“Esse silêncio nos fez bem, pra voltar melhor” — 10 anos da Pense!

Jaqueline Packowski
Silva Home Reads
Published in
7 min readNov 28, 2017

Eram 14:30 de sábado de uma tarde quente de outubro em Porto Alegre.
Eu fechava minha mochila na corrida, atrasada no horário que eu mesma tinha feito pra mim. Peguei um carro aleatório por qualquer aplicativo e larguei, destinada pra famosa cidade baixa. A CB essa hora era frequentada na maioria por perdidos e a ocasional família saindo do almoço em qualquer churrascaria.

No carro, chequei a mochila e a cabeça pela terceira vez pra encontrar tudo que era pra estar lá. Na mochila: Caderninho pra anotações, câmera, lentes, bateria, carregadores. Na cabeça: quem eu ia entrevistar, por que, como entraria, se já me atrasei, a luz e não sei o que.

Chegando no Preto Zé, percebo que cheguei a tempo e a ansiedade de atraso foi por nada. Queria chegar cedo, primeiramente, pra poder pegar a montagem de palco e talvez conhecer melhor o lugar, a organização e o pessoal que estivesse por lá. Afinal de contas, eu, a menina da câmera na mão, conhecia um total de zero pessoas e nunca tinha feito algo sequer parecido com o que tinha ido até lá fazer.

A passagem de som começou, equipamentos no chão da casa, espalhados. A uma bateria estourando nas caixas de som. A galera no palco, em meio a dezenas de cabos e pedaleiras — e várias outras coisas que desconheço — ouviam o som atentamente, tentando regular, pelo que me parecia. Aproveitei e me apresentei pra produção, os queridos da Unrest.

Assim que deu uma pausa, fui recebida pelo Cristiano, o guitarrista da Pense. