Projeto “Que mato é esse” abarca compromisso social, educação pedagógica e consciência ambiental

Presente em instituições de Macaé, o “Que mato é esse” integra o ciclo: plantio, cuidado/cultivo, colheita e alimentação

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7 min readJun 21, 2022

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Rosana Feliciano colhe hortaliça da Horta do Projeto “Que Mato é Esse” no Campo D’Oeste

Por Renatta Viana/Alice Tavares / Raphael Bózeo / Vilcson Gavinho (Secretaria Municipal Adjunta de Ensino Superior)

Vencedor do terceiro lugar na categoria Atendimento ao Cidadão — Pequenas Iniciativas do Programa Servidores Inovadores da Secretaria Municipal Adjunta de Ensino Superior (SEMAES), o Projeto “Que mato é esse” ensina sobre cuidado, educação pedagógica, compromisso social, consciência ambiental, alimentação saudável, novos hábitos de saúde, fatores educacionais, responsabilidade social, solidariedade, integração, inclusão e muitas outras questões positivas.

Esse Projeto é uma iniciativa dos servidores da Secretaria Municipal Adjunta de Atenção Básica e nasceu na Estratégia de Saúde da Família (ESF), no bairro Campo D’Oeste, junto com a população, pelas mãos de Antonio Jaques Rocha Cavalcanti, assistente social do Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Adolescente (CRIAAD) e do ESF Campo D’Oeste; sendo servidor público municipal há 7 anos.

Horta no Estratégia Saúde da Família do Campo D’Oeste e os integrantes do Projeto Jaques Cavalcanti e Rosana Feliciano

Além do ESF do Campo D’Oeste, também são beneficiados pelo projeto o CRIAAD, a Sociedade de Ensino e Terapia Macaense (Sentrinho), que é uma escola especial, com proposta de inclusão educacional e social; a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE); o Recanto dos Idosos; a Casa dos Idosos. Em breve, será integrado ao projeto, o canteiro do ESF, do bairro Imbetiba, que está sendo reativado. O cultivo das hortas é feito por funcionários e alunos das instituições envolvidas, incluindo adolescentes tutelados pelo CRIAAD.

Rosana Feliciano fala sobre o trabalho do ESF Campo D’Oeste

Como tudo acontece?

A importância do projeto “Que mato é esse” vai além da prática do plantio, cultivo e colheita de hortaliças e plantas medicinais, adotando uma metodologia pedagógica de Saúde, compartilhando os benefícios do plantar e da alimentação saudável. São três safras anuais e a cada plantio são utilizadas mil mudas e sementes de hortaliças diversas.

Um dos objetivos do Projeto é integrar os adolescentes do CRIAAD ao processo, tornando-os responsáveis pelas atividades de preparo da terra, plantios, cuidados diários, até a colheita, abrangendo um período de três meses.

“Essa atividade com eles é muito boa, porque é uma maneira de mexer de dentro pra fora (…). Então o trabalho é: plantar, cuidar do que é bom, arrancar as ervas daninhas, que é ruim, e depois colher o que foi bom e partilhar. Isso mexe com eles (…) e tem um resultado muito positivo.” Jaques Cavalcanti, Assistente Social.

Após as colheitas, as hortaliças são doadas para a população e pacientes acamados e restritos das instituições contempladas, além de serem consumidas pelos próprios integrantes do Projeto e seus familiares. A safra é toda compartilhada, sendo importante lembrar, que os pacientes atendidos nas próprias unidades de ESF, também ajudam na colheita e consomem os produtos.

Moradores do Campo D’Oeste e pacientes do ESF recebem as hortaliças cultivadas no horta do Projeto

“O jovem também é acolhido pela Unidade (ESF). Nós fazemos as vacinas deles. Em caso de algum problema de saúde, eles são tratados aqui (…) A gente olha para esse jovem como uma possibilidade, eles são recebidos aqui com esse respeito. A gente procura fortalecer neles o vínculo. Porque se ele se sente enxergado, se sente cuidado, ele abre a percepção de que é possível também cuidar, é possível também não prejudicar.” Rosana Feliciano, agente comunitária de saúde.

O idealizador do Projeto e os 6 anos do Que Mato é Esse

O projeto foi idealizado, há seis anos, pelo Dr. Henrique, médico psiquiatra da ESF Campo D’Oeste, responsável pelo nome “Que Mato é esse”, que a princípio realizou o plantio de ervas medicinais, produzindo chás diversos para uso de seus pacientes, sendo, posteriormente adaptado para o plantio de hortaliças.

