Trens elétricos podem melhorar a logística de transportes no Brasil
Além de serem uma alternativa para o transporte de carga, os trens elétricos levam energia, internet e outros serviços para impulsionar o crescimento de áreas remotas do país
Os trens elétricos são uma tendência global para desafogar as rodovias. A eletrificação da malha ferroviária é uma solução para transportar grandes volumes de mercadorias por longas distâncias com menos custos e rapidez. Esse tema está na pauta de países da Europa e de outras regiões do mundo para alcance de crescimento econômico com preservação do meio ambiente.
O Brasil também está debatendo esse assunto, que ganhou mais destaque depois da greve recente dos caminhoneiros que praticamente parou o país. O incidente chamou atenção para os riscos que a economia enfrenta ao centralizar a logística de distribuição em um único meio, que é o rodoviário.
Cerca de 65% do transporte de carga no Brasil são feitos pelo sistema rodoviário, segundo o Plano Nacional de Logística (PNL), elaborado em 2015 pelo Ministério de Transportes. As ferrovias respondem apenas por 15% da logística de distribuição do país.
Além de vencer longas distâncias para integrar as fontes de matérias-primas às indústrias e, posteriormente, aos mercados consumidores, empresas enfrentam a precariedade das estradas para a distribuição de suas mercadorias.
De acordo com a Confederação Nacional de Transporte (CNT), 61,8% das rodovias brasileiras estavam em estado regular, ruim ou péssimo em 2017. Na comparação com 2016, esse índice era de 58,2%. A situação precária das estradas contribui para a lentidão do escoamento de cargas e encarece os custos do produto final.
Tecnologia impulsiona economia
A malha ferroviária brasileira tem uma extensão de aproximadamente 30 mil quilômetros. Desse total, apenas 13 mil quilômetros estão em operação, sendo que a maior parte dos trens é movida a diesel.
Andreas Facco Bonetti, CEO da Siemens Mobility, afirma que o Brasil tem grande potencial para mudar o cenário atual das linhas férreas com eletrificação dos trilhos. Ele explica que a migração para nova tecnologia traz uma série de ganhos para o país, que vai além de mais eficiência para o transporte de carga.
As ferrovias eletrificadas criam uma cadeia para a produção da energia que abastece tanto as locomotivas quanto regiões próximas. Um projeto de eletrificação beneficia áreas remotas do país que ainda não contam com iluminação pública.
Bonetti destaca que o mesmo sistema usado para levar energia para os trens pode passar por redes de fibra óptica para entregar serviços de telecomunicações como telefonia e internet de banda larga. São apenas alguns dos fatores para impulsionar o desenvolvimento econômico no entorno das ferrovias eletrificadas.
“A eletrificação pode ainda permitir avanços na área de educação e saúde, por exemplo”, comenta Bonetti, citando a disseminação de aplicações de ensino a distância pela internet para capacitar professores e profissionais de saúde. Com esse recurso, médicos locais podem se atualizar via teleconferências com especialistas localizados em qualquer parte do mundo.
Com esse potencial, as ferrovias eletrificadas assumem um papel mais amplo do que simplesmente transportar. Essas locomotivas geradoras de energia tornam-se autênticos eixos sociais, ambientais e econômicos.
O custo para a construção de uma ferrovia eletrificada é inicialmente maior que o de uma via férrea convencional, pois prevê investimentos na infraestrutura, como em geração, transmissão e distribuição de energia.
No entanto, a iniciativa, segundo a Siemens, traz retorno socioeconômico ao país, além de criar atratividade para investidores, resultando em desenvolvimento local, inclusive na geração de empregos mais qualificados. E esses ganhos devem ser levados em conta ao se fazer um investimento em novas ferrovias.