Métricas de Acessibilidade — desbloqueando o seu potencial competitivo

Você sabia que 1 a cada 4 brasileiros tem alguma limitação ou deficiência? Sabia que pessoas com deficiência são o maior grupo dentre os grupos minoritários no Brasil e no mundo? E que esse é o único grupo minoritário que qualquer pessoa pode integrar em qualquer momento da vida?

Esse grupo abrange pessoas com deficiência física, visual, auditiva ou cognitiva, podendo essa limitação ser adquirida ao nascer, mas também em decorrência de uma doença ou algum evento traumático, como acidentes. Além disso, com o aumento da expectativa de vida, estamos todos inevitavelmente suscetíveis ao declínio das nossas habilidades devido ao envelhecimento. Nesse sentido, oferecer acessibilidade irá expandir sua base de clientes em potencial, à exemplo da estimativa da desenvolvedora front-end e ativista de acessibilidade Stacha_C, que afirma:

“Se há 1 milhão de clientes em potencial em seu mercado, e 27% têm algum tipo de deficiência (fonte), um site inacessível pode estar excluindo 270.000 clientes em potencial. Se o valor médio do cliente for de US$ 100, isso representa uma perda potencial de US$ 27 milhões em receita.”

Além desses fatos, se faz relevante o relatório de acessibilidade de 2024 realizado pela WebAIM, The WebAIM Million, que traz uma representação do cenário digital no mundo. Ele analisa 1.000.000 de homepages do mundo, sendo essa amostra derivada do The Tranco ranking, que ranqueia os websites mais populares. Com ele, podemos inferir que 25% dos seus potenciais clientes encontram uma média de 57 erros em páginas cada vez mais complexas (com média de 1.050 à 1.424 elementos por página), sendo as falhas mais comuns:

Fonte: The WebAIM Million Report.

Páginas iniciais com falhas mais comuns nas WCAG 2( Tipo de falha WCAG/% de Homepages)

• Baixo contraste — 81,0%;
• Ausência de texto alternativo para imagens — 54,5%;
• Ausência de rótulos de entrada de formulário — 48,6%;
• Links vazios — 44,6%;
• Botões vazios — 28,2%;
• Ausência de definição de idioma do documento — 17,1%.

Mas, você quer realmente ignorar um aumento de aproximadamente 25% da sua clientela/vendas? Precisa de mais métricas para ter certeza?

Segundo a pesquisa de 2022 da Forrester, cada dólar investido em acessibilidade retorna US$100, ou seja, 99% de ROI. E ainda podemos verificar métricas mensuráveis para cada nível de atuação dentro da empresa e que podem ajudar na implantação de um programa de acessibilidade, considerando uma abordagem de Acessibilidade Ágil e top-to-bottom, conferindo grande vantagem estratégica.

Métricas de Acessibilidade:

KPI para Executivos

• Quantidade de defeitos graves em produção — pode-se analisar o tipo de impedimento causados por defeitos graves encontrados no produto finalizado, pois eles representam a fatia de mercado excluída.
• Custo de integração de acessibilidade — esse custo pode ser medido pelo custo de correção de defeitos, no entanto, deve-se atentar que quanto mais tardiamente o defeito for encontrado, maior o seu custo. Isso porque investir em treinamento e em cultura de acessibilidade, à longo prazo, mostra-se bem mais barato do que contratar grandes consultarias ou ferramentas ou até mesmo ser acionado judicialmente.

KPI para Alta administração

• Pontuação de acessibilidade — é interessante acompanhar a pontuação dos seus produtos através de ferramentas como o Avaliador e Simulador de Acessibilidade em Sítios , que proporciona a avaliação de acessiblidade de páginas web de acordo com as recomendações do Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (eMAG). Outras ferramentas interessantes são Accessibility Checker, Accessible Web Checker, ou Lighthouse. No entanto, entenda que essa pontuação não é absoluta, uma vez que há várias nuances e subjetividades que escapam ferramentas automatizadas.
• Resumo da criticidade e impactos dos principais problemas — acompanhar esses dados evidencia produtos com mais problemas ou possíveis carências em treinamento para determinada equipe.
• Prazo de conclusão das correções — este pode ser um KR importante a ser utilizado, pois a sua redução pode indicar redução de custo com intergração de acessibilidade bem como o seu sucesso.

KPI para Gestão

• Quantidade de equipes com/sem treinamento de acessibilidade — esses dados pode auxiliar na criação de um prognóstico da área/produto. Quantas equipes precisam ser treinadas? As que foram treinadas, incorporaram práticas acessíveis?
• Estimativa de nível de esforço (LOE) — a partir dessas estimativas pode-se traçar estratégias de priorização de ações. Para isso, sugere-se o uso da matriz a seguir, que relaciona o nível de criticidade do problema de acessibilidade e o nível de esforço do time para corrigir. Os pontos verdes representam prioridade máxima (urgência), os pontos amarelos representam prioridade média e os pontos em vermelho representam baixa prioridade.

• Quantidade de problemas impeditivos — esse número evidencia a qualidade ou efetividade dos esforços de acessibilidade. Vale lembrar que, geralmente, empresas se comprometem com conformidade A e AA com a WCAG, então espera-se que não haja inconformidades desses níveis.
• Quantidade de problemas de acessibilidade em espera no quadro de tarefas — essa métrica deve compor a cadência de entrega do time.

KPI Equipe de produto:

• Quantidade de problemas impeditivos nos principais fluxos de usuários
• Quantidade de tempo que um problema de acessibilidade fica no backlog
• Quantidade de problemas em novas versões vs. versões anteriores
• Quantidade de problemas em dev vs. em prod
• Porcentagem de novos designs ou atualizações com anotação de acessibilidade

Essas métricas detalham os esforços de acessibilidade da equipe de produto, garantindo a qualidade dos processos de desenvolvimento do produto e a incorporação da cultura de acessibilidade.

Considerações finais

É possível afirmar que acessibilidade digital é crucial para alavancar a inclusão tecnológica de todas as pessoas, bem como é uma grande vantagem estratégica para todas as partes envolvidas no ciclo de desenvolvimento de produto: stakeholders, gestores, desenvolvedores, QAs, e designers. Espero que essas métricas tenham conseguido te convencer a entrar nessa jornada e te engajar nessa causa de tornar o mundo mais acessível.

Escrito por Luisa Cavalheiro, Eduardo Correa e Folgadus.

Referências:

Selecting Optimal Metrics for Accessibility | Deque

Agile Accessibility KPIs: How to Measure What Matters | Level Access

Metrics to measure the ROI of web accessibility | by Stacha_C | UX Collective (uxdesign.cc)

WebAIM: The WebAIM Million — The 2024 report on the accessibility of the top 1,000,000 home pages