Comunidades foram a melhor coisa que a internet nos trouxe

Gabriel Nunes
Sh*ft Festival
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3 min readJan 28, 2022

Quando eu comecei a entrar na internet, com meus então 12 anos (acho), lembro que o hit do momento era o mIRC. Todos os meus vizinhos usavam e eu também não queria ficar de fora. O mIRC funciona como um grande chat, separado por canais, e que você precisa descobri-los sozinho. Você também poderia ver uma lista dos canais mais populares do servidor (eu acessava a RedeSul), o #joinville, da minha cidade, era sempre um dos mais populares.

O canal funcionava como um grupo aberto, onde qualquer um podia falar. As pessoas ali se organizavam em “Ops”, que tinham poder para kickar ou banir usuários, e os “Voices”, que só era um enfeite pra ficar na frente dos outros na lista de usuários. Ali, você acabava conversando com o grupo e podia ficar amigo de uma pessoa, ela te indicar outro canal e você ficar amigo das outras pessoas deste canal.

Sem mentir, acho que no mIRC foi onde eu fiz minhas primeiras amizades. Eu não era um cara muito popular na escola e ali encontrei pessoas que tinham gostos parecidos com o meu. Seja por torcer para o mesmo time de futebol, gostar de Dragon Ball Z ou Pokémon. Esta foi a minha primeira experiência com comunidades.

E, cara, isso é mágico.

As comunidades, além das amizades, ensinam muitas coisas. Eu aprendi a programar ali, trocando ideias com outras pessoas e fazendo pequenos scripts e sites para os canais que eu participava. Comecei também a participar de IRContros (onde conhecia as pessoas do mIRC na “vida real”), o que me ajudou muito na minha vida pessoal a ser menos introvertido.

Depois de um tempo, o mIRC parou de ser tão usado e foi perdendo o sentido de entrar lá. Mas nessa época, também existiam os fóruns. Também eram espaços fechados para grupos com o mesmo interesse que trocavam ideias sobre diversos assuntos. É engraçado pensar que as comunidades sempre existiram na internet, mas só hoje em dia a gente tem o conhecimento e sabe da importância delas para a sociedade.

Depois dos fóruns, o Orkut, que tinha como seu principal norte as comunidades, quem lembra? É óbvio que existiam pessoas que usavam apenas os perfis e nem dava muita bola, mas eram nas comunidades que a ~magia~ acontecia.

A era do feed

E do nada, veio o Facebook. O conceito de feed veio pra viciar a gente, e fez várias outras redes sociais seguirem o mesmo padrão. O feed só é bom pra quem o criou, pois faz as pessoas usarem mais as redes sociais e quanto mais uso, mais anúncios e mais dinheiro rolando.

O retorno ao começo

O bom é que vivemos em ciclos. As comunidades nunca estiveram tão em alta. A área de tecnologia talvez seja o lugar onde as comunidades nunca deixaram de ser algo importante. A cultura do open source colaborou muito para isso também. Mas parece que o aumento de streamers, a pandemia e os encontros virtuais, a forma como as pessoas conseguiram descobrir que comunidades podem ser rentáveis e a vontade do ser humano de se conectar com pessoas que gostam da mesma coisa estão fazendo as comunidades se tornarem algo relevante novamente.

Todos os dias surgem novas ferramentas para criação de fóruns, surgem novos servidores no Discord, surgem novas formas de se conectar. As comunidades voltaram (ou nunca foram) e espero que fiquem por muito tempo. A internet precisa ser um lugar para que as pessoas se conectem, conversem, e lutem por um mundo melhor.

Originalmente publicado no meu site: https://gnun.es/blog/5-comunidades-na-internet/

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Gabriel Nunes
Sh*ft Festival

dev criativo, fundador dos eventos Codecon e Sh*ft Festival