Selic a 7%. E aí?

Cassiano Ricardo Dalberto
Silly Random Walks
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2 min readDec 7, 2017

A queda da meta da Selic ontem (06/12), para 7% ao ano, marca o piso histórico da série (que se iniciou em 1986). Há dois pontos importantes a se ressaltar sobre isso:

1) a decisão sobre a meta foi produto de decisões técnicas, não políticas. Não foi sempre assim, e é importante que essa característica não se perca mais — a história já mostrou que o preço a se pagar é alto demais.

2) esse cenário foi facilitado pela desinflação acelerada, fruto de diversos elementos (safra recorde, que reduziu o preço dos alimentos; taxa de desemprego elevada, que não gerou pressões de demanda), que fez a política de aperto monetário surtir efeito mais rápido do que o esperado. Isso criou a “barriga” que se observa na série dos juros reais ex-post apresentada no gráfico abaixo, quando os juros praticados nos últimos 12 meses atingiram quase 10%, após descontada a inflação acumulada desses mesmos 12 meses¹.

Diante desse cenário, o que esperar para 2018?

Uma pista está na série dos juros reais ex-ante. Tal taxa representa a diferença entre as taxas esperadas para 12 meses adiante, descontadas da inflação prevista para esse mesmo período². Como o gráfico mostra, espera-se que ao longo do próximo ano os juros reais convirjam para uma taxa em torno de 3%. A própria série dos juros reais ex-post já apresenta essa tendência, com queda rápida desde agosto, e inclusive já fechando novembro (7,7%) em patamar abaixo do que era inicialmente previsto para janeiro de 2018 (8%).

Juros reais menores são fundamentais para que mais recursos passem do setor financeiro para o produtivo e para que a demanda e o emprego possam voltar a crescer. Mas não nos enganemos: mesmo em 3%, nossos juros reais são o terceiro maior do mundo, atrás apenas de Turquia e Rússia, e empatados com a Argentina. E, com mais de 12 milhões de desempregados, ainda há um longo caminho a ser percorrido.

1: os juros praticados nos últimos 12 meses equivalem aos fatores acumulados da taxa Selic. A inflação utilizada no cálculo é o IPCA.

2: as taxas esperadas para os próximos 12 meses são dadas pela taxa referencial de swaps DI pré-fixada de 360 dias, enquanto que a inflação prevista (IPCA) é estimada pelo Focus.

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Cassiano Ricardo Dalberto
Silly Random Walks

Doutor em Economia (UFMG), compulsivamente curioso, observador de pássaros, filósofo de boteco