Cinzas do sol

1º Parte. Por José Cão

Revista Siesta
SIESTA
14 min readMay 26, 2021

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Ilustração de André Silva

Assumo que errei desta vez. Mas não todas as vezes em que me deitei com ela. Ela queria ficar feliz e eu também. Apenas. Mais foi ainda o que pela ultima vez pude ouvir de seus lábios, assim que deixamos todos os nossos pedaços pelo seu quarto e pela sua cama. Apenas queria mais e mais dela, mas sabia que para ela já bastavam as duas últimas vezes que fizemos amor na mesma tarde.

Ela sempre me dizia que era tudo o que tínhamos por hoje. Achava que não, não para mim. Não fiz mais nada pelo momento.

Devo apenas buscar em mim essas respostas, pois em nenhum outro lugar acherei tais histórias. Em seu corpo já não era capaz de encontrar mais nenhum conto ou poesia. Não há qualquer drama nisso. Sei que minha vida já não era mais dela há algum tempo, ou talvez a sua já não fosse mais minha. Como era bom conversar com ela, antes ou depois, ainda assim. Ainda hoje gostaria de conversar com ela, saber como se passam seus dias, se ela ainda tem a mania de empilhar as louças sujas na pia por semanas ou se ainda cai de amores pelos galãs esquecidos ou ignorados das comédias que provavelmente apenas nós dois vimos. Não havia jeito de ficarmos juntos…

No dia de nossa viagem busquei-a de carro em sua casa. Nenhum outro adjetivo poderia agora usar para descrevê-la a não ser estonteante, apesar de ligeiramente pueril com sua pequena mala nas costas e mãos sobre as correias como quem espera pontualmente os pais atrasados para voltar a casa. Eu estava de fato atrasado. Pronta para a viagem ela estava com o sorriso mais claro do que o sol em seu rosto, os seus cabelos ligeiramente claros e encaracolados brilhavam naquele dia de sol de fevereiro, como meu olhar ao vê-la entrar em meu carro. A cidade estava cheia a nossa volta, mas nós estávamos completamente vazios, prontos para sermos preenchidos apenas com o que viria de nossa primeira e única viagem juntos.

Seu corpo âmbar estava apenas à espera do calor e dos raios de sol para ficar em cor perfeita ao deitar-se ao meu lado na praia para suarmos todas as nossas vontades sobre a areia e sob nossas cobertas. Escolhemos pegar o caminho mais longo pela serra saindo de São Paulo para aproveitar cada milímetro verde de mata que pudéssemos encontrar em nosso caminho. A estrada Rio-Santos seria perfeita, pois afinal ela também queria dirigir um pouco em meio a mata. E ela merecia. Ela dirigia realmente bem. Muito melhor do que eu pelo menos. Eu começaria, pois o carro era meu e também seria o trecho mais chato, segundo ela.

Suas pernas pernas estralavam sobre o banco do carro ainda sem areia alguma e seu lindo vestido subia pelas curvas de meus dedos para além do interior de suas coxas. Ela não me deixava esquecer jamais o que estávamos fazendo ali com nossos amores e nossos corpos. Ela sorria por trás de seus óculos escuros ao me beijar e pedia para que eu parasse de enrolar nossa partida em direção ao mar e ao nosso amor.

Sabia que tínhamos ali três horas de estrada pela frente. Tanque e corações cheios e preparados para o que vier de nós e nossas não veladas vontades. Até hoje me custa lembrar e entender quando e onde aceitei fazer tal viagem de tal jeito. Hoje certamente não o faria mais. Não mais sairia de minha casa pela manhã para enfrentar a Anchieta seguindo por Cubatão, Guarujá e então sempre reto até quase o final de São Paulo. Pegaria um ônibus. Fim. Estava porém apaixonado até os meus últimos fios de cabelo pelas suas conversas, curvas, olhos, hálito e voz. Faria o que fosse para sentir o que fosse com o que pudéssemos amar e jurar. Não quero soar aqui casmurro. Espero não o ser nem parecer, pois ainda a amo muito, mais como disse, não havia jeito de ficarmos juntos…

