Edifícios Feitos com Óleo de Baleia?

J. Souza
Se Tu Diz
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3 min readApr 19, 2023

Era comum até meados do século XIX a pesca de baleias para extração e produção de um óleo — muito utilizado para a fabricação de lubrificantes, sabão e combustível para iluminação pública em geral.

Mas sei que você já deve ter ouvido aqui na ilha alguém indicar construções que preservam uma arquitetura histórica tão antiga que foi erguida com óleo de baleia, remanescente do período colonial. Há quem diga ainda que sua estrutura sólida e duradoura é efeito da poderosíssima mistura de areia, cal de conchas dos sambaquis (é claro!) e óleo de baleia.

Arquitetura açoriana no bairro Sto. Antônio de Lisboa (Foto: Guto Kuerten / Agencia RBS)

Curiosidade

A Praia da Armação, localizada ao sul da ilha, leva esse nome pois possuía uma importante armação baleeira, instalação utilizada para guardar embarcações, armazenar utensílios, ferramentas e onde também funcionavam as “casas de tanque” (engenhos de frigir o óleo retirado das baleias). O litoral sul da ilha é uma importante e conhecida rota das baleias francas, e que atualmente representa o futuro do ecoturismo no litoral sul catarinense. Suas observações se tornam mais propícia entre os meses de agosto à outubro.

A praia que faz divisa com a Armação, é alcunhada como Praia do Matadeiro - e acho que você já deve imaginar bem o porquê…

Praia do Matadeiro (à esquerda) e Praia da Armação (à direita)

Óleo de Baleia na Construção Civil de Floripa: É Fato ou Fake?

Segundo o historiador Bráulio Moura (2020), essa expressão caiu na boca do povo depois que muitos comerciantes enriqueceram com a comercialização do produto “e, por extensão, suas casas que, em todo o seu luxo, diziam ter sido erguidas com o produto”, não literalmente erguidas com o produto, mas erguida com o dinheiro ganho com a venda do produto.

No Município de Igarassu, Estado de Pernambuco, é muito comum moradores afirmarem que a igreja matriz da cidade foi construída com óleo de baleia. O professor Antônio Bajara (2022) cita um documento do final do século XVIII que alude “se utilizar parte do dinheiro da arrecadação dos impostos do óleo da baleia nos serviços de restauração da igreja matriz da cidade”. Ou seja, a igreja teria sido construída com a utilização dos recursos financeiros advindos dos impostos da comercialização do óleo da baleia e não literalmente do óleo da baleia.

Na ilha há muitos guias turísticos que sugerem haver vestígios de óleo de baleia na arquitetura das fortalezas da Capital, como o Forte de Santana - na cabeceira insular da ponte Hercílio Luz - e até na Catedral Metropolitana de Florianópolis - Centro da Cidade.

Ainda segundo Bráulio Moura (2020), o produto pode ter sido sim utilizado como impermeabilizante no período colonial, como é comum ainda hoje utilizar óleo e sabão como revestimento em áreas externas e expostas a umidade “mas não na sustentação e amarração de pedras e tijolos”, destaca.

E agora, Maneca?

Muita gente contesta, não só historiadores, mas muitos nativos e pescadores antigos, que viveram sua infância e adolescência durante o surgimento da indústria do petróleo no século XIX e antes da Lei Federal nº 7.643/1987. Estes, com muita convicção, afirmam que viram dezenas de construções sendo erguidas a base de óleo de baleia. É o caso do Seu Aldo, que não só afirma que muitas das históricas construções açorianas ainda existentes pela ilha foram feitas a base de óleo de baleia, como também relata o processo:

“Naquela época não existia cimento. Então, a gente misturava cal de concha - a casca do berbigão queimada - barro, óleo de baleia e areia. Tudo era amassado com os pés. Depois o pessoal juntava esta liga aos tijolos e as estruturas eram erguidas”

Se tu dix…

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