ARROMBASTES, FLORIPA!

J. Souza
Se Tu Diz
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4 min readOct 8, 2022
Autorretrato

Ontem (07/10/2022) fui ao CIC apreciar no MASC as obras do singular e insólito Ernesto Meyer Filho, que se autodenominava “embaixador de Marte” no planeta Terra. O acervo parecia infinito, com galos galácticos dos mais variados e surreais já visto na face dessa terra, foi difícil saber por onde começar.

Suas obras são tão impressionantes quanto o representante do planeta vermelho ter desenvolvido obras espetaculares nesse pedacinho de terra perdido no mar. Impressionante porque Florianópolis, apesar de ser a capital do Estado, foi e continua sendo uma cidade desinteressada pela própria cultura e pelas artes. Não exagero quando digo que as obras de Meyer Filho equipara-se a Salvador Dali, Frida Kahlo e Van Gogh.

Meyer Filho foi um dos membros do Grupo Sul, e junto a eles, foi responsável pela difusão e dinamização do revolucionária Movimento de Arte Moderna no país na década de 40.

Meyer Filho não vivia da arte. Era bacharel em Ciências Contábeis e foi empregado público do Banco do Brasil. Vagando sobre as suas obras, não é possível deixar de notar o tédio e o impulso do artista de querer transbordar e se realizar em sua arte. Em meio as exposições, é comum encontrarmos coisas mortas como folhas de telegramas, cheques, contratos… que em suas mãos criaram vida através de seus esboços, rabiscos e desenhos com comentários sarcásticos e irônicos - um esforço do artista manter a sanidade no meio de toda aquela insanidade.

Em uma de suas anotações ele comenta que muitas pessoas indagavam sobre o fato dele não largar sua labuta infeliz e dedicar-se somente a arte como os verdadeiros artistas faziam. Categoricamente ele replica: não é porque Victor Meirelles morreu de fome que ele também deveria, afinal, ele era artista e não um tolo.

Observando os seus quadros, seus esboços e rabiscos observamos a mente de um artista criativo e extremamente inquieto, que de tudo fazia tela. Um guardanapo, uma geladeira, até seus próprios documentos… absolutamente nada passava em branco pelas mãos e olhos do artista.

Ir ao MASC e se aprofundar dentro da mente desse artista é uma experiência fantástica, lisérgica, PSICODÉLICA! Suas obras são extravagantes, rica em detalhes, com espirais e fractais que parecem infinitas, uma explosão de cores quentes, fortes, agressivas e sexuais.

Suas obras contam as histórias do nosso folclore, e como Franklin Cascaes, dá significado ao termo “Ilha da Magia” com dragões, boitatá, bernunças, sereias e sereios, anjos e diabos, além de outros monstros e seres intergalácticos, com paisagens cósmicas que só poderiam ser imaginados dentro da cabeça de um artista original e com a personalidade forte como a de Meyer Filho.

Na verdade Meyer Filho dizia que sua inspiração era proveniente do planeta Marte e afirmava a quem quer que fosse que era um de seus representantes vivendo na terra. O fato é que, se levarmos em consideração os entendimentos sobre a reflexão e a imaginação do homem de acordo com pensadores pré-socráticos, como por exemplo, o filósofo grego Parmênides “o que é, é! e nada pode surgir do que não é”. Em outras palavras, se é possível PENSAR em algo, esse algo tem que EXISTIR. Por exemplo: pense em uma cor diferente, numa cor que não exista, uma cor nunca vista antes. Você perceberá que é IMPOSSÍVEL.

Portanto convido você ir até Centro Integrado de Cultura (CIC), no MASC, para apreciar e se aprofundar no universo meyeriano e tirar suas próprias conclusões sobre o possível e o impossível. O projeto Obras Implacáveis Meyer Filho é organizado pelo Instituto Meyer Filho e marca os 100 anos do artista plástico. Um conjunto de obras e documentos que guarda importantes fatos sobre sua trajetória e dos movimentos artísticos ocorridos entre 1943 e 1991, composto por escritos, impressos, charges, fotografias, vídeos, pinturas, desenhos e uma série de documentos que sustentam sua história de inserção no surgimento da Arte Moderna em Santa Catarina.

Além disso, há a exposição de muitas outras obras de artistas como: Franklin Cascaes, Martinho e Rodrigo de Haro, Hassis, Cândido Portinari (SIM!), Eli Heil, Iberê Camargo, Di Cavalcanti, Eduardo Dias de Oliveira e muitos outros…

Não perca essa oportunidade de conhecer a nossa identidade e cultura local. A entrada é gratuita e acontece de Terça a Sábado, das 10h às 20h30, e no domingo e feriados, das 10h às 19h30.

A amostra ficará a disposição do público até dia 22 de Janeiro de 2023, ou seja, bastante tempo para visitar e revisitar, porque acredite! Vale muito a pena.

Homenagem a Franklin Cascaes

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Ernesto Meyer Filho nasceu em 4 de Dezembro de 1919 na cidade de Itajaí. Reza a lenda que faleceu dia 22 de junho de 1991 em Florianópolis.

Se tu diz…

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J. Souza
Se Tu Diz

Poeta, Cronista e Contista I Bacharel em Administração Pública I Florianópolis/SC