Eu sempre olhava para ela com ar de convencimento de que não faltaria nada para ela nem para mim. Ela falava sem parar pelo começo de nosso caminho. Falava de sua mãe que não era capaz de permanecer com nenhum de seus bons namorados por muito tempo. Apenas com os ruins. Falava de seu pai que não era capaz de lidar com a própria mulher e nem com a própria sexualidade e às vezes, sem querer, a tratava mal. Normalmente às quartas-feiras. Gostava de conversar com ela, pois nunca tinha a sensação de que conversávamos sobre amenidades. Jamais. Jamais falávamos de novelas ou séries de televisão, de canções ou atuações com simples adjetivos ou listas de filmes ou livros relacionados. Ela não tinha paciência para nada disso. Apesar de não ser de muitas leituras ou longos filmes depois das 21, ela tinha uma sensibilidade natural capaz de perceber as mais ocultas intenções das pessoas a sua frente e tinha a maior das paciências para discutir passagens ou falas repetidas vezes, mesmo que depois de poucos dias essas próprias interpretações fossem completamente opostas. Logo de início ela gostava de contrariar, mas depois acabávamos por concordar em alguns pontos. O psicodélico final de 2001 foi por exemplo de simples chegada ao planeta Júpiter pelo astronauta Dave Bowman , já solitário, para tornar-se num encontro com o existir e o mistério da vida, com a exibição do envelhecimento, possível morte e o aparecimento do feto pouco antes dos créditos finais. Essa foi uma linda discussão que tivemos sem triste fim.

Ela tinha outra sobrenatural capacidade de perceber o que seria possível retirar ou não de tal ou tal pessoa a sua frente. Seu trabalho na indústria farmacêutica, apesar de atrelada à área técnica, era tudo menos direcionada ao exato. Seu departamento era o de vendas e ela observava seus colegas com a capacidade de ver suas almas, geralmente focando em seus defeitos, como se necessita no mundo real dos adultos. Ela não os julgava, quando não teria de lidar com eles, mas sabia bem em poucos minutos em quem poderia confiar ou não. Instantânea era também a sua percepção de quem queria seu corpo puramente e com quem ela se permitiria ir até lá. Dessa percepção aliás, ela sabia se utilizar muito bem também, mas guardava seus segredos a poucos, apesar de aparentar o contrário. Eu tive a grande sorte de ter sido escolhido, mas talvez seu juízo não funcionasse como deveria muitas vezes. Ela gostava de dizer que era para ser. Eu também, apesar de não admitir fora deste texto. Aparentemente eu estava do lado certo, segundo suas análises e sentidos daquele instante, ali no carro. Ela não poderia ter escolhido lugar com pessoas mais cegas às suas supostas capacidades sensitivas. Talvez até por isso gostasse de trabalhar por lá. Todos faziam seus trabalhos, e ela o dela.

Perguntei a ela a razão de ela trabalhar por ali, então. Dinheiro. Além disso jamais era necessário fazer hora extra. Tudo o que a mais comum das almas poderia querer. Ela vendia muito bem, aliás.

Logo que entramos na rodovia seu folgado, mas exato vestido mostrou o lado de sua coxa, marcado pelo sol de São Paulo nos finais de semana. Ela não vestia nada por baixo. Fiz vezes de encostar e parar o carro pelo acostamento, ela me proibiu. Gostei. Minha cabeça já estava em outro lugar há algum tempo em realidade. A concentração ali era obviamente necessária no entanto. Ela me contou uma história que agora não me lembro ao certo sobre uma de suas colegas que supostamente havia dormido com um cliente ou algo parecido, mas assim que começaram a tocar os primeiros acordes de Santeria do Sublime, mudei a música rapidamente e pude ouvir os metais do ska da música seguinte para minha tranquilidade. Nenhum comentário. Ela apenas riu quando troquei de faixa depois de olhá-la brevemente com o canto de meus olhos. Ela também mudou de história.

