Me deixa com meu manezês

J. Souza
Se Tu Diz
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2 min readOct 7, 2022

O MANEZÊS NÃO SE TRATA apenas do vocabulário rico e singular da comunidade da ilha de Santa Catarina, mas também da pronúncia e do sotaque que é valiosíssima na composição que molda a identidade de um manezinho da ilha.

Esse jeito de falar é reconhecido a distâncias e muito evidente para quem vem de fora para cá. Quem não é daqui e já turixtou pela ilha, sabe muito bem do que estou falando. É essa obsessão deliciosa de trocar o som do “s” pelo som do “x” o tempo todo, independente de onde o “s” esteja colocado na palavra, a troca é obrigatória - se ainda não notou, ixpia.

Essa troca no fonema, creio eu, tenha sido uma herança deixada pela colônia portuguesa que se situou na ilha por volta de 1748, por meio da Resolução Régia, determinada pelo rei Dom João V. Se pararmos para observar, os portugueses quando falam, também tem por característica trocar o “s” pelo “x” - “Ora, poix, Manoel, não guardaxtex meu lugar na bicha?

Mesmo assim, isso não é nada, absolutamente nada, comparado com um nativo raiz. O nativo raiz, segundo a lenda, é aquele que tem avós e bisavós nativos, não bastando apenas ter nascido no Carmela ou no HU. Conheci um Policial ambiental que afirmava que nasceu de uma forma mais tradicional: nasceu em casa, no norte da ilha, pelas mãos de uma antiga parteira da região. Sendo assim, ele não se denominava “mané”. Não, “…tax tolo?” dizia ele, “sou açoriano!”.

Os nativos raiz, além de usar expressões singulares, trocar o fonema… eles falam rápido como um castellano. Quem não está habituado perde tempo tentando entender. A única coisa que é possível compreender é que certamente eles estão reclamando ou brigando por alguma coisa… afinal, somos sulistas, temos o sangue quente e adoramos azucrinar o próximo.

Outra particularidade interessante da nossa comunicação, essa notada por alguns amigos nortistas que me intizicavam o dia todo por isso, são as expressões “chegasse”, “falasse”, “trabalhasse”… Eu não sabia que só aqui a gente costumava falar dessa forma, sempre pensei que fosse a forma usual, correta, universal de se expressar. Eles diziam que essa forma de colocar as palavras só haviam reparado aqui na ilha e que era errado, muitos deles afirmavam isso categoricamente pois haviam viajado por boa parte do Brasil.

Porém, estudando uma coisa aqui e outra lá, descobri que essa desinência -sse, na verdade - seus mazanza! - , não é errado, mas é um modo verbal, e é denominado de Pretérito Imperfeito do Subjuntivo, tendesse? Seus tanso…

— O-lhó-lhó… Sou manezinho, mas não sou nenhum bocó!

Se tu dix…

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