7 Crônicas #01 - Sonhar é sua sina

Renato Nascimento
Sete Crônicas
Published in
4 min readSep 13, 2017

Os sonhos nos levam para os lugares mais distantes, realizam desejos. Nos mantém confortáveis, descansados, calmos e felizes. Muitos esperam ansiosos para quando enfim chega a noite para poderem descansar e viajar por entre seus lençóis e travesseiros. Mas existe uma garota, entre todas as outras, que deseja mais que tudo, apenas acordar. No seu mundo de sonhos nunca se pode dizer o que é real e o que é mentira. Já não existe o botão de desligar como antes, velhas amigas como a Ritalina e Modafinil já se tornaram obsoletas e para ela só lhe resta apenas esperar a chave para o sono eterno, infelizmente esta é sua triste verdade. Sonhar é sua sina.

Era mais um dia claro e quente. É possível se beneficiar de algumas sensações e estranhamente isso pode afetar o que se passa na mente da garota. Como por exemplo, o misterioso homem de chapéu engraçado que estava perseguindo a senhorita Melissa por três noites consecutivas. Ninguém sabe mas ele é um maniaco, desde que a vira no bar ele não a tira da cabeça. Certa vez a senhorita Melissa deixou cair seu lenço em uma de suas apresentações, e desde então ele o carrega.

Já estava tudo muito confuso de entender na quarta noite de perseguição, porém depois que a luz do sol iluminou seu quarto, ainda melhor que nos dias convencionais, para ela ficou tudo muito mais claro. O misterioso homem do chapéu engraçado queria fazer com Melissa de graça, o que ela cobra pra fazer, porém contra sua vontade.

Sua mãe havia mudado o alvejante da sua roupa, ou o sabão em pó, não importa, porém como o novo cheiro lhe agrava bastante a garota conseguira decifrar o que lhe deixara encucada durante a última semana. Era o odor de sangue que sentia. Aquele líquido viscoso descendo pela porta da casa de número sete da rua, o cheiro forte da chuva lhe atrapalhara na hora de distinguir os odores. E quando uma moto, provavelmente velha, fizera aquele barulho horrível na madrugada lá fora foi possível entender então o que era aquela luz no meio da escuridão, que quebrara a janela.

O barulho era bem parecido, mas como estava escuro não conseguia perceber que se tratava de um revólver. Ela lembrou também que alguém lhe segurara para lhe injetar uma agulha no braço, não poderia ser sua mãe, era a mão de um homem, provavelmente um técnico de enfermagem recém contratado, esse novo remédio doía um pouco, sentia que lhe queimava a veia. Mas sem ele ela nunca teria entendido que foi algo muito quente que havia deixado uma cicatriz na mão daquele homem e a dor que sentiu na hora.

Os sonhos de Liah não são tão felizes como os da maioria das pessoas, são todos bem confusos, ela não consegue definir o que é real e o que não é. Se ela pudesse ao menos se comunicar de alguma forma, mas isso não é possível. Como as adolescentes de sua idade ela queria apenas se divertir, poder correr, poder rir, poder comer comida de verdade e não líquidos através de um tubo. Seus sonhos não a deixavam feliz, apenas a levava para lugares onde nunca estivera antes, a fazia ver coisas que não poderia, que não se lembrava mais, coisas que não via desde sua infância que as poucos se tornaram apenas dolorosas lembranças do que ela já não era mais capaz de fazer. Coisas que a deixava muito triste.

Imagem da web.

O técnico de enfermagem jurara que havia enxugado uma lágrima voluntária de Liah quando assistia ao jornal e comentava com a mãe dela a respeito de um crime na cidade vizinha, Melissa, uma dançarina de boate, havia sido baleada dentro de sua residencia. O assassino invadiu sua casa e houve resistência pois uma mancha de pele estava grudada no ferro de passar roupas da vítima, jogado no chão perto de vários cacos de vidro da janela que dava para os fundos. O assassino fugiu deixando apenas um chapéu. Melissa ainda conseguira se arrastar até a porta, porém morreu logo depois, a polícia só a encontrou no meio da madrugada quando já chovia, quase cinco horas após o crime.

Mal sabe ele que os sonhos de Liah sempre são tristes, onde não se pode definir o que é real e o que não é. Liah queria poder se comunicar de alguma maneira, quem sabe assim as mortes em sua cabeça cessassem.

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Esse é o primeiro conto de uma série de contos sobre 7 grupos de 7 personagens cada e a descoberta de seus dons sobrenaturais, em meio a uma luta invisível travada entre a Ordem e o Caos.

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A batalha entre a Ordem e o Caos está apenas começando.

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