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🔹 Boletim Ser Linguagem #004

Destaque: Uma homenagem às professoras Edilene Ribeiro, Ingedore Koch e Liduína Fernandes

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Desde o começo do ano, o #SerLinguagem está com várias frentes de produção e curadoria de conteúdo. Uma delas, é uma newsletter mensal (ou quinzenal, quando dá) com notícias, pesquisas e divulgações da área de Linguística e Literatura. Para dar mais circulação às edições do Boletim Ser Linguagem, começarei a disponibilizá-las aqui no blog. Quer assinar o boletim e receber ele por e-mail na hora que ele é liberado?

O ano de 2018 já decidiu: não pretende ser um ano fácil para a área de Linguística e Literatura. Na introdução de nosso boletim passado, o de abril, rememoramos um pouco das trajetórias de três professores da área que partiram naquele mês. No boletim de maio/junho, não posso começar nossa conversa de outra forma que não homenageando as professoras Edilene Ribeiro Batista (30 de abril), Ingedore Villaça Koch (15 de maio) e Liduína Maria Vieira Fernandes (25 de maio). Embora o luto vá se acalmando, a falta ainda dói, na mesma medida em que vamos visitando nossas lembranças relacionadas às professoras à luz do afeto que elas conquistaram. A seguir, um pouco de seus trajetos.

A Prof.ª Edilene Ribeiro Batista estava associada ao Curso de Letras, ao Departamento de Literatura e ao Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Ceará (UFC). À frente do Grupo de Estudo e Pesquisa “Outras Vozes: Gênero e Literatura”, investigava questões em torno da autoria e figuração femininas e seus desdobramentos. Ultimamente, trabalhava com escritoras brasileiras do período colonial, em um gesto de revisão e indagação do cânone. Em nota, alunas e alunos da Pós-graduação em Letras destacaram que “como intelectual e crítica literária, Edilene colocou seu trabalho e pensamento a serviço de demandas inadiáveis para o cenário contemporâneo, na medida em que não se furtava a debater o lugar da mulher na literatura, as contribuições da teoria crítica feminista para seu campo de estudo e, sobretudo, as interdições a que as mulheres estão/estiveram historicamente submetidas. Como figura humana, deixou o exemplo da amizade e da generosidade”.

Arrisco dizer que toda e todo estudante de Letras já leu algo escrito pela Prof.ª Ingedore Grünfeld Villaça Koch, um dos nomes mais respeitados na área da Linguística brasileira. Nascida alemã, mudou-se para o Brasil ainda criança, onde se formou em Direito (1956) e em Letras (1974). Realizou mestrado e doutorado em Língua Portuguesa pela PUC-SP, onde lecionou por dez anos (1976–1986), tendo ingressado em seguida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Lecionou em Campinas por quase 30 anos e lá implementou a área de Linguística Textual no Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. “Professora Inge foi muito importante para o avanço da Linguística no Brasil, especialmente em relação à Linguística Textual. Suas obras são um legado fundamental para os estudos da área”, afirma a profa. Mercedes Fatima de Canha Crescitelli (Pós Língua Portuguesa), ao Jornal da PUC-SP.

A Prof.ª Liduína Maria Vieira Fernandes lecionava no Curso de Letras da Faculdade Dom Aureliano Matos (Fafidam), unidade acadêmica da Universidade Estadual do Ceará (UECE) em Limoeiro do Norte (CE). Na UECE, começou a cursar Filosofia em 1985 e, em 1998, ingressou como docente.”Recordo-me dela assim que voltei de Minas, numa banca, há tantos anos… Depois, nunca mais a vi. Porém, por onde eu passava, não faltavam referências e citações positivas: muitos a conheceram e todos que a conheceram a admiravam profundamente”, publicou a professora Sarah Forte (UECE), em homenagem à professora Lindu.

Que se diga: no dia 22 de maio, o premiado escritor Philip Roth também partiu. Autor de mais de 30 livros e considerado ícone da Literatura estadunidense do Século XX, “é dono de um estilo realista, direto e irônico. Parte da sua obra explora a natureza do desejo sexual e a autocompreensão”. Por questões de espaço, optei por não dedicar um parágrafo à trajetória do escritor, indicando, assim, uma excelente matéria publicada pelo Huffpost em memória de Roth: clique aqui para lê-la.

