A ALEGRIA DA ADORAÇÃO

Filipe Schuambach Lopes
Serviço Divino
Published in
8 min readAug 29, 2022
Congregação Luterana do Sínodo Evangélico Luterano de Wisconsin (WELS)

Para muitas pessoas, o culto é algo muito sombrio, triste. Mas para o povo de Cristo, a adoração deve ser sempre alegre. Afinal, por meio da nossa adoração, respondemos a Deus cuja bondade se manisfesta em nossas vidas das mais diversas formas. Nossa liturgia reconhece a estreita conexão entre a adoração e alegria. Portanto, a liturgia soa como uma nota de alegria. Quando estivermos cientes disso, ela ajudará nossa adoração a ser um regozijo.

Na liturgia a alegria está ligada ao louvor. A liturgia é permeada de louvor. Toda liturgia é ação de graças a Deus pelo que Ele fez em Cristo. As ações de Deus para a salvação do homem são descritas, e os grandes eventos na relação Deus para com os homens são celebrados.

A liturgia nos apresenta o nascimento de nosso Senhor, seu ministério terreno, sua crucificação, sua ressurreição. O Gloria em Excelsis é uma lembrança da encarnação, do nascimento de Cristo. O Gloria vem como uma resposta ao Kyrie que transmite uma humilde confiança na misericórdia de Deus. Na confiança de que a misericórdia de Deus é nossa, nós nos unimos em um hino triunfante de louvor e ação de graças. Deus enviou seu Filho ao mundo, seu Filho nos salvou e agora está na glória, à direita de Deus, usando plenamente seu poder divino para o bem dos seus. Na leitura do Evangelho, nossa atenção está voltada para Cristo e para seu ministério. O próprio Cristo está falando conosco. Somos transportados de volta através dos anos para o Mar da Galileia, o Monte das Oliveiras, Jerusalém, Samaria. Agradecidos pelo privilégio de ouvir Cristo falar, cantamos uma breve resposta de louvor um pouco antes e depois do Evangelho. O Gradual, que segue a Epístola, é também uma ação de graças. A primeira parte do Gradual, que consiste de um versículo ou versículos do Salmo, e às vezes um versículo do Novo Testamento, olha para trás no pensamento da Epístola e geralmente expressa esse pensamento em louvor. A última parte do Gradual é o Aleluia. Aleluia é a forma grega da palavra hebraica que significa “Louvado sejas, ó Senhor”. O Gradual é assim a ponte que une os pensamentos dos apóstolos com as palavras de Cristo. O Nunc Dimittis, que segue a celebração da Santa Ceia, é nossa resposta de louvor às bênçãos que Deus nos deu no Sacramento do Altar. Quando vemos como a liturgia expressa o louvor de Deus nas obras de Deus e como nossa resposta é muitas vezes sob a forma de ação de graças, haverá alegria em nossa adoração. A ação de graças e o regozijo andam juntos. Não pode haver alegria sem gratidão. A pessoa que tem um coração agradecido também será uma pessoa que se alegra. As alegrias da adoração fluem do agradecimento.

Um aspecto da alegria da adoração é a celebração. A liturgia nos ajuda a fazer exatamente isso, celebrar. Há uma afinidade entre o que estamos fazendo em adoração e o que os crentes de todas as idades fizeram. As palavras do Salmo 122: “alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor” expressam a alegria de Davi em assistir aos cultos no templo de Jerusalém. As palavras do Salmo 136 estabeleceram a alegria nas conhecidas palavras de louvor: “Deem graças ao Senhor, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre”. As festas judaicas, especialmente a Festa dos Tabernáculos e da Páscoa, foram ocasiões de grande alegria para o povo judeu. Nossa liturgia, com suas frequentes citações dos Salmos, remonta à alegria dos crentes do Antigo Testamento.

Esta alegria também estava presente os crentes do Novo Testamento. As palavras de Paulo em Colossenses 3.16 indicam que também para eles a adoração foi celebração. “Que a palavra de Cristo habite ricamente em vocês. Instruam e aconselhem-se mutualmente em toda a sabedoria, louvando a Deus com salmos, hinos e cânticos espirituais, com gratidão e louvor”. Aqui estava a congregação dos redimidos juntando-se à alegria em torno da Palavra de Cristo e em nome de Cristo. Adoramos com os crentes de todos os tempos quando celebramos as grandes coisas que Deus fez por nós em Cristo.

Em nossa liturgia, pedimos a Deus que nos dê alegria. Não pedimos salvação, por que já possuímos isso. Pedimos alegria, e mais especificamente como no Ofertório, uma restauração da alegria. Essa alegria não é apenas algo sentimental. É uma questão de ser alegre e de agir com alegria. Essa alegria faz parte da vida de Cristo em nós. Tem a cruz e a ressurreição de Cristo em seu centro. É uma alegria em Cristo. O que estamos buscando então é uma visão mais completa do que significa ser cristão. O que queremos é a alegria de tudo isso, a alegria do perdão, da vitória, de matar o eu e de deixar Cristo viver em nós.

Esta é uma alegria que não se alimenta de um sucesso ou fracasso. É uma alegria que a dor superficial não pode matar, que a angústia interior não pode destruir. As correntes batalhas da vida não a pertubarão. Pense no Apóstolo Paulo. Não importa o que aconteceu com ele, apesar do que ele tinha sido, sua alegria não poderia ser abalada, pois ele permaneceu em Cristo. Isto não quer dizer que o cristão não terá nenhuma tristeza em sua vida. Longe disso. As circunstâncias exteriores podem muitas vezes testar a realidade de sua alegria, mas se é de fato uma alegria no Cristo crucificado e ressuscitado, as mudanças de nossa vida terrena não serão capazes de erradicá-la. Mesmo em tempos de doença e desemprego, fracasso de colheita e inflação, podemos mostrar a profunda alegria calma de Cristo. Desta forma, a alegria que nos foi restituída na igreja é levada à vida. Nossa alegria nunca se restringe ao culto.

