Perda do desejo: vivendo sem tesão

Mariana Farinas
Sexualidade em minúcias
4 min readJun 14, 2018

O genital não reage ao mundo. Ele pouco levanta, pulsa, pisca. Pouco aumenta ou fica carnudo, pouco endurece ou molha.

Pensamentos eróticos minguam, há baixo ou nenhum interesse em se envolver numa atividade sexual, fica-se pouco receptivo aos avanços de um parceiro ou parceira e tem-se pouco prazer ou sensação genital quando porventura se empenha em transar. A pessoa perde a vontade e pode começar a adotar estratégias para escapar do sexo, que deixa de ser um prazer e passa a ser uma obrigação.

Eventos ocorrem ao entorno, pessoas passam saracoteando daqui e dali, mas o genital não reage. Para quem não faz sentido se assumir assexual, pode surgir um conflito: “eu não quero sexo, mas sexo faz parte da vida”. O sexo pode fazer parte de um senso de identidade, pode ser uma maneira de viver um certo tipo de intimidade, uma forma de relaxar. Além disso faz parte da vida por que o parceiro ou parceira pede sexo, é um tipo de prazer, a maneira natural de ter filhos e de se sentir fêmea, macho ou outra coisa.

Toda uma nuance da vida fica de lado. E não é só a série de gestos que a gente chama de “relação sexual”: é uma toda um jeito de estar que inclui reagir eroticamente ao que acontece em torno. O genital, pra além da vontade de se engajar numa relação sexual compõe também a sensação de tesão, em alguns estados de urgência, de passionalidade, de relaxamento, desejo de fusão com um outro e inclusive o bom humor.

Então quando se perde o desejo por sexo, não é incomum que fique também difícil encontrar algo na vida que se esteja vivendo com tesão. A vida pode ser boa de uma forma morna. E também não é incomum que falte um certo tipo de intimidade com o parceiro, mesmo que ambos sejam bons companheiros. A relação pode ser uma relação de irmandade, segurança, cooperação, mas as individualidades podem ficar como que apagadas.

Voltar a ter desejo sexual – para quem está desconfortável com sua ausência – é aumentar a possibilidade de perceber sensações prazeirosas, é retomar a identidade daquele que tem prazer, é ser aquele que tem capacidade e segurança para comunicar o que quer aos outros e aquele que percebe de forma viva as próprias sensações.

Perda de desejo e disfunção sexual

A perda de desejo ocorre a homens e mulheres, mas é mais comum entre elas – aliás, é a queixa sexual feminina mais comum. É natural que em algumas fases da nossa vida estejamos mais recolhidos sexualmente, principalmente em momentos de sobrecarga emocional como perda de alguém importante, demandas do trabalho ou problemas na nossa relação. Para considerar esse recolhimento uma disfunção sexual, é necessário que ele não seja explicado por um momento difícil, um problema físico ou um problema grave de relacionamento. Além disso, os sintomas estejam presentes por no mínimo seis meses e causar sofrimento.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais em sua quinta edição, o DSM-5, a perda de desejo se manifesta e pode ser diagnosticada por critérios diferentes em homens e mulheres. Em homem, se chama “Transtorno do Desejo Sexual Masculino Hipoativo” e em mulheres “Transtorno do Interesse/Excitação Sexual Feminino”.

Lembre-se que um diagnóstico só pode ser feito de fato por um especialista.

Segue abaixo uma visão geral dos diagnósticos de quadros relacionados à perda do desejo.

Transtorno do Desejo Sexual Masculino Hipoativo

Pensamentos ou fantasias sexuais/eróticas e desejo para atividade sexual deficientes (ou ausentes) de forma persistente ou recorrente. O julgamento da deficiência é feito pelo clínico, levando em conta fatores que afetam o funcionamento sexual, tais como idade e contextos gerais e socioculturais da vida do indivíduo.

Transtorno do Interesse/Excitação Sexual Feminino

Ocorre uma ausência ou redução significativa do interesse dos pensamentos ou fantasias sexuais/eróticas, pela atividade sexual. A mulher também pode demonstrar ausência de iniciativa ou iniciativa reduzida de atividade sexual, assim como ausência de receptividade às tentativas de iniciativa feitas pelo parceiro. Pode haver falta ou redução na excitação /prazer sexual durante a atividade sexual em quase todos ou em todos os encontros sexuais, assim como ausência ou redução do interesse/excitação sexual em resposta a quaisquer estímulos sexuais ou eróticas (como escritas, verbais, visuais). Um outro sintoma pode ser a ausência ou redução de sensações genitais ou não genitais durante a atividade sexual na maioria das vezes em que a mulher tenta uma relação.

– American Psychiatric Association. (2013). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5a edição). Washington, DC

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