Por que fazer Green Software?

Guilherme de Almeida
SiDi Design
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8 min readMar 8, 2024
imagem ilustrativa de uma placa de computador com elementos da natura como galhos e folhas verdes, gerada pela inteligência artificial DALL•E 3.
Imagem ilustrativa gerada pelo DALL•E 3

É inegável que atualmente estamos sofrendo efeitos climáticos de decisões que não necessariamente vieram de nós, mas sim de décadas de desrespeito à natureza e aos seus inúmeros avisos. Nossa geração então se vê em um desafio quase impossível, e gosto de frisar o QUASE nessa frase, pois ainda há tempo, mas a cada ano que passa sem mudanças efetivas, o objetivo pende mais para o lado do IMPOSSÍVEL e não do QUASE.

Nossa meta atual, super ambiciosa, é de manter a temperatura global 2˚C abaixo do nível de aquecimento do período pré-industrial (1700 a 1860), ou no limite de 1,5˚C "prometidos" no acordo de Paris em 2015. De lá pra cá, muito pouco foi feito pelos países ditos desenvolvidos, aqueles que devem investir mais de 100 bilhões de dólares por ano em medidas de combate à mudança climática GLOBAL.

A falta de ação dessas nações, e de quase todas diga-se, me faz pensar que talvez o conceito de GLOBAL, não esteja bem estabelecido. Pois todos irão sofrer as consequências, de maneiras diferentes, mas todos sofrerão, em menor ou maior grau.

Software e Tecnologia no cenário das emissões:

Em praticamente todos os âmbitos da nossa vida moderna, estamos contribuindo ativamente para a emissão de CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera. E o software, embora considerado intangível, também não é diferente, pois para existir ele precisa estar contido em um corpo (hardware), que precisará de energia elétrica para funcionar.

Todo hardware passa por um processo de produção que também emite muito CO2. Além disso, criar aparelhos/dispositivos mais duráveis também é um desafio para essa indústria, principalmente quando o objetivo é constantemente vender mais e mais.

O que é software verde?

O Software verde, ou Green Software, é uma iniciativa emergente que busca interceder por e incentivar o desenvolvimento responsável de software por toda e qualquer empresa de tecnologia e toda e qualquer pessoa que produza software, ou seja, desenvolvedores, designers, testers, gerentes de projetos, gerentes de produtos e qualquer outro papel envolvido nesse mercado, seja lá qual nomenclatura a empresa dê.

Pensando em guiar todas essas pessoas e empresas, nasce em 2021 a Green Software Foundation, com nomes de peso por trás para dar mais incentivos e mostrar que o assunto é sério e urgente.

E, segundo a fundação, o Software verde é:

Software verde é o software responsável por emitir menos gases de efeito estufa. Nosso foco é a redução, não a neutralização.

Uma missão que mostra a responsabilização do setor e traz uma ideia ambiciosa e diferente do que o mercado pratica. A REDUÇÃO de emissões em vez da NEUTRALIZAÇÃO. Ou seja, emitir de fato menos CO2 na atmosfera com todos os produtos e softwares desenvolvidos, em vez de comprar créditos de carbono para neutralizar essa emissão. Uma missão muito mais consciente e correta já que pensa em redução de danos e não em compensação de danos.

Essa missão conecta a empresa que irá enfrentar esses desafios com uma agenda global de ESG, trazendo para dentro de casa uma consciência ambiental pensada para a sociedade e responsabilidade ética dentro dos negócios da empresa.

Como fazer?

Para desenvolver um software verde, precisamos considerar a eficiência energética (menos consumo energético, mesmo resultado) e a sustentabilidade do software como parâmetros importantes, além, é claro, da funcionalidade, segurança, escalabilidade e acessibilidade.

Desenvolver um software com eficiência energética requer mudança de mentalidade para todos os envolvidos na cadeia de desenvolvimento do produto e diretrizes para as melhores práticas e ferramentas para um desenvolvimento sustentável de software.

Por que isso é importante?

A energia que consumimos é gerada por diversas fontes, como queima de carvão, gás e óleo sendo os exemplos mais poluentes e hidroelétricas, solar e eólica sendo as mais sustentáveis e com baixo impacto ambiental. Pensando nisso, cada país tem uma matriz energética diferente, logo, um nível de emissão de carbono diferente. Nesse sentido, o Brasil é um bom exemplo, tendo mais de 80% de sua matriz energética de fontes renováveis e sustentáveis.

Gráfico da matriz energética do Brasil com dados de 2022
Gráfico da matriz energética do Brasil com dados de 2022

Já o mesmo não pode ser dito de países mais desenvolvidos como os Estados Unidos, onde temos um grande número de servidores instalados e o berço de muitas tecnologias emergentes.

