Sexo é uma atividade temporal

Tudo tem seu tempo

Mariana Farinas
Sexualidade em minúcias
4 min readJun 24, 2018

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O sexo é uma forma de conversa e, como tal, é uma atividade temporal.

Nas conversas humanas, por mais anárquicas que possam ser, sempre há um momento para cada fala ou gesto. Primeiro fazemos o ritual de olá e depois introduzimos outros assuntos. Só contamos sobre algo extremamente íntimo, por exemplo, após um longo tempo de conversa. Não interrompemos assuntos importantes com uma queixa sobre um pedaço de pipoca preso entre os dentes, mas se o lugar está em chamas, interromperemos sem problema algum. Tudo tem seu tempo.

Quando precisamos ter uma conversa importante, ficamos muito atentos ao momento certo de ter a conversa e a hora de dizer isso ou aquilo outro. Prestamos atenção aos sinais que apontam quando o tempo está maduro o suficiente para cada coisa. O sexo é como uma conversa sensível, em que tocamos e somos tocados em pontos íntimos, inflamáveis e delicados.

A percepção do tempo e de como ele deve ser usado varia para cada pessoa e de acordo com o contexto. A relação sexual pode ter uma orientação temporal linear, com uma excitação que vai se intensificando até culminar em um orgasmo. A duração da relação sexual poderia neste caso até ser medida em um relógio. Mas o sexo pode também ter um tempo mais solto, com inícios, pausas para conversas e retomadas, sem que haja uma definição clara de começo, meio e fim. Uma pessoa que prefere uma comunicação sexual linear pode tomar as pausas por desinteresse. Já uma que prefere uma conversa sexual não-linear pode se sentir presa se tiver que se ater à uma sequência de eventos definida.

Existem conversas rapidinhas e resumidas e outras que se estendem mais. Conversas em que nos aprofundamos em poucos temas e outras em que passamos saltitando de um tema a outro. Quanto tempo se demora em cada “assunto” é algo que pode ser um consenso ou um desentendimento entre um par. Alguns gestos sexuais podem ser de extremo interesse para um, mas sem graça e até mesmo um tabu para o outro. E mesmo quando ambos gostam, não necessariamente o tempo em que cada em quer investir nesse “assunto” será o mesmo.

Ainda não….

O tempo dedicado ao prazer de cada um na relação sexual também diz de como se da a conversa que um par tem na cama. Durante um certo tempo, é possível estar dedicado ao prazer (assunto) do outro com um interesse genuíno. Mas existem assuntos em que a dedicação exige um desprendimento do próprio prazer. Se o tempo dedicado ao outro for longo de mais, a pessoa pode perder o interesse — ou até mesmo se irritar. A dedicação aos “assuntos” um do outro podem ser mais ou menos democrática, como em qualquer conversa. E também como em qualquer conversa, existem assuntos em comum em que ambos se envolvem com muita sincronia.

Sincronia é quando os ritmos se encaixam. Ela pode vir da feliz combinação da personalidade sexual de cada parceiro, mas também pode ser refinada com a intimidade. A sincronia é quando um percebe o tempo do outro. E perceber o tempo é importante porque alguns gestos eróticos, quando precipitados, podem ser sentidos como uma invasão, porque o corpo ainda não estava pronto para receber aquele contato. O contato prazeroso é aquele que chega quando o corpo já o estava pedindo, queimar a largada pode então ser um balde de água fria. Por outro lado, quando o corpo já está pedindo o contato há muito, pode surgir uma angústia fisica e a sensação de uma desatenção por parte da outra pessoa.

As vezes, que, está numa relação sexual está fora de ritmo. A ansiedade na relação sexual, por exemplo, é uma forma de estar desligado do presente. A atenção, neste caso, não está no que se sente, mas no que irá acontecer e em suas supostas consequências. Isto pode gerar desde broxadas até uma chegada ao orgasmo antes da hora — como na ejaculação precoce. Estando no presente, é possível adotar gestos e posições que fazem com que o orgasmo demore mais a chegar, ou adotar as mais “certinhas” garantir um estímulo adequado para que ele venha mais rápido.

A melhor maneira para se manter em sincronia é estando presente para perceber a si mesmo e ao outro, por meio dos olhares, dos sons, de como o corpo vai se modificando e de como os movimentos vão ganhando intensidade. Essa atenção possibilita soltar os gestos no momento certo e não queimar a largada — e até mesmo auxiliar o parceiro à voltar a si perceber seu tempo, caso ele esteja afobado.

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