O esporte para PCDs: investimento público e espaço para inclusão

Gabriela Couto
#SerEsporte
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4 min readJun 20, 2019

Uma rápida busca na internet sobre esportes no Brasil nos leva a um mar de notícias relacionadas ao futebol e suas estrelas. No entanto, existe o outro lado do mundo dos esportes pouco comentado: aqueles praticados por pessoas com algum tipo de deficiência física ou neurológica. No Rio Grande do Sul, há pouco investimento na área por parte do governo, principalmente em cidades do interior, como Camaquã, no sul do estado.

De acordo com o Censo IBGE 2010, o Brasil tem 45.606.048 pessoas com deficiência, o que equivale a 23,9% da população do país. Destas, 18,60% são pessoas com deficiência visual; 7% com deficiência motora; 5,10% com deficiência auditiva; 1,40% com deficiência mental. A prática de exercícios físicos regulares é fundamental para o bom funcionamento físico e mental do ser humano. Para PCDs, esse hábito pode auxiliar no desenvolvimento e melhora de diversos sintomas, oferecendo saúde e qualidade de vida.

Fachada APAE Camaquã/RS — Foto: Iury Rodrigues.

Por esse motivo, é fundamental o investimento do Estado em espaços para inclusão e acessibilidade nos esportes para pessoas com deficiência. Segundo Graziela Grala, diretora da APAE, em Camaquã, há dificuldades financeiras em atender todos os alunos da instituição, mesmo que haja investimento municipal e estadual, os custos são altos em relação ao que é arrecadado.

A APAE Camaquã tem cerca de 200 alunos, além de outras 60 pessoas que vêm em turno inverso para atendimento clínico. Os tipos de deficiência que a APAE atende são: deficiência intelectual, autismo e paralisia cerebral. Graziela conta que são oferecidas as modalidades esportivas de natação, bocha adaptada, dança, futsal e educação física. Cada dia da semana são oferecidos esses esportes para todos os alunos em suas respectivas turmas. As atividades são realizadas por diferentes professores e cada um trabalha uma área diferente.

Mais do que atividades específicas para cada deficiência, é necessário um cuidado com o ambiente adaptado, amplo e com objetos diversificados para cada prática esportiva. No geral, são utilizados os mesmos instrumentos que são utilizados para qualquer pessoa. O que se adapta é a prática, ou seja, a maneira de executar o exercício de cada um. No entanto, os investimentos podem variar conforme a necessidade de cada deficiente: para os visuais, é necessário material tátil e com sonoridade; para os físicos, são necessários tatames, colchonetes e o uso da própria cadeira de rodas.

Segundo a diretora Graziela, “o investimento para esta área deveria ser maior, sim, pois quando uma pessoa tem deficiência e necessita de material adaptado, geralmente o mesmo é muito caro e o que acontece é que os professores acabam confeccionando com recursos próprios e escassos estes materiais. Na APAE temos terapeuta ocupacional o que nos ajuda muito quanto às adaptações”, conta.

Aluno da APAE jogando handebol na Arena LVD, parceira da APAE Camaquã. Foto: Iury Rodrigues.

Ainda segundo a diretora, os investimentos são mais baixos em cidades do interior, pois há menos projetos nessas regiões. Viviane Brionderlin, estudante de educação física e atleta de judô competitivo, professora de judô e treinamento funcional, conta que as aulas, mesmo oferecidas no Centro Estadual de Treinamento do Estado (CETE), em Porto Alegre, e patrocinadas por uma empresa privada, gerando renda para compra de equipamentos e pagamento dos treinadores.

Diferentemente dos esportes oferecidos no interior do estado e sustentado pelo governo, há maior facilidade na condução das aulas, decorrente da quantidade maior de professores e treinadores e da qualidade e quantidade de equipamentos. Nas aulas de judô, ministradas por Viviane, os exercícios são praticados com igualdade, não diferenciando dos demais que não têm deficiência, porém com uma cautela maior a fim de evitar lesões. As aulas ocorrem todas as segundas-feiras, no CETE, e além do professor da modalidade esportiva, há outros treinadores monitorando o andamento das aulas e evitando a saída dos alunos do espaço adaptado.

Centro Estadual de Treinamento Esportivo — Foto: Secretaria do Turismo, Esporte e Lazer

O CETE possui uma casa específica para treinamento de lutas marciais como boxe, karatê, judô, hapkido, ioga e ginástica. Além disso, conta com pista de corrida, caminhada e salto à distância, um campo de futebol, dois ginásios (um deles com quadra de voleibol e handebol), estacionamento, parque para lazer e pista de atletismo com piso profissional, contendo oito raias numeradas.

As diferenças dos investimentos públicos e privados, além da demanda de PCDs no interior do estado e na capital, em Porto Alegre nos traz a realidade dos espaços de inclusão no Rio Grande do Sul. Mesmo com um alto índice de pessoas com deficiência e a importância do esporte para esses indivíduos, não há uma preocupação em relação aos parlamentares na criação de projetos específicos no âmbito.

Mesmo o número de alunos de Viviane sendo menor que da APAE, em Camaquã, é grande a diferença entre os recursos associados a cada uma dessas instituições. Há a necessidade em projetos relacionados a espaços acessíveis de forma a facilitar a prática de esporte para pessoas com deficiência no estado, responsabilidade dos parlamentares e das secretarias de governo.

“Com certeza o repasse de verbas na área de esportes acessíveis não acontece nas cidades devido à falta de projetos adequados para esse público. Se houvesse mais leis e mais pessoas capacitadas a escrever e executá-las para pessoas com deficiência, com certeza nossa cidade receberia bons investimentos.” conclui Graziela.

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