Como esta alegria não é um sentimento, mas um modo de vida, ela é uma alegria libertadora. Quanto mais experimentarmos esta alegria, mais estaremos livres dos medos que nos inibem, e mais veremos que a adoração toma conta de toda a vida. A alegria se tornará a tônica não apenas de nossa adoração na igreja, mas de toda a nossa vida. Nossa vida se tornará. celebração, pois somos livres para nos regozijarmos sempre.

Meios da Alegria
Como esta alegria é um presente, assim como a salvação que faz parte dela, precisamos nos manter em contato com os meios através dos quais Deus concede este presente. Isso significa manter-nos próximos à Palavra e aos Sacramentos. A alegria do culto nos é transmitida de uma forma única através da Sagrada Comunhão.

Toda a liturgia da Santa Ceia é motivo de alegria. A palavra “Eucaristia”, uma palavra frequentemente usada para Comunhão, vem de uma palavra grega que significa louvor. Este louvor está ligado à alegria. No Sanctus nos unimos com anjos e arcanjos e com toda a igreja no céu e na terra para louvar o Deus triúno. O Sanctus inclui as palavras com as quais o povo de Jerusalém acolheu Jesus como seu Rei no primeiro Domingo de Ramos: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor”. “Hosana no alto est”. Usamos as mesmas palavras para acolher nosso Rei que vem até nós, não em um burro, mas ainda humildemente no pão e no vinho. Então, recebendo seu corpo um sangue, onde o próprio sacrifício de Deus completo é aplicado a nós pessoal e individualmente como um selo do perdão dos pecados. Não é de se admirar que haja alegria.

Congregação Luterana St. John, Wheaton, IL (LCMS)

A alegria na Santa Ceia é uma antecipação da alegria celestial quando seremos convidados privilegiados do Cordeiro de Deus. A Ceia do Senhor nos aponta para o momento em que nosso Senhor vai comer e beber com os seus no Reino de seu Pai. É por isso que os hinos da Comunhão, assim como a liturgia da Ceia, estão cheios de notas alegres, triunfantes onde há exaltação e doxologia. A liturgia da Ceia não é um lugar para lamentações. Não precisamos “ir” a ela vestida de preto. Aqui na terra já a glória do futuro reino está brilhando sobre o povo de Deus reunido.

A Santa Ceia nos traz alegria porque nos une àquele que é a fonte da alegria, o próprio Jesus. Aqui Cristo realiza a comunhão mais próxima entre ele mesmo e seu povo. Isto é pontuado pelas palavras ditas a cada comungante: “O Corpo de Cristo dado por vós, o Sangue de Cristo derramado por vós”. A Ceia do Senhor é o caminho que Cristo escolheu para estar com os seus de uma forma especialmente íntima. Ele não estará longe, mas nos assegura que estamos unidos a Ele em uma união que é maravilhosamente próxima. Aquele que disse: “tenho lhes dito estas coisas para que a minha alegria esteja com vocês, e a alegria de vocês esteja completa”. (João 15.11), está presente conosco e em nós. Unidos com aquele que é a fonte da alegria, é possível para nós termos alegria.

E não é simplesmente uma questão de conhecer a alegria por nós mesmos. Podemos nos regozijar junto com outros cristãos. Na Sagrada Comunhão Cristo nos une não somente a ele mesmo, mas a nossos irmãos em um alegre vínculo de fé. “Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão”. (1Co 10.17). Todos os que participam do pão sacramental também participam do Corpo de Cristo. Como Cristo não está dividido, todos os comungantes estão unidos em um corpo espiritual. A Ceia do Senhor é um meio de indicar nossa unidade espiritual em Cristo. Ao participar da Ceia do Senhor, confessamos nossa fé. A Ceia do Senhor também nos fortalece em nossa fé única. Isto é certamente motivo de alegria.

Congregação Luterana São João de Esteio, RS (IELB)

A Ceia do Senhor é mais necessária para nossa alegria do que o sermão? Cometemos um erro quando tentamos estimar o respectivo valor do sermão e do sacramento e os colocamos uns contra os outros. Ambos são importantes. Não há nenhuma ordem nas Escrituras para que a Ceia do Senhor seja celebrada todos os domingos. Quando Cristo disse, “muitas vezes”, ele quis dizer apenas que cada vez, sempre que participamos do Sacramento, o fazemos em memória dEle. A frequência da Ceia deve ser determinada por nossa necessidade. Deus escolheu se comunicar conosco principalmente através de palavras, e assim lemos e ouvimos a Sagrada Escritura. Mas como nossa fé é fraca e nossa carne é forte, Deus optou por usar também outros meios para nos fortalecer. Ele achou por bem tomar pão e vinho, consagrá-los para o uso celestial, com a promessa de que quando comermos e bebermos receberemos benefícios celestiais. Percebendo como precisamos fortalecer a fé e aumentar a alegria, vamos usar todos os meios que Deus nos deu. Enquanto o Evangelho é pregado às pessoas em geral, a Ceia do Senhor traz a graça de Deus para os comungantes individualmente, não apenas através de seu senso de audição, mas através de seu senso de visão e gosto. Assim, o sermão e o sacramento se complementam como formas de trazer alegria.

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Este artigo é um resumo do artigo The Joy of Worship escrito pelo Rev. Dr. Gerhard Aho . Você pode lê-lo clicando aqui .

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