Como gerar novas ideias em empresas que criam inovação a partir de pesquisa em tecnologia?

Daniele Zandoná
SiDi Design
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5 min readApr 1, 2022

Mesmo eu tendo trabalhado por um tempo no mercado de empreendedorismo com startups e tendo participado como mentora de eventos do tipo Startup Weekend, Desafio Inova UNICAMP e alguns outros, quando entrei no SiDi para trabalhar com UX na área de inovação tecnológica, enfrentei uma série de dificuldades.

Como funciona?

A metodologia de inovação e de geração de ideias de produtos, serviços e negócios com a qual eu tinha entrado em contato previamente era a de ENCONTRAR UMA NECESSIDADE a ser resolvida e daí então buscar a tecnologia e o meio de supri-la. Quando entrei no SiDi, que é um Instituto de Ciência e Tecnologia, percebi que o método vigente lá era diferente. Primeiro, pesquisa-se a tecnologia (chamada pesquisa de base) e depois buscamos aplicações para usá-la.

O mais próximo que cheguei da forma de pensar de trabalhar num ICT (Instituto de Ciência e Tecnologia) antes de entrar no SiDi foi no Desafio Inova, em que todos os anos, a Inova, Agência de Inovação da UNICAMP, faz um evento que reúne centenas de pessoas para desenvolverem ideias a partir de algumas patentes requeridas vindas de pesquisas de base dentro da Universidade. As diferenças: as patentes já foram requeridas e podem ser divulgadas porque já estão protegidas de roubo intelectual. São reunidas centenas de pessoas de perfis e origens variadas, muitas delas já com estudo e perfil focado em empreendedorismo e inovação. E para somar ao evento, a Inova tem uma incubadora de startups dentro da própria Universidade. É um ecossistema maduro com o intuito de desenvolver as pesquisas e transformá-las em negócios.

Já um ICT tem vários complicadores nesse cenário. O principal é que a tecnologia que está sendo trabalhada ainda está em teste e não tem patente. Ou seja, não pode ser revelada na maioria das vezes. Lidamos com segredos industriais e não podemos falar sobre eles com ninguém, sejam estranhos, amigos ou familiares e, às vezes, sequer funcionários da própria empresa. Além de termos que procurar um problema de usuário para resolvermos, temos que manter segredo sobre a tecnologia com que estamos trabalhando. Tudo isso pode gerar bastante burocracia na hora de lidar com testes e validações em geral. No momento de termos algumas sessões de ideações (brainstormings, design sprints, mashups de ideias), só podemos contar com os colaboradores autorizados a terem acesso ao assunto abordado.

Qual é o maior problema que isso gera?

O problema principal, na minha opinião, é a falta de exposição por parte das pessoas que trabalham na concepção do projeto ao maior número possível de informações que possam gerar novas ideias.

Tendo como base que o nosso cérebro cria sinapses (aquisição de conhecimento e possível geração de insights) a partir de cruzamento de dados e conhecimento prévio com novas informações e cria uma combinação que não “existia” anteriormente, quanto mais assuntos dominarmos, maior é a chance de novas conexões surgirem. Até aí, tudo bem. É excelente termos mentes com grande quantidade de conhecimento dentro de um ICT trocando informações entre si. Mas seria ainda melhor se essa quantidade fosse maior, com mais gente agregando seus pontos de vista e, o que é essencial, com mais diversidade.

Então, após pesquisar sobre o assunto, trago esse post para propor inicialmente ações para fomentar a geração de insights nas empresas e organizações que fazem pesquisa em tecnologia e que partem da mesma para um produto final:

10 itens de ação para fomentar novas ideias dentro da organização:

1. Necessidade de um time com alto conhecimento tecnológico, preparado para focar em ideações nessas condições.

2. Manter-se constantemente atualizado sobre as inovações na sua área de foco e entender muito do mercado em que se trabalha ou no qual se deseja entrar para fazer negócios.

3. Manter a mente aberta para poder cruzar dados e gerar novas ideias.

4. Buscar entender o público-alvo, tentando usar todas as ferramentas UX necessárias. Aqui cabe dizer que não estou falando sobre softwares e sim sobre metodologias, dinâmicas, etc.

5. Tentar fazer o maior número de testes possível para validar as ideias, os mercados, os usuários e suas necessidades.

6. Manter colaboradores com o modelo mental direcionado ao mercado e com noção de “produtização”, assim como colaboradores com o puro pensamento científico. E colocá-los juntos para interagirem e produzirem insights. É importante ter um “mix” de tipos de colaboradores, pois cada tipo terá um foco em mente. Por exemplo: o colaborador com a mente focada no mercado terá como foco a sustentabilidade do projeto, já um que tenha o usuário como foco, pensará em como resolver problemas reais das pessoas e sobre como entregar uma boa experiência a elas. Sem contar, claro, o foco citado no início do texto, isto é, inovação tecnológica (o foco mais praticado nos ICTs).

7. Manter um constante mapeamento de tendências, tanto as macro (mundiais de setores da empresa), como as micro que sejam relevantes para o setor. E disseminar essas informações dentro da empresa.

8. Manter reuniões quinzenais ou, no mínimo, mensais com o intuito de cruzar dados, conhecimentos e insights entre os colaboradores. E também manter um repositório dessas informações que seja facilmente acessível a todos os colaboradores e estimular esse acesso.

9. Manter um programa voltado à inovação, paralelo aos projetos principais da empresa, em que todos tenham oportunidades de gerar ideias e levá-las em frente.

10. E o mais importante, disseminar as informações relevantes dentro da empresa. Como eu sempre digo: “Ninguém tira ideia do nada”, é necessário alimentar a mente com bons exemplos de inovação, de geração de ideias e de conhecimento técnico, científico e social.

Conclusão

Claro, não são ações fáceis de serem executadas. Mas se a empresa, o ICT ou qualquer outro lugar que trabalhe com inovação, não fizer um esforço constante nessa direção, os mesmos correm o risco de serem ultrapassados por seus concorrentes rapidamente. A parte boa dessa história é que quanto mais se praticam essas dicas, mais chances há de elas se tornarem parte do pensamento da empresa e darem bons frutos.

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Daniele Zandoná
SiDi Design

UX Designer Master no SiDi, viciada em novidades, tendências e aprender. Professora na Pós Graduação de Design de Interação na PUC e mentora de inovação.