‘Mofash’ Com a Pomba na Balaia

J. Souza
Se Tu Diz
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2 min readMar 19, 2024

Obstinado em encontrar a origem das misteriosas palavras e expressões que compõe nosso atípico e singular vocabulário popular conhecido como “manezês”, como fiz ao investigar A Origem da ‘Bucica’. Hoje, mais ambicioso do que nunca, compartilharei o resultado da investigação da famosa expressão ‘Mofash cá pomba na balaia’.

Vem comigo, ‘mô’ querido…

Desenho de um Pombeiro, antigo vendedor ambulante, carregando no ombro um pau sustentando balaios em cada uma das extremidades com seus produtos dentro.
Representação de um pombeiro (Arte de Ana Generosi)

‘Nazantiga’ aqui na Ilha, existia, como em outras regiões do Brasil, a figura do pombeiro. Um vendedor ambulante que vendia de tudo, desde frutos do mar, frutas e verduras, à capim para travesseiros.

Essas figuras transitavam por entre as ruas carregando sobre seus ombros um pau (cambão ou calão, como era conhecido) com um - ou mais - balaio pendura em cada uma das extremidades dando o equilíbrio (vide arte acima). Dentro desses balaios estavam seus produtos que ofereciam por onde iam.

A figura do pombeiro remete aos tempos coloniais, quando vendiam diversos tipos de aves vivas, incluindo o pombo, motivo de seu nome.

Seus produtos as vezes tinham preço fixo, mas a maioria eram negociados a depender da quantidade e do interesse do cliente pelo produto.

Assim - reza a lenda - surgiu a expressão… quando o açoriano não ficava satisfeito com o preço oferecido, este finalizava o negócio com seu típico sotaque português dizendo: Então ‘mofash’ com a pomba na balaia, querendo dizer que naquela condição, o comerciante não fecharia venda e mofaria com seu produto dentro do balaio.

Até hoje a expressão é utilizada quando aqui na ilha queremos dizer que alguma pessoa mofará esperando algo difícil de acontecer.

Agora, se tu não acreditas nessa história, insiste em querer provas… ‘Mofash’ ca pomba na balaia, ‘ishtepô’. Aqui é nativo. Não vem ‘ishtrová’ que eu te ‘carco’ a mão nas venta, seu ‘rêlo’.

Aqui nós não ‘mênti’, ‘ozotro’ é que ‘nô’ acredita.

Se tu diz…

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J. Souza
Se Tu Diz

Poeta, Cronista e Contista I Bacharel em Administração Pública I Florianópolis/SC