Gonzo
Cada ano que passa eu cresço menos
Quem me dera ter os olhos de quem me habitou
Para conhecer os meus encantos que perco de vista
E não consentir quando penso em mim como sinônimo do desperdício
Sofre e se arrebata para azar da torcida
Cada prosperidade é uma estrela improdutiva
Perdendo o brilho pouco a pouco
Até, enfim obliterar-se
Legitimamente feixes de luz
Atravessam a habilidade motora
A fissura cospe as iscas que vão atrair
As sobras de botos na virada da maré
Pintam tangos nos muros com unhas
Arrastam pelos calcanhares uma paz cimentada
Dissecada, exposta e cristalizada outra vez
Para alimentar o fascínio infundável das intimidades
Queria ter poemas saltando da boca
Mas eu nunca consigo decorar nada
Meu infortúnio é toda vez beijar azóis
E ser atraído para uma rinha de desocupados
Mãos de fruto agridoce colhidas
Antes desmembramento, hoje cassino
Verões afrodisíacos escapam do subtexto
Negar cigarras escondidas no antebraço
A flecha envelhecida, a tal ternura do sermão
Nunca veio afagar-nos com seu tato impetuoso
Moscas esculpem os caninos dessas bestas
Para ensina-lhes que toda ameaça é uma arma ineficaz
Mastigar e desidratar bisturis
Amanhã mantenha burocracia instável
Pois eu venho de visita e espero histórias
Para preterir ao encontro de um idioma vitorioso …