Não eram muitas as intersecções musicais que evitavam brigas, quando decidíamos ouvir algo juntos. Eu não suportava a maioria de suas predileções em música nacional ou internacional, e ela também não se movia muito pelas minhas audições universitárias-pequeno-burguesa-brasileiras. Sting, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, algumas canções de Milton e algum reggae eram zonas neutras em nossos caminhos comuns pelas ruas de São Paulo. Ela morava no alto da Lapa sozinha em uma bela casa herdada dos avós. Eu morava então no Itaim com meus pais e dois irmãos.

Seu pai morava com a nova mulher perto de minha casa na Rua Itacema e sua mãe em Ribeirão Preto, para aonde ela ia, vezes alegre, vezes triste. Eu ainda tinha meu pai e minha mãe. Morávamos todos juntos com meus dois irmãos mais novos. Sempre que chegava em sua casa, vivia algo não conhecia: a paz e solidão de uma casa de apenas um andar e dois gatos que se juntavam aos móveis da sala sem mais nada, nem acima, nem abaixo para interromper nossos dias vividos entre poucos paços além do quarto e de sua cama.

No dia anterior a nossa viagem ela havia tido uma briga com seu colega e ex-namorado durante uma pequena saída da sala de reunião. Claro que todos perceberam assim que o ex-casal entrara na sala com a cara mais insuspeita e sorridente de toda a semana de trabalho. Seu chefe tentou seguir a reunião por vídeo conferência com alguma empresa, mas falou em seu ouvido que preferia que ela fosse para casa. Amanhã estaria tudo certo.

Ela voltou. Ele não mais apareceu na empresa. Ela nunca me contou muito claramente até onde foram suas brigas. Perguntei várias vezes, mas ela negou. Ele era um tanto instável como dizia ela. Ouvir algo assim sair de sua boca, me impressiona. Assusta-me em realidade. Eles brigavam por vezes em assuntos que homens, como dizia ela, não ligavam.

- Ele não gostava do meu jeito de comer ou da cor de minha calcinha. Falava que tal calça não combinava com meu decote etc.

Claro que ela sabia muitas vezes qual seria a próxima reclamação de seu ex. E fazia o exato, para causar o certo. Ela não se importava com a maioria dessas coisas. Às vezes mudava de roupa ou tentava aprender a falar menos quando comia, quando achava que deveria, mas o que realmente ela achava insuportável, e dizia ela ser a razão de sua separação, era o fato de ele não conseguir ganhar nenhuma discussão com ela em nada.

- Como posso agüentar isso ? Ele não conseguia me vencer em nenhuma argumentação. Vivia com livros e livros na bolsa com mestrados e doutorados, mas não conseguia discutir comigo em quase nenhum ponto em realidade. Se falava de minha calça não conseguia dar sequer razão, ou comparação. Se discutíamos sobre qualquer dos filmes que víamos acabávamos nos mesmos padrões de análise dos livros de autoajuda de que todas os homens tem que ser alfa-beta-sigma ou frouxo.

Claro que perguntei se eu mesmo não sofria de certos mesmos maus em minha psique masculina. Não. Fiquei feliz.

Ela dizia admirar a capacidade de alguém de não falar quando não necessário. Mais do que o contrário; mal que ela sofria em realidade… Não é preciso ganhar todas as discussões. Nem começá-las. Quando conversávamos e eu percebia que tal assunto poderia levar para alguma discussão desnecessária, quando conseguia perceber a tempo em realidade, eu apenas levava a discussão em forma quase séria, mas depois de dez ou quinze minutos começava a falar absurdos, sem qualquer consistência em relação a o quê havia sido discutido até ali. Quando percebia que estávamos chegando no calor de nossos últimos argumentos antes de ela torcer seu nariz e serrar o seus punhos, eu apenas sorria. Ela percebia que há algum tempo estávamos discutindo em vão. Ela ria alto, fechava os punhos e cobria o rosto. Em seguida xingava-me por alguns instantes e procurávamos algum lugar para fazermos amor. Esse Clichê para nós era verdadeiro…

Não era necessário ganhar nada. Dizia ela contradizendo-se.

