O USO DE VESTIMENTAS E OBJETOS LITÚRGICOS APÓS A REFORMA LUTERANA

Filipe Schuambach Lopes
Serviço Divino
Published in
4 min readJul 11, 2022

Quanto a aparência e implementação do culto, o luteranismo no centro e norte da Alemanha manteve as cores litúrgicas, vestimentas e o uso de cálices (para a celebração eucarística) conforme a igreja antiga. Além disso, a missa evangélica resgatou uma boa parte da riqueza e das ações litúrgicas católica; resgatou o canto do padre e do povo, e principalmente a língua latina, mesmo que não na medida da sua utilização na igreja Pré-Reforma. Paralelamente, às ações litúrgicas, o mobiliário e os utensílios da igreja foram retidos até certo ponto, desde a pia batismal, os quadros até os estandartes e bastões de procissão.[1]

Vestimentas litúrgicas e objetos para o culto

Os luteranos continuaram a usar as cinco antigas cores litúrgicas, bem como as vestes litúrgicas no culto nos atos sacramentais; este incrivelmente durou, em parte até á beira do século XIX. Na medida em que o calvinismo ainda não os tinha eliminado, eles começaram a desaparecer principalmente primeiro sob a influência do iluminismo no final do século XVIII. Aparentemente, o Interim contribuiu para que o uso da casula e da sobrepeliz se tornasse mais firmemente estabelecida. Mas independentemente disto, as vestes litúrgicas gozavam de maior favor no luteranismo do norte e centro da Alemanha. O quanto o luteranismo seguiu uma linha mais conservadora neste ponto pode ser explicado usando os relatórios de Walter Delius sobre a visita de 1555 no subdistrito arquiepiscopal-Magdeburg de Querfurt. A visita revelou que três paróquias ainda tinham casulas em uso; os párocos, cujas casulas haviam desaparecido tiveram que ir ao Castelo de Querfurt onde foram lhes dadas novas vestes. Quanto à duração destas, as vestes eclesiásticas permaneceram em Weissenfels até 1588 e na Silésia até 1811. Em Hamburgo, os celebrantes usaram a acasula durante a Celebração Eucarística até 1785; em Lusatia os integrantes do coro usaram sobrepeliz até 1850. As casulas, que eram consideradas como um ornamento digno e, portanto, retidas com prazer, foram também ocasionalmente repostas, mesmo no período evangélico mais tardio. Dessa foram, foram utilizados em 1740 na Silésia para a consagração de novas comunidades; em 1659 foram reintroduzidos em Mecklenburg, a fim de servirem de contraponto ao “libertinismo e negligência do culto divino (libertinismo und negligentia cultus divini), que aliais, estão se tornando cada vez mais decorrentes nos dias de hoje. A casula era, tal como as cerimônias, considerada um símbolo da diferença entre o calvinismo e como um critério para o puro luteranismo, assim como, pelo contrário, onde quer que o calvinismo ganhasse adeptos, se insistia imediatamente na abolição da sobrepeliz e da casula.

No reino dos territórios saxões, o celebrante removia a casula antes do sermão e colocava-a sobre o altar, pregava com a sua alba e depois voltava a colocar a casula. O mesmo acontecia em Schleswig-Holtein; foi semelhante também no território de Halberstadt. Em Nürnberg, onde, como em outros lugares do sul da Alemanha, não foi retida a casula, mas apenas a sobrepeliz, o celebrante retirava a sobrepeliz antes do sermão com a ajuda de um sacristão e colocava-a novamente após o sermão para continuar a celebração.

Pastor Luterano usando uma sobrepeliz

Dos objetos do e para o culto que as igrejas da pré-reforma tendiam a ser mobiliadas, eles mantinham altares, velas, quadros e esculturas; do mesmo modo, fontes e bacias para o batismo, sinos, postes e faixas para a procissão, assim como os sininhos que eram tocados durante o culto como um sinal, por exemplo, durante a elevação dos elementos. Mesmo os que, de uma forma ou outra, eram severamente reprovados, permaneceram em algumas igrejas, por muito tempo, como por exemplo na igreja de Jacobi de Stendal. Os incensários ficaram mais espalhados. Alguns lugares se utilizava mais o incenso por motivos de saúde, por exemplo, para melhorar o ar ou para se protegerem contra a peste; por vezes até para aquecer um pouco a igreja no período do inverno.

Ao mesmo tempo, o uso do turíbulo e o seu balançar para fins litúrgicos permaneceu em prática, como por exemplo, na Catedral de Magdeburg antes de celebrar a Ceia do Senhor, ou no Ducado de Weimar, durante as matinas de natal.

[1] Texto traduzido com adaptações de Faith and Act: the survival of mediaval ceremonies in the Lutheran reformation de Ernst Walter Zeeden, páginas 31–34

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