A diferença entre pedofilia e abuso infantil

Transtorno é diferente de prática

Mariana Farinas
Sexualidade em minúcias
2 min readJun 25, 2018

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É muito doloroso e perturbador saber que uma criança foi sexualmente abusada por um adulto. Mas nem sempre alguém que abusa sexualmente de uma criança é pedófilo.

O pedófilo é alguém que se sente atraído principalmente por crianças que ainda não atingiram a puberdade (até no máximo 13 anos). Sem que ele queira, ele é tomado por fantasias sexuais e vontades que podem ser muito perturbadoras de se imaginar. Porém, nem sempre quem tem esses desejos abusa. Alguns pedófilos lutam contra o que sentem, pois sentem culpa ou medo de causar mal à alguma criança. Eles se esforçam para evitar contato e alguns chegam inclusive procurar tratamento. Existem também os que não sentem empatia e colocam em prática esses impulsos sexuais, acabando por maltratar crianças.

Estima-se que de 3% à 5% dos homens sofram desse transtorno. Para as mulheres, a estimativa é incerta. Mas apesar disso, segundo pesquisa recente do Ipea, 50% das vítimas de estupro no Brasil possuem menos de 13 anos. E, destas crianças vitimizadas, em 24,1% dos casos os agressores são os próprios pais ou padrastos e, em 32,2%, amigos ou conhecidos da vítima. Ou seja, mais da metade das crianças violentas sexualmente sofre essa violência por parte da alguém próximo.

As crianças são mais vulneráveis do que os adultos diante de alguém que quer uma atividade sexual em que a vontade alheia não conta. Elas são mais fracas e tem menos recursos para fazer valer a sua vontade ou contornar a situação. Um outro grupo também mais frágil é o de deficientes. Segundo a mesma pesquisa, 10,3% das vítimas de estupro tem alguma deficiência — desse total, 31,1% tinham deficiência mental e 29,6% possuíam transtornos mentais.

É muito provável então que grande parte da violência sexual contra crianças não esteja sendo cometida necessariamente por pessoas que poderiam ser dignosticadas com um transtorno pedofílico. A maior parte dessa violência talvez esteja sendo cometida por pessoas comuns que namoram, se casam e se sentem atraídas principalmente por outros adultos. Pessoas que ocasionalmente podem ver na criança uma chance de satisfação sexual rápida e fácil. E é possível que voltemos nossa indignação para o pedófilo abusador de crianças — que de fato existe, mas que não é o principal responsável por esse alto índice de abuso infantil — justamente porque talvez a realidade seja um pouco mais dura de se imaginar.

— definições de pedofilia e estatísticas resumidas a partir dos manuais de diagnósticos mais recentes: CID-11 e DSM-5.

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