- Apenas não ser um idiota e fingir que acredita no que está falando. Ele não tinha opinião nenhuma. Ele não era movido por nada. Não conseguia achar mais nada nele que me parecesse verdadeiro, além do vazio que carregava todos os dias para o trabalho. Apenas queria parecer que sabia o que falava. Apenas queria parecer culto. Apenas queria parecer ser inteligente. Apenas queria parecer que me amava. Não conseguia saber se ele realmente me amava ou se apenas fazia parte do seu jogo de reflexões pro espelho dele. Não se importava na verdade com nada do que acontecia. Queria apenas mostrar que sabia do que estava falando e que falava muito bem. Ele não era capaz de comover-se com nada, a não ser seu salário e o bônus no final do mês. Sentia que ele era completamente vazio por dentro. Ainda assim era o melhor em sua área no que fazíamos na empresa. O puto vendia muito ! Claro que fui um pouco atrás disso, quando tentei ficar com ele. Não consegui mais… Fiquei provavelmente mais do que deveria com ele. E ele realmente estava disposto a ficar comigo para o resto da vida, mas não consegui.

Dizia ela olhando pela janela do lado oposto, batendo seus dedos no vidro.

- Ele não precisava, mais do que isso para ter sucesso por ali.

E porquê terminou com ele ? Perguntei eu apenas com minhas sobrancelhas levantadas. Ela levantou sua saia e quase me fez perder uma das curvas serra para a mata. Nunca mais homens fortes de escritório! Ela gritou gargalhando.

Eu não poderia ser mais diverso do que seu rapaz anterior. Nunca fui capaz de pisar numa academia, a não ser para acompanhar meu pai ou minha mãe e nem cheguei perto de ganhar bônus em trabalho algum.

Meu chefe na universidade nunca me pagou um almoço, quando conversávamos entre um carregar e outro de bandejas no refeitório dos professores. Amava a companhia dela por ela me lembrar exatamente do que estava descansando, quando sentava a frente a meu chefe no almoço. Ele também gostava de falar enquanto comia e mastigava seus os ovos cozidos da salada com a boca semiaberta, enquanto comentava os erros dos trabalhos de outros colegas. Eu comentava junto.

Trocamos de direção no carro num acostamento pouco antes da entrada para Toque-toque pequeno. Não era o acostamento mais seguro nem o melhor que poderíamos encontrar, mas ela não me deixou passar mais uma vez a próxima parada. Eu já estava a protelar nossa troca há alguns quilômetros e ainda não sei ao certo se por puro machismo inconsciente ou apenas para testar sua reação. Fato é que não houve mais chance. Trocamos nossos postos e alguns beijos e apertos sob a sombra da mata infelizmente sem muitas chance para evolução. Sentada ao volante ela acertou sua saia com toda a calma e graciosidade e colocou o Sublime que eu havia negado há quase duas horas. Agora entendo minha relutância. Ela sorria como uma menina ao dar a seta e acelerar em nossa primeira curva atrás de seu volante.

Não poderíamos ter viajado num dia mais calmo na estrada. Estávamos completamente fora de temporada ou feriado e pudemos ver a estrada sem cansaços ou paradas abruptas. Ela não conseguia parar de falar em frente ao volante como já esperado e quando ria, ria lindamente alto e com os dentes à mostra para toda a estrada e mata. Ela ria sempre fechando seus olhos e inclinado a cabeça aos céus, tamborilando os contratempos do reggae sobre o volante com seus dedos cumpridos. O fechar de olhos me preocupava e ela logo percebeu sem precisar de palavra.

- Você está com medo ? Por que você está com medo ? Acha que eu estou falando demais como sempre ?

- Apenas tenho medo quando você sorri. Mas logo depois rio junto. Rio de meu medo e de seus lindos dentes e cabelos na frente de seus óculos escuros. Respondi, achando que a conversa continuaria normalmente.

- Quer que eu pare o carro ? Quer dirigir você ?

- Linda, não quero que você faça nada. Apenas falei. Apenas te elogiei e expressei minha preocupação. Mas se quiser fazer algo em relação a isso, é você quem decide. Prefiro você falando do o que estamos fazendo agora.

- Como assim, o que estamos falando agora ?! Você não gosta que eu dirija e fica emburrado com a minha alegria. Posso parar o carro agora.

