A importância da conquista do voto feminino no Brasil

Paula Prado
She Leads Brasil
6 min readFeb 13, 2024

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A história do mundo se desenrola de maneira intricada, e sua narrativa é construída e consolidada no cotidiano das pessoas. As sociedades que compõem nosso mundo experimentam transformações ao longo de eras, ciclos e períodos, uma complexidade que muitas vezes escapa à nossa percepção imediata. Enquanto medimos nossas vidas em anos, meses, dias e horas, a sociedade vive e respira em um ritmo que se estende por décadas e séculos.

As mudanças acontecem diariamente, mas sua consolidação demanda tempo, muitas vezes necessitando que uma, duas ou até três gerações vivam plenamente essas transformações para que elas se tornem parte integral da sociedade. O direito ao voto, um elemento fundamental da participação democrática, é um exemplo claro desse processo em consolidação, especialmente no que diz respeito às mulheres.

Pense sobre essa consolidação por essa linha do tempo:

A conquista de direitos às mulheres é um marco recente na história do Brasil.

Nesse contexto, é fundamental reconhecer que, embora tenhamos alcançado avanços notáveis, o direito ao voto feminino ainda está em construção, moldando-se gradualmente à medida que a sociedade evolui. E cada voto emitido por uma mulher faz parte dessa narrativa em constante desenvolvimento.

O direito ao voto representa a ferramenta mais essencial na democracia, possibilitando que qualquer indivíduo, independentemente de sua condição social, financeira ou nível de instrução, exerça plenamente sua cidadania. Este direito habilita a participação ativa no processo político, seja por meio da escolha de representantes ou ao se candidatar, assegurando a inclusão de diversas perspectivas na tomada de decisões.

Quem são as eleitoras brasileiras

Atualmente, as mulheres compõem mais da metade dos eleitores brasileiros e possuem uma influência significativa no resultado das eleições. No entanto, somente há menos de um século, no Brasil, em 24 de fevereiro de 1932, as mulheres conquistaram o direito de participar do processo eleitoral. Direito que só foi incorporado à Constituição em 1934.

Segundo uma matéria do site Tribunal Regional de Goiás “O primeiro país a garantir o direito de votar às mulheres foi a Nova Zelândia, em 1893. O Brasil demorou quase 40 anos para fazer o mesmo, mas o fez antes de países como França, onde o sufrágio feminino só aconteceu em 1944, e Suíça, onde as mulheres esperaram até 1971 para votar.

O site TSE Mulheres fornece uma análise completa da presença das mulheres na política e nas eleições no Brasil. Por meio dessa página, é possível observar que em 2022, as mulheres constituíram, em média, 53% do eleitorado brasileiro, representaram 34% das candidaturas e 18% foram eleitas.

Considerando que o direito ao voto é relativamente recente e que, apesar de pioneiros na América Latina, somente em 1965 o Código Eleitoral igualou o voto feminino ao masculino, fica evidente o quanto ainda precisamos protegê-lo e evoluir em questões de igualdade e representatividade de gênero na política em nosso país.

Políticas de apoio à mulher e o papel do Governo na equidade de gênero

O objetivo de eleições diretas e abertas a toda população é permitir a escolha democrática de representantes governamentais, por meio do voto popular. Nessa dinâmica de poder, grupos alinhados e bem organizados elegem mais pessoas, que legislam em prol dos interesses do seu grupo. Basicamente, se você quer mudanças em determinada área, busque candidatas ou candidatos que apoiem sua causa ou tenham a mesma visão.

A representação feminina no Congresso Nacional desempenha um papel crucial na formulação e implementação de leis e políticas que impactam diretamente as oportunidades de liderança das mulheres no mercado de trabalho. A presença de mulheres diversas nas instâncias legislativas contribui para a inclusão de perspectivas diversificadas, enfocando as necessidades específicas das mulheres e abordando desafios que historicamente têm prejudicado nossa ascensão profissional.

A Constituição de 1988 reforçou a igualdade de gênero como um princípio fundamental. A partir dela, diversas leis foram promulgadas para combater a discriminação e garantir direitos específicos para as mulheres, abrangendo áreas como violência doméstica, assédio sexual e direitos reprodutivos.

E é bom lembrar que nem sempre foi assim. A luta das mulheres por direitos básicos e igualdade é histórica, nesse especial podemos acompanhar documentos com relatos de angústias e dores das mulheres, desde o Brasil Colônia, traçando paralelos com os dias atuais.

Por isso, a implementação de políticas governamentais focadas na igualdade de gênero é fundamental para garantir e consolidar nossos direitos. Programas que visam capacitação econômica das mulheres, o acesso à educação e a inserção no mercado de trabalho têm impactos diretos na redução das disparidades de gênero. Iniciativas voltadas à promoção de equidade salarial e a criação de ambientes de trabalho inclusivos são fundamentais para que as mulheres alcancem posições de liderança e recebam o reconhecimento merecido em suas carreiras.

Além disso, políticas de licença-maternidade e paternidade, creches públicas acessíveis e flexibilidade no local de trabalho contribuem para uma sociedade mais justa e igualitária. Ao reconhecer as especificidades das mulheres, essas políticas ajudam a romper com estereótipos de gênero arraigados e promovem uma cultura de respeito de colaboração.

Trajetória de conquistas legais: Avanços nas proteções cíveis e criminais para mulheres. (SESCRIO)

Empoderamento nas decisões: o impacto do voto feminino na diminuição das disparidades de gênero

Quando reforçamos a importância da participação feminina na política, estamos dizendo que, se queremos mudanças efetivas, constantes e redução de desigualdades devemos agir intencionalmente para que mais mulheres ocupem espaços de poder e tomada de decisão.

Em um país tão grande, diverso e desigual como o Brasil, não podemos nos abster de usar todos os filtros para entendermos e apoiarmos a causa feminina — e da infância. Isso mesmo, as políticas de proteção da infância quase sempre conversam ou estão diretamente ligadas às que envolvem o poder de decisão, financeiro e independência feminina. O recorte do cuidado infantil recai sobre nós, você tenha ou não optado pela maternidade, essas políticas e restrições também se aplicam a você. É preciso analisar recortes sociais para eleger representantes que compreendam uma mesma causa sob prismas diferentes.

Não reduziremos disparidade salarial, nem garantiremos oportunidades de promoção equitativas ou combateremos discriminação de gênero no ambiente corporativo, sem representantes que joguem luz para esse problema, criando leis e meios para que empresas se comprometam com esses números. Em paralelo, esse tipo de iniciativa contribui para melhora nos índices educacionais, e uma pressão maior para que haja mais creches, escolas e locais seguros para que essas mulheres possam exercer seu direito ao trabalho, contando com redes de apoio eficazes.

Para que a licença parental seja uma realidade, precisamos que mulheres e suas representações políticas apontem para os ganhos econômicos que a participação feminina traz ao mercado de trabalho. Mulheres no Congresso podem impulsionar a alocação de recursos e financiamento para programas que apoiam o empreendedorismo feminino, fornecendo às mulheres ferramental necessário para alcançar posições de liderança em seus próprios empreendimentos. Afinal, no Brasil, são elas as maiores responsáveis pelo sustento familiar e movimentam muito dinheiro no mercado informal.

Se quisermos ver uma maior representação feminina em setores tradicionalmente masculinos, uma maior presença feminina no Congresso pode ser um catalisador para leis que incentivem a presença de mulheres em cargos de liderança, incluindo composição de conselhos de administração. Esse tipo de medida promove diversidade no mais alto nível das organizações.

Essa representação feminina no Congresso Nacional, que só pode ser alcançada pelo voto, não reflete somente a diversidade da sociedade, mas também molda a legislação que impacta a vida de todas nós. Ao promover políticas inclusivas e igualitárias, as mulheres legisladoras desempenham um papel fundamental na construção de um ambiente profissional mais justo e equitativo.

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Paula Prado
She Leads Brasil

Jornalista, Swifitie, ativista dos direitos femininos e equidade de gênero. Aprendendo e compartilhando sobre humanidade, comunicação e Jurassic Park.