

Ao longo dos anos, é notável tamanho avanço em relação à presença feminina no esporte, porém alcançar a igualdade e extinguir o machismo ainda parece um sonho distante. De acordo com o estudo Beyond 30%: Workplace Culture in Sport, cerca de 40% das mulheres que praticam esportes sofrem preconceito ou discriminação dentro do mesmo.

Representatividade feminina no futebol

Recentemente, a jogadora da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, Marta, entrou em campo usando uma chuteira estampada com a bandeira da igualdade de gênero, criado pela GoEqual — uma campanha que luta pela equidade de gênero — , ao invés de um símbolo de algum patrocínio. E foi com essa chuteira que Marta se tornou a maior artilheira em copas do mundo, empatada com o alemão Klose, os dois com 16 gols cada.

Marta, tem 33 anos, é a camisa 10 da seleção. Ela começou sua carreira jogando em torneios como titular de um time masculino. Aos 14 anos foi considerada a melhor jogadora do campeonato brasileiro sub-17. Aos 16 anos jogava na categoria sub-19 e no time titular da seleção brasileira. Em 2004 assinou contrato com um time sueco e em 4 anos fez 111 gols. Foi eleita 6 vezes a melhor jogadora do mundo. Em 2018, Marta foi escolhida como embaixadora da ONU. Marta superou a marca de Pelé e é atualmente a maior artilheira da Seleção Brasileira de Futebol em ambos gêneros.

Em um dos jogos da seleção, Marta, emocionada, deu a seguinte declaração para uma emissora de TV

“Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta, uma Cristiane. O futebol feminino depende de vocês para sobreviver. Pensem nisso, valorizem mais. Chorem no começo para sorrir no fim!”

O futebol sempre foi uma modalidade mais direcionada aos homens, mas mesmo com os obstáculos impostos, o futebol feminino vem crescendo e se mostrando fundamental no que se trata de empoderamento das mulheres.

Julia Daltoé, 17 anos, jogadora do Sport Club Internacional, começou em uma escolinha com os meninos na cidade de Encantado. O primeiro teste ocorreu, no entanto, na Chapecoense, em Santa Catarina.

foto: arquivo pessoal

“Minha maior dificuldade foi ter saído de casa com 12 anos para morar em Chapecó, para viver disso, estar ali 24 horas para jogar futebol e, claro, estudar também”, comenta. Ela conta que agora consegue sobreviver tendo o futebol como profissão.

Julia disse que já sofreu preconceito por ser mulher e que já ouviu frases como “lugar de mulher é lavando a louça e passando pano na casa”, principalmente nas escolinhas onde iniciou sua jornada.

Questionada sobre as inspirações, a atleta do Inter responde: “Tenho várias inspirações dentro do esporte, Cristiano Ronaldo, Formiga, Marta, mas quem me inspira mesmo são meus pais”, salienta.

foto: arquivo pessoal

O esporte pode também estar relacionado a busca por autodefesa. É comum que mulheres procurem lutas por conta da violência urbana, o público feminino busca técnicas de autodefesa quase que como uma forma de preservação da própria vida.

Amanda Monzo, de 46 anos e lutadora de Jiu Jitsu há 19 anos, relata que sua relação com o esporte começou por mediação de uma amiga, que a convidou para ingressar no tatame, mas que ela só se aprofundou no esporte quando passou por uma tentativa de estupro em uma parada de ônibus em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, próximo ao local onde trabalhava.

A lutadora diz que possui flashs de momentos que acordou por segundos e sentiu-se sendo arrastada para um terreno baldio. Ela que possuía uma pequena noção de judô, já que seu irmão praticava, levantou-se e conseguiu empurrá-lo, chutou os órgãos genitais do agressor e conseguiu fugir.

Algum tempo após a violência sofrida, Amanda foi apresentada a algumas técnicas de Jiu Jitsu por meio de uma amiga e percebeu que se começasse a praticar ficaria mais confiante. Com o incentivo da amiga para começar a praticar o esporte, ela acabou dando início às aulas e hoje é professora da categoria.

--

--