Tyler Valiquette
sexualitypoliticsandcommunication
2 min readMay 16, 2018

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Viado e Sapatão: xingamentos ou apelidos carinhosos?

By: Vanessa Jardim Cruz de Freitas Braga

Podemos perceber que as minorias têm conseguido se articular muito bem por meio das redes sociais, atingindo vários campos da sociedade e trazendo suas pautas a eles. Ao longo do tempo, estes grupos sociais, discutem terminologias utilizadas para denominá-los, vezes problematizando o uso de algumas palavras e outras se apropriando delas.

A teoria Queer, por exemplo, assumiu uma palavra usada de forma pejorativa para identificar-se como uma categoria fora dos padrões delimitados pela sociedade. No Brasil, existem vários termos utilizados de forma ofensiva para tratar a comunidade LGBTQ+, neste texto, falaremos de dois deles: “viado” e “sapatão”.

A palavra viado, utilizada para falar de homens gays, origina-se do animal veado, essa nomenclatura pode ter surgido por dois motivos. Um deles é que a espécie, quando não consegue acasalar com fêmeas, junta-se com outros machos para liberar o sêmem acumuluado e, algumas das vezes, criam laços afetivos entre si. Outra hipótese diz que o termo começou a ser utilizado nos anos 20, quando um policial carioca fracassou em prender homossexuais e declarou que eles “fugiram correndo como veados”.

Já a palavra sapatão, surgiu nos anos 70, quando mulheres lésbicas usavam sapatos masculinos disponíveis apenas em numerações maiores, causado certa desproporcionalidade. O termo ganhou bastante visibilidade após o lançamento da música “Maria Sapatão” do Chacrinha.

Estes termos nasceram como forma de estigmatizar os homossexuais, mas, atualmente, também são utilizados pela própria comunidade de forma bem humorada como forma de luta e empoderamento. Usar essas palavras para se tratarem internamente é como dizer “Sim! Somos viados e sapatonas, o que há de errado nisso?”.

Fica muito claro quando estes dois adjetivos/substantivos estão sendo utilizados de forma pejorativa e quando são apenas formas de tratamento ou caracterização, mas é importante se atentar, pois nem todo homem gay ou mulher lésbica se sente confortável com esses termos. Geralmente, muito do significado da palavra vem da pessoa que está falando, a carga negativa é menos esperada da boca de algum homossexual ou simpatizante.

Na minha visão, a apropriação dessas palavras é uma forma de empoderamento da comunidade, esvaziando aos poucos sua carga negativa, ressignificando-as e tornando-as suas. É claro que viado e sapatão ainda são muito utilizados como forma de ofensa, mas quem entende que sexualidade não é algo inferiorizador ou motivo de piada, não deveria se ofender nem um pouco.

“As gay, as bi, as travas e as sapatão, tão tudo organizada pra fazer revolução!”

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Tyler Valiquette
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I teach Politics, Sexuality & Communications at the University of Brasilia. Interests: LGBT Rights, Judicial Politics & Public Policy. Vote Compass Brazil.