O coordenador Antonio Jaques Cavalcanti Rocha, há 26 anos atuando com jovens infratores que cumprem medidas socioeducativas, conta que mais de 100 adolescentes já passaram pelo Projeto, desde 2016. Os seis anos de atividades foram comemorados na Escola Sentrinho, com direito a bolo, parabéns, colheita de hortaliças e muita interação por parte das crianças assistidas.

“Além do aniversário de seis anos do nosso Projeto, essa é uma celebração também, por estarmos retomando a vida ao normal, após o tempestuoso período de pandemia. Já estamos na segunda safra deste ano. O trabalho é também uma forma de ajudar a sociedade a enxergar esses meninos do CRIAAD de uma outra maneira. Atualmente, temos quatro jovens e cada um fica por três meses”, explicou.

Os seis anos foram comemorados na Escola Sentrinho com direito à comemoração, bolo, parabéns, colheita de hortaliças e muita interação por parte das crianças assistidas.

Comemoração dos seis anos do Projeto “Que mato é Esse” realizada, em maio de 2022, na Escola Sentrinho

Sobre os adolescentes do CRIAAD

O prazer de plantar a semente, ver seu crescimento e poder colher o resultado do trabalho, transforma vidas, conforme o relato de um rapaz de 18 anos: “Esse foi o primeiro contato com uma atividade assim. É muito bom saber que podemos ajudar a quem precisa, inclusive nossa própria família”, comentou o jovem, que fez questão de pedir a Jaques para tirar uma foto de sua primeira safra e enviar à sua mãe.

“A melhor coisa não é em relação aos adolescentes, é em relação à sociedade. Esses meninos poderem ser vistos de uma outra maneira. Eles são sempre vistos de uma maneira pejorativa e a gente mostrar que eles podem fazer uma coisa diferente, que eles contribuem, que eles têm sensibilidade, que eles têm vontade, que eles querem ajudar também, esse é o principal objetivo do projeto.” Jaques Cavalcanti, Assistente Social.

Histórias como a do jovem citado incentivam a continuação do projeto. Outro jovem do CRIAAD, de 16 anos, conta que chegou ao Projeto há pouco tempo, mas está gostando e aproveitando cada etapa do aprendizado. “A gente se cuida, ajuda o próximo, a cabeça não fica vazia e só coisas boas acontecerão a partir daqui.”, disse o menino empolgado. “É uma terapia para eles, ocupando o tempo, ensinando a desenvolver responsabilidade e autonomia”, acrescentou o coordenador Jaques.

Depoimentos

Segundo a diretora do CRIAAD, Andrea Barcelos, a instituição hoje atende cerca de 32 jovens, de 12 a 18 anos, e o “Que Mato é Esse” é uma oportunidade única de ver os meninos numa situação de alegria, conhecimento e ações positivas. O local é responsável por encaminhar o adolescente para escolarização, profissionalização e reingresso à sociedade. Todo o trabalho é feito com base na metodologia de inclusão.

“Eles passam a semana aqui conosco cumprindo medida socioeducativa de semiliberdade por crimes que cometeram, em sua maioria, relacionados a tráfico de drogas e roubo. A partir do Projeto, eles entendem e valoriza a autonomia, o senso de responsabilidade, utilidade e inclusão”. (Andrea Barcelos)

Iza Medeiros é professora de artes e atualidades da Escola Sentrinho. Para ela, viver uma experiência tão rica como essa, marca a vida das crianças.

“Sabemos da importância em cuidar da natureza, do meio ambiente, e essa parceria de sucesso visa exatamente isso, a descoberta, as sensações, os sabores, o aprendizado como um toso e o principal, deixando nossas crianças muito felizes, porque o envolvimento deles com Projeto é intenso.

Integrantes da equipe

Antonio Jaques Rocha Cavalcanti (Assistente Social da ESF / Coordenador do Projeto); Ronaldo Fernandes (agente comunitário de saúde); Rosana Cruz Barbosa Feliciano (agente comunitário de saúde); Paula Rodrigues Barreto Silva (agente comunitário de saúde); Thaís Coelho Pinto (enfermeira e gerente da ESF); Andréa Gonçalves da Silva (médica da ESF e professora da Faculdade de Medicina UFRJ/ Macaé).

A ESF Campo d’Oeste é uma unidade escola em parceria com a UFRJ (cursos de Medicina, Enfermagem e Nutrição) e o projeto conta a participação de alunos desse curso. Além disso, a equipe é composta por servidores e funcionários de todos os locais atendidos projeto. “Somos um coletivo horizontal que de forma espontânea e voluntária faz parte dessa corrente do bem”, disse Jaques.

Jaques Cavalcanti sobre o Projeto “Que Mato é Esse”

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