Do “quase” do desejo à redenção do orgasmo

Desejar é um “quase” que desperta a parte que sente falta

Mariana Farinas
Sexualidade em minúcias
2 min readAug 9, 2018

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Na imaginação de quem deseja, o que sacia o desejo está quase ao alcance – o amante platônico não amaria se não acreditasse nem um pouquinho que um dia irá tocar o que deseja. Desejar é um “quase” que desperta a parte que sente falta. Quanto mais perto de satisfazer o desejo de contato, mais a parte que sente falta se aviva e, quando mais se aviva, mais deseja. O próprio caminho até o orgasmo é todo montado nesses “quases” do desejo. O corpo se move para satisfazer uma vontade de contato (dar uma encosta, uma roçada, uma penetrar) e, ao fim dessa pequena saciedade, faz um movimento para afastar-se. O órgão afastado fica sentido com a ausência e, novamente, cheio de vontade. A encostada tornar-se uma urgência a ser resolvida com mais uma enterrada, uma apertada, uma esfregada. A cada desejo de contato e de folga bem satisfeitos, o órgão se aviva mais, tornando-se mais carnudo. O vai-e-vem se acelera em intervalos mais curtos, tornando-se frenesi. A iminência de algo maior parece inevitável: tudo pulsa em contrações rítmicas junto a uma sensação que é ao mesmo tempo alívio e martírio. Silêncio.

E a esta redenção, conhecida como orgasmo, segue-se uma beatitude digna, quem sabe, de um bebê que repousa sossegado no colo de sua mãe. Não falta mais nada.

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