Fica a homenagem do Blog Ser Linguagem às professoras e ao escritor, gesto que, certamente, deverá ser repetido ao longo de 2018 em nossa área (como essa, feita pelo Sidney Morning Herald, ao professor Michael Halliday).

Vamos às pautas desta edição e, se você gostar, não deixe de compartilhar! \o/

“A black-and-white shot of a person working with a MacBook on their lap” by Sergey Zolkin on Unsplash

NOTÍCIAS

Falta linguista na discussão sobre neutralidade de gênero na língua, mas já existe cientista da linguagem no estudo de língua

A língua(gem) como disputa política tem sido um campo de batalhas cada vez mais notável com a polarização que impera no Brasil com mais força desde 2013. Presidenta ou presidente? Todas e todos, só todos, todes, tod@s, todxs ou todos/as? Quando nossas palavras precisam ser neutras e quando a demarcação do gênero é fundamental para a disputa ideológica? Pela internet, mais lentamente do que o comum, discussões acerca de maneiras de neutralizar a língua têm surgido e, sempre que um método parece se estabilizar, surge uma nova problematização. Vide o caso do “x”, que usei (e talvez ainda use) por muito tempo (elxs, delxs, aquelxs, humanxs, queridxs), mas que abandonei frente ao risco de quebrar softwares de leitura para cegos.Quando tratamos de línguas latinas, assim, a trama de adensa, já que o binarismo está na essência de nossa etimologia. No meio dos textos que tenho lido sobre o tema, uma recorrência chama a atenção: tá difícil encontrar linguista engajade (engajad@, engajadx, engajado/a) na pauta. Dois dos textos que li e que compartilho com vocês são “Escrever com ‘x’ não é linguagem neutra” (QG Feminista) e “La lengua degenerada” (Sol Minoldo e Juan Crúz Bailan). O segundo é particularmente sensacional por trazer várias pesquisas que demonstram que a relação de gêneros na língua induz a construção de estereótipos de gênero e perpetua relações de hierarquia entre feminino e masculino. Vale a pena!

Por outro lado, se tá faltando linguista lá, não tá faltando aqui, no estudo de uma “Linguística Alien”. O principal propósito dos estudos desse campo (?) da Linguística, segundo a reportagem da Nature, é estarmos aptos para eventuais necessidades de comunicação interplanetária, bem ao estilo do filme “A Chegada” (aliás, recomendadíssimo).

New York Times ovaciona Machado de Assis

Foi lançado lá fora o “The Collected Stories of Machado de Assis”, que “revela o arco da carreira de Machado, desde as histórias de amor diretas até os trabalhos cerebrais e imprevisíveis posteriores”. Para a ocasião, Parul Seghal escreveu sobre o Bruxo do Cosme Velho no NYT, uma das publicações mais influentes da atualidade. O artigo é lotado de grandes elogios, a começar pelo título: Um mestre contador de história do Brasil do Século XIX, herdeiro dos grandes e inteiramente sui generis (tradução livre). Vale a pena dar uma lida, clicando aqui.

O Machado, teimoso e inclassificável, nasceu na pobreza, o neto mestiço dos escravos libertos. Ele não tinha educação ou treinamento formal; como Twain, seu contemporâneo, ele começou como aprendiz de impressor. Fora de um regime de auto-educação feroz, ele se estabeleceu, inicialmente como um escritor de romances esguios para e sobre as mulheres da elite dominante. Mas em 1879, seu estilo mudou — ou melhor, chegou. […] O romântico gentil floresceu em um ironista perverso.

Por falar em gringa, a BBC publicou uma lista de “100 livros que moldaram o mundo”. O Machadão, ao que parece, é o único brasileiro no rol.

Análise linguística mostra que companhias de óleo não estão nem aí para a mudança do clima

Sylvia Jaworska, da University of Reading (UK), publicou um artigo em que analisa relatórios emitidos por companhias de óleo e, em seus resultados, não só constatou que as companhias falam cada vez menos em “mudança climática”, como também percebeu que elas detestam a expressão “aquecimento global”. O estudo tem bem a cara de uma pesquisa de corpus e consistiu na análise textual da recorrência de palavras-chave em mais de 290 relatórios. É lindo ver a Linguística assim, né?! Aqui pra ler a matéria.

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