Do SCD-1 ao SGDC: uma trajetória de desenvolvimento de satélites no Brasil

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4 min readDec 11, 2017

3, 2, 1, ignição. Às 18h50 (horário de Brasília) do dia 4 de maio de 2017, o veículo espacial Arianespace VA 236 começava a viagem que levou o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) ao espaço. O equipamento é mais um passo do desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro na área espacial. O caminho até a produção do artefato, porém, foi longo e construído com muito trabalho e dedicação de centenas de brasileiros.

COLOCAR VÍDEO DO LANÇAMENTO DO SGDC FEITO PELA ARIANESPACE

Ainda nos anos 1960, o Brasil começou a delinear um programa espacial para que, no futuro, reunisse condições técnicas e de conhecimento para ir ao espaço de maneira autônoma. Nessa época, o país firmou a primeira parceria com os Estados Unidos para seu projeto de atividades no espaço, com lançadores de satélites suborbitais. Como resultado, foi construído o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, em Parnamirim (RN), o primeiro do país — há ainda o de Alcântara (MA). Acordo semelhante foi firmado também com a Alemanha na década seguinte.

A próxima etapa do plano era projetar, construir e integrar um satélite próprio, desenvolvido por profissionais brasileiros. No fim da década de 1980, começava o trabalho em torno do Satélite de Coleta de Dados (SCD), desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). As aplicações envolveram a reunião de informações como temperatura do ar, níveis de rios e reservatórios de água, pressão atmosférica, intensidade da radiação solar, entre outras referências meteorológicas.

Lançado ao espaço em 9 de fevereiro de 1993, a partir do Kennedy Space Center, nos Estados Unidos, o SCD-1 tornava-se o primeiro satélite tupiniquim a entrar em órbita. Um feito e tanto para o país.

ASPA DESTACADA:

“ERAM SATÉLITES SIMPLES, MAS ERA UM GRANDE DESAFIO NAQUELA ÉPOCA. PARA TODOS OS PAÍSES DO MUNDO. COM EXCEÇÃO DE ESTADOS UNIDOS E RÚSSIA, AQUILO ERA UM DESAFIO MUITO GRANDE E NÓS CONSEGUIMOS VENCER ESSA ETAPA”.

José Raimundo Braga Coelho, presidente da AEB

O projeto foi tão bem-sucedido que a vida útil das cargas foi além do planejado. Tanto o SDC-1 quanto o SCD-2, lançado em 22 de outubro de 1998, continuam na ativa até hoje e fornecem informações para o Inpe. Os dados servem de base, por exemplo, para a Agência Nacional de Águas (ANA) definir políticas públicas de uso dos recursos hídricos.

OLHAR DE CIMA

O sucesso com o SCD-1 e o SCD-2 deram indícios de que o Brasil estava caminhando no rumo certo. Mas era preciso ir além. Além de coletar dados atmosféricos, era também necessário ter um satélite capaz de executar serviços de observação da Terra, o chamado sensoriamento remoto. Dessa necessidade, nasceu o programa Cbers, o Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres.

Ainda em 1986 — portanto, antes mesmo da construção da família SCD –, o Brasil iniciou conversas com a China para o desenvolvimento de um modelo de satélite capaz de fazer o sensoriamento remoto. Dois anos depois, foi formalizado um acordo bilateral que colocou especialistas das duas nações trabalhando conjuntamente na construção de um aparelho que executasse essas aplicações.

Essa família de satélites é largamente utilizada para o monitoramento do desmatamento, de áreas agrícolas e da ocupação urbana. O lançamento do primeiro equipamento da série aconteceu em 14 de outubro de 1999, a partir do Centro de Lançamento chinês de Taiyuan. Até hoje, foram construídos cinco modelos do Cbers — apenas o Cbers-3 não chegou ao espaço.

“Ultrapassamos o desafio de fazer aquele satélite pequeno de sensoriamento remoto e partir para um satélite que, hoje, é uma das duas grandes referências no mundo todo: o Landsat, norte-americano e a série Cbers”, afirma o presidente da AEB, José Raimundo Braga Coelho.

LINHA DO TEMPO DO DESENVOLVIMENTO DE SATÉLITES DO BRASIL

SDC-1–9/2/1993

SCD-2–22/10/1998

CBERS — 14/10/1999

CBERS-2–21/10/2003

CBERS-2B — 19/9/2007

CBERS-4–7/12/2014

CICLO COMPLETO

A evolução do Brasil desde o lançamento do SCD, em 1993, permitiu que, 24 anos depois, o país reunisse as condições para participar da produção do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas. O equipamento, construído na França, contou com a participação de 50 engenheiros brasileiros atuando nas instalações da Thales Alenia Space, em Cannes e Toulouse. Esses profissionais são oriundos da AEB, do Inpe, da Telebras, da Visiona e do Ministério da Defesa, e participaram de todas as etapas de construção do equipamento.

Para o diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da Agência Espacial Brasileira, Carlos Gurgel, a participação no projeto do SGDC permitiu ganhos para o país em áreas essenciais: absorção e transferência de tecnologia, que serão importantes em projetos vindouros.

COLOCAR CARTELA COM A DEFINIÇÃO DO QUE É ABSORÇÃO DE TECNOLOGIA E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA:

Absorção de tecnologia

Processo pelo qual especialistas são levados a uma instituição, empresa ou país para serem capacitados em técnicas de produção. Ao fim desse processo, eles voltam ao seu local de origem e podem aplicar as técnicas aprendidas nos projetos.

Transferência de tecnologia

Processo em que tecnologias e processos são passados de instituições, empresas ou países para outros lugares. Assim, possibilitando o desenvolvimento de cadeias produtivas ligadas às novas tecnologias.

“O Programa Espacial Brasileiro é bastante ambicioso e a parte de satélites é muito importante dentro dele. A partir do SCD, pudemos evoluir para aplicações mais complexas com o Cbers e, posteriormente, com o SGDC. Mesmo com ele sendo construído na França, foi importante termos engenheiros sendo capacitados lá para que, no futuro, eles possam trabalhar no desenvolvimento de satélites geoestacionários próprios. Mas ainda é preciso mais tempo e maturação, além de ampliarmos o processo de transferência de tecnologia”, destacou Gurgel.

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