Gráfico da matriz energética dos Estados Unidos com dados de 2022
Gráfico da matriz energética dos Estados Unidos com dados de 2022

Pensando puramente em matriz energética, podemos concluir que é mais interessante armazenar o seu software na nuvem em servidores que estão no Brasil em vez de servidores localizados nos Estados unidos. É claro que tecnicamente a decisão não pode ser baseada somente neste dado, já que a localização dos servidores implicam vários fatores de disponibilidade, custos e velocidade.

Gráfico da matriz energética mundial com dados de 2022

Uma proposta de empresas localizadas em países com energia "suja" como os Estados unidos é criar fazendas de energia solar e eólica para sustentar toda a sua operação. O que é sim possível, mas muito caro, e mesmo assim está sendo aplicado por grandes empresas.

Otimização de software

O desenvolvimento de Software verde também pensa na otimização do software para que este seja mais sustentável, já que um software mais "leve" consegue ser executado em uma gama maior de máquinas e dispositivos, ou seja, um bom software pode ser executado em um hardware ruim. Neste sentido, damos longevidade para muitos dispositivos que tendemos a descartar com pouco tempo de uso.

Softwares que enviam e recebem poucos dados também contribuem para a redução de CO2 já que fazem menos requisições de servidores.

Podemos também modelar as demandas do software, ou seja, fazer com que essas requisições aconteçam em servidores mais sustentáveis onde temos uma matriz energética mais verde e, até mesmo, em horários específicos em que haja menos requisição da rede elétrica, como na madrugada.

O mundo cada vez mais tecnológico

A fundação para o software verde tem grande importância para a nossa sociedade, já estamos cada vez mais tecnológicos, colocando dispositivos em vários momentos do nosso dia, desde os smartphones aos robôs que limpam a casa, ao ar-condicionado inteligente e à assistente de voz que está sempre ligada, sem falar nos inúmeros sensores e roteadores que ficam constantemente ligados.

Isso explica o alto consumo energético por pessoa, e este número só cresce a cada ano que passa, em apenas 20 anos saímos de 13,022 Kwh (2002) por pessoa para 17,300 Kwh em 2022 no Brasil.

Gráfico demonstrando KWh por pessoa do ano de 2002 ao ano de 2022.
Gráfico demonstrando KWh por pessoa do ano de 1965 ao ano de 2022.

Olhando os dados, tendemos a achar o aumento pouco significativo, mas não somos um país considerado desenvolvido tecnologicamente, então decidi comparar com alguns países ditos tecnológicos como Estados Unidos, Japão, China e Reino unido.

E, analisando as informações, posso dizer que é assustadora a diferença ainda mais quando olhamos para os Estados Unidos de forma isolada, chegando a incríveis 78,754 KWh por pessoa em 2022, isso sendo um redução significativa em comparação aos 91,201 KWh por pessoa do ano de 2002.

Eu não sei que incentivos eles estão aplicando para essa redução, mas ainda é disparada amais alta que temos.

Gráfico comparativo de do uso de energia por pessoa.
Gráfico comparativo de do uso de energia por pessoa.

Nosso consumo energético tem relação com nossas demandas de compra de dispositivos eletrônicos, sendo o maior deles o smartphone, que hoje está nas mãos de grande parte de nossa população mundial.

Mas o nível de hardware e software embarcados nesses dispositivos variam grandemente, dentro de um mesmo país a diferença pode ser enorme, olhando para o mundo então, podemos ter inúmeras marcas e sistemas rodando nas mãos das pessoas.

É fato que trocamos o smartphone sempre que achamos mais adequado, ou fora de moda, mesmo às vezes sabendo que aquele celular de 2 anos poderia facilmente durar mais 2 ou 3 anos, não vou entrar no mérito dos milhares de motivos que nos damos para essa troca, mas esse aparelho velho será revendido, descartado e/ou reciclado. E tudo isso também gera CO2.

No gráfico abaixo vemos a média anual do Ciclo de vida de um smartphone no mundo em meses.

Gráfico ilustrativo do ciclo de vida de um smartphone em meses

Podemos notar uma boa tendência de crescimento e isso se dá à maturidade do hardware e software dos smartphones atuais. Seguido também por uma tendência das Big Techs de aumentar o ciclo de vida seus dispositvos mais caros, garantido a atualização de software por pelo menos 7 anos.

É só o começo.

A iniciativa de Green Software é louvável assim como cada uma das iniciativas que pensam na sustentabilidade do planeta e de nossas próprias vidas nesse planeta, mas é só uma das inúmeras iniciativas e frentes que temos a resolver para tentar evitar o aumento da temperatura global.

Acredito que, como pessoa que trabalha com desenvolvimento de software ao ser tocado por essas informações, é difícil imaginar trabalhar de maneira diferente, então encorajo a discussão, mesmo que seja dentro de uma pequena startup ou grande empresa.
Estamos entrando em um caminho quase sem volta, mas ainda há esperança. E, para acompanhar a rápida aceleração do aquecimento global, conheça o Climate Clock.

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Passionate about problem solving, human behavior and design, I love finding user issues so I can improve their experiences.