- Linda, fique tranquila. Apenas sugeriria que você não fechasse os olhos quando risse ao dirigir.

- Ai. Você me chama de burra e inconseqüente ao mesmo tempo e ainda acha que pode falar nesse tom de sobriedade.

- Gostosa, quero chegar vivo. Só isso.

Talvez minha ultima frase tenha sido desnecessário. Gostosa era para ser apesar um elogio.

Ficamos a ouvir à musica em silêncio até a passagem por Caraguá. Quando ela me falou que ia muito àquela praia, quando mais nova. Perguntei se ela não queria parar para andar na areia. Ouvir o mar e tomar um sol por ali mesmo. Ainda estava cedo e tínhamos ainda uns 40 minutos até chegarmos a Ubatuba nosso destino. Ela sorriu novamente. Mas achou melhor não. Queria chegar em casa para fazermos amor o quanto antes e não ter mais de se segurar para não rir. Seu sorriso me aliviou e ela me olhou brevemente mostrando seus dentes. Foi por pouco, já estava tudo quase bem…

A esquecida casa de minha avó era e ainda deve existir próximo à praia da Almada, em frente a uma pequena colina cercada de mata e um belo quintal de grama ainda com cheiro de corte. Abrimos as janelas para vermos melhor o número das casas e sentir o ar úmido e doce do litoral ao renunciarmos ao ar-condicionado. Esse ar quente nos faria companhia por alguns dias dentro e fora de nossa pequena casa. No pequeno caminho de terra para a casa víamos flores sobres os muros das casas pelo caminho e libélulas voando rasantes ao lado de nosso carro. Passamos por casas lindas de muros cobertos por trepadeiras ou pintados de amarelo, rosa e verde, mas disse para ela continuar reto e reduzir suas expectativas. Chegamos em frente ao muro não muito alto da casa de minha Avó, sem pintura e sem trepadeiras. O Portão era de madeira escura e chorava por uma simples demão. Faz 6 anos que tudo o que tinha dali eram as lembranças de verões passados, e a nunca fora grandes coisas, mas as memórias eram boas.

Ela se manteve com sorriso no rosto e dizendo que a casa não importava. Estávamos aqui por nós, pela praia e pela natureza. Saí do carro para abrir o portão para entrarmos com o carro no quintal e logo vi que não seria fácil tarefa passar o carro por ali. Uma das bandas do portão estava completamente enterrada no chão. Se empurrava o portão empenava-se apenas para frente ou para trás sem sair do lugar. Abri a outra banda e entrei para olhar o estrago do tempo pelo lado de dentro. O rapaz contratado para cuidar da casa logo apareceu e nos cumprimentamos. Ele havia colocado uma pedra ali fixa no chão para manter o portão preso. Sem ela, estaria aberto dia e noite como disse o rapaz com as mãos na cintura e os olhos apertados.

Ela entrou e estacionou o carro no canto do jardim com a baliza mais perfeita. Apenas pude rir, e rezar para que tudo na casa estivesse pronto para trancarmos a porta do lado de dentro. O rapaz antes de ir-se, falou que se precisássemos de algo estaria na casa a 50 metros dali. A faxina já estava feita. Acho que dava para sentir meu estado de ligeira ansiedade.

Abri a porta do carro para ela e além de vê-la tirar os óculos pela primeira vez, ela aumentara o som, com o Zoio de Lula a destruir a caixas de som de meu pequeno, mas bem vivido hatch. Ela continuo sentada tornada ou volante de olhos fechados apenas balançando sua cabeça com o ritmo da canção. Charlie Brown nunca foi de minha grande predileção, mas ali ela conseguia me fazer esquecer completamente disso. Ela deu impulso com seus braços segurando pelo volante e banco e virou para descer do carro de pernas fechadas. Pousou seus tênis brancos na grama recém-cortada delicadamente e dei-lhe a mão. Nos abraçamos e beijamos por alguns instantes sem palavra. Coloquei minha mão sobre sua coxa, no início de sua saia e deslizei meu dedos para cima devagar olhando para seu rosto. Sorriamos sem dentes, nem piscares. Ela segurou minha mão sem força:

- Aonde fica o nosso quarto ?

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