Resenha e percepções do livro “Mostre seu trabalho” de Austin Kleon
O livro “Mostre seu Trabalho” ou “Show Your Work” em inglês é uma obra incrivelmente criativa e inspiradora. Nele, o autor Austin Kleon apresenta, de maneira prática e com exemplos simples, 10 formas pelas quais podemos compartilhar nossa jornada e conhecimento com o mundo por meio do digital.
Sabemos que exibir o nosso trabalho pode ser um desafio, devido às normas sociais de modéstia que aprendemos desde crianças. No entanto, nos dias atuais, falar sobre nós mesmos e mostrar nosso trabalho tem se tornado cada vez mais necessário para nos destacarmos em qualquer nicho. Para aqueles em busca de inspiração, a leitura deste livro pode ser um ótimo ponto de partida. Neste artigo, compartilharei minhas percepções sobre os nove tópicos que mais chamaram minha atenção durante a leitura.
As descrições a seguir contêm spoilers, então, se você ainda não leu o livro e não quer saber o que é abordado antecipadamente, recomendo que não continue a leitura.
Você não precisa ser um gênio
O livro inicia com uma afirmação crucial: “você não precisa ser um gênio” para começar a mostrar seu trabalho. Essa mensagem é tão importante porque frequentemente acreditamos que precisamos estar completamente preparados antes de iniciar algo, quando na realidade isso só nos limita. O autor também nos convida a reconhecer a importância de nos permitirmos ser amadores nesse processo de compartilhar nosso trabalho, pois, segundo ele:
“Os amadores aproveitam as chances, experimentam e seguem seus impulsos. Às vezes, durante o processo de fazer as coisas de maneira não profissional, eles descobrem coisas novas.”
Além disso, frequentemente nos preocupamos excessivamente com o que os outros pensarão de nós quando nos expomos. Para superar esse medo, o autor compartilha que costuma ler obituários com frequência. Isso permite a ele contemplar as histórias de pessoas que já se foram, muitas das quais realizaram coisas notáveis. Nas palavras dele:
“Pensar na morte todas as manhãs me faz desejar viver.”
Acredito que o ponto chave deste tópico é incentivar o leitor a superar o medo de iniciar algo. Tenha em mente que qualquer empreendimento que você começar, seja um blog, um perfil no Instagram, uma comunidade, um novo projeto no trabalho, enfim, o que for, não será perfeito inicialmente. No entanto, para progredir, é essencial dar o primeiro passo.
Compartilhe seu processo
Em um mundo repleto de busca pela perfeição na era digital, é comum observarmos conteúdos cada vez mais editados e cheios de efeitos na internet. Como consumidores desses materiais, frequentemente nos deparamos apenas com o produto final, sem perceber o quão complexo é o processo de criação, que geralmente envolve criatividade, ferramentas específicas e tempo. Por exemplo, um vídeo de 40 segundos pode demandar horas ou até mesmo dias para ser concebido, roteirizado e editado, algo que muitas vezes passa despercebido pelos espectadores. O famoso, “quem vê close não vê corre”.
Austin traz uma dica extremamente interessante sobre essa questão. Ele discorre em seu livro que compartilhar seu processo diário pode permitir que seu público se conecte mais intimamente, pois isso pode fazer com que as pessoas se identifiquem com a jornada no dia a dia. É muito legal ver algo finalizado, mas também é enriquecedor conhecer o processo por trás. Isso demonstra que seu trabalho tem valor não apenas pelo resultado final, mas também pela jornada criativa que o precede.
Compartilhe um pouco todos os dias
No livro, Austin afirma que acredita que o sucesso da noite para o dia é um mito, pois a maioria dos casos de sucesso geralmente é fruto de anos de trabalho árduo e perseverança. São os pequenos esforços diários que, ao longo do tempo, nos levam a alcançar resultados expressivos. Para ter uma compreensão mais clara desse processo, o autor sugere que os leitores mantenham relatórios diários, documentando suas fontes de inspiração, métodos e até mesmo as lições aprendidas durante o processo de criação.
Além disso, os pequenos trabalhos criados diariamente podem culminar em algo significativo no final. No livro, ele destaca que várias ideias, inicialmente compartilhadas no Twitter, evoluíram para posts em seu blog e, por fim, se transformaram em capítulos do livro "Mostre seu trabalho".
Já realizei esse processo diversas vezes na comunidade de tecnologia, inicialmente criei materiais para palestras e, a partir disso, encontrei inspiração para desenvolver artigos para blogs, tópicos para posts no LinkedIn e até mesmo materiais para a criação de ebooks sobre infraestrutura de TI e cloud computing. São esses pequenos trabalhos que, ao longo do tempo, se transformam em grandes realizações.
Ensine o que você sabe
Não é um problema compartilhar seu conhecimento com os outros. Ao contrário do que pode parecer, você não estará perdendo potencial competitivo; na verdade, estará ajudando outras pessoas a aprender e, ao fazer isso, também estará evoluindo. Não há forma melhor de consolidar um conhecimento do que compartilhá-lo com os demais. Conforme destacado por Austin:
"Ensinar não significa competir. Só porque você sabe a técnica do mestre não implica que é capaz de imitá-lo instantaneamente."
Faça encontros no mundo real
Hoje, com as facilidades proporcionadas pelo mundo digital, podemos nos conectar com pessoas em qualquer lugar a qualquer momento, o que é incrível, especialmente quando se trata de criar comunidades e obter audiência para nosso trabalho. No entanto, nada substitui as interações na vida real. Estabelecer essas conexões é crucial para fortalecer a sua rede de contatos e, ao mesmo tempo, proporcionar momentos descontraídos.
No livro, Austin sugere que esses encontros podem se dar de diversas formas, seja através de um convite para um almoço, um café, um passeio a um museu ou livraria.
Aprenda a apanhar
Cada vez que nos expomos, assumimos riscos. Existem pessoas que vão apreciar o que estamos compartilhando, enquanto outras podem não gostar. Isso pode resultar em críticas, e precisamos estar preparados para lidar com elas. No livro, Austin menciona que:
"Uma crítica não é o fim do mundo. Até onde eu sei, ninguém nunca morreu por causa de uma opinião negativa."
Ao longo desses seis anos participando de comunidades de tecnologia, recebi inúmeros elogios sobre minhas palestras, artigos e trabalho em geral. No entanto, também há quem critique. Certa vez, recebi uma crítica sobre um tutorial que escrevi. Em termos técnicos, o leitor não tinha do que reclamar, pois o material ensinava o que era proposto. No entanto, ele criticou minha forma de escrever, afirmando que eu não dominava regras básicas de português. Fiquei, naturalmente, frustrada ao ler isso, mas ao examinar o perfil da pessoa que me criticava, percebi que não havia nenhum artigo ou tutorial em sua página. Ele não contribuía ajudando ninguém. Portanto, nem sempre quem critica sabe, de fato, fazer melhor do que você. O melhor a fazer é ignorar e não internalizar o que não faz sentido.
Venda-se
Parte do processo de crescimento exige a habilidade de se promover e vender seu trabalho. Buscar patrocínio e estabelecer um preço justo pelo que fazemos, muitas vezes, é desafiador, mas é essencial. Não há nada de errado em buscar retorno financeiro pelo seu trabalho. Afinal, todos têm contas a pagar para viver, então não sinta vergonha de buscar o seu crescimento.
No livro, Austin menciona diversas formas de encontrar financiamento para o seu projeto, seja por meio de plataformas como Vakinha ou Catarse, ou mesmo incorporando um botão “DOE AGORA” em seu site.
Fique por perto
Neste tópico, Austin fala sobre a importância de não abandonar seu processo, seja ele bem-sucedido ou não. Manter constância e persistência é essencial para nosso aprendizado e desenvolvimento em qualquer área. No livro, ele aborda que:
Toda carreira está cheia de altos e baixos e, assim como com histórias, quando você está no meio do processo, vivendo sua vida e carreira, não sabe se está para cima ou para baixo, nem o que está prestes a acontecer a seguir.
“Se você quer um final feliz, só depende, é claro, de onde interrompe sua história”, escreveu o ator Orson Welles.
Isso é muito relevante, pois estamos em constante evolução. Todas as nossas experiências nos moldam para o próximo passo, seja no trabalho ou em nossos projetos pessoais. Portanto, é crucial não desistir e continuar, mesmo quando as coisas não parecerem tão boas. Sempre há a possibilidade de recalcular a rota, se organizar e aprender no processo.
Vá embora para voltar
Para encerrar a lista, gostaria de destacar este tópico porque nossos projetos e trabalhos são maneiras eficazes de promover nosso crescimento e evolução, sem dúvida. No entanto, é crucial saber equilibrar as coisas e até mesmo dar uma pausa quando necessário.
No livro, Austin sugere algumas formas de fazer uma pausa para recarregar as energias, como tirar um ano sabático quando possível (com a consciência de que isso é complexo de várias maneiras) ou aproveitar pequenos períodos sabáticos, seja fazendo pausas diárias, semanais ou mensais.
Por um longo período, fui refém do meu trabalho e do meu desenvolvimento na área de tecnologia. Quase não descansava ou desenvolvia outras habilidades fora desse âmbito, o que não estava contribuindo para a minha saúde e bem-estar. Ao perceber isso, comecei a me organizar para equilibrar minha rotina. Embora não tenha tido a oportunidade de tirar um ano sabático, passei a usufruir dos meus 30 dias de férias anuais conforme deveria. Além disso, incluí atividades físicas na minha rotina quatro vezes por semana e comecei a aprender habilidades que não têm relação com tecnologia.
É importante lembrar que não pensar no trabalho o tempo todo não nos torna menos profissionais. Ao contrário, em muitos casos, temos pensamentos mais claros e somos mais criativos quando estamos descansados. Saber separar o trabalho de outras responsabilidades da vida é essencial para o equilíbrio e a saúde.
Por fim, este é um livro repleto de insights valiosos, tanto para aqueles que desejam se destacar no mundo digital quanto para os que buscam se destacar em seu trabalho corporativo. Acho que alguns tópicos poderiam ser mais aprofundados, pois algumas dicas não foram tão exploradas quanto eu gostaria, mas isso não diminui o potencial da obra como um todo. A leitura flui muito bem, as ilustrações tornam a experiência mais leve, e certamente é um livro que pode ser lido em um curto espaço de tempo.
Se você já teve a chance de ler este livro, compartilhe aqui nos comentários suas impressões sobre ele. :)
