BDSM: de patologia a sexualidade saudável

Mariana Farinas
Sexualidade em minúcias
3 min readSep 4, 2018

Chicotear, receber palmadas, amarrar outra pessoa, ser um cachorrinho pra alguém é parte da sexualidade normal ou caracteriza um problema? Vamos responder isso um pouco mais pra frente, primeiro vamos falar sobre o que é BDSM.

Entendendo o que é BDSM

BDSM (Bondage e Disciplina, Domincao e Submissão, Sadomasoquismo) são um conjunto muito diverso práticas, com ou sem foco erótico, caracterizadas por jogos nos quais os participantes cumprem papéis definidos com diferenças claras de poder: um lado domina e outro se submete. O dominante exerce um controle físico ou psicológico, enquanto o submisso se rende a ele. Essa relação pode se dar de forma esporádica ou, em alguns casos, ser o fundamento de uma relação. Pode ser praticada com um parceiro fixo ou eventual.

A prática BDSM é sempre consentida

Além de um dominador e um dominado, a prática deve ser segura, sã e consensual. Em outras palavras, o que ocorrer entre os parceiros não deve por em risco a saúde física ou mental dos praticantes e as regras da brincadeira devem ser acordadas por quem vai participar dela. O que é e o que não é permitido é combinado antes portanto se não há possibilidade de consentimento, não há jogo. O uso de uma palavra de segurança também é combinado, para o caso do dominador se aproximar ou cruzar um limite físico, emocional ou moral do submisso. Algumas palavras de segurança podem ser ditas para interromper a cena e outras podem ser ditas quando o submisso quer que a brincadeira continue, mas com uma intensidade menor.

De sexualidade patológica à sexualidade saudável

É recente a visão de que quem prática BDSM não tem, necessariamente um desvio. Até pouco tempo, os manuais diagnósticos classificavam esse tipo de prática como patológica. A sexualidade e o desejo de quem vivia esse tipo de prática consensual era classificadas como parafilia, termo que se refere a um interesse sexual duradouro por uma prática não genital — ser amarrado ou chicotear, por exemplo. Termo que se refere também a um padrão de desejo sexual duradouro por algo que não é um ser humano adulto e vivo — por exemplo botas, roupas de látex, crianças, animais, etc Nessa antiga ótica, um adulto que deseja práticas BDSM uma vez por semana com uma pessoa que está de acordo com isso, sem que isso atrapalhe a saúde de nenhum dos dois, era colocado ao lado de alguém que compulsivamente se exibe nas ruas ou que prefere sexo com crianças, animais ou cadáveres.

Porém, recentemente, a definição do que é patológico mudou. Agora entende-se que há uma diferença entre um desejo parafílico e um transtorno parafilico. O desejo parafílico é um padrão persistente de desejo por algo que não seja um ser humano, adulto e vivo . A manifestação patológica de um desejo parafílico se dá quando este desejo causa sofrimento para quem o tem ou coloca em risco o bem estar de outras pessoas — como um pedófilo que abusa de crianças ou um exibicionista que se masturba em público. Nesta nova definição, os praticantes de BDSM, ao contrário, são adultos que fazem jogos entre si de forma consensual e, por isso, são pessoas que possuem um desejo sexual saudável, como qualquer praticante de sexo baunilha (do inglês vanilla, apelido que praticantes BDSM deram ao sexo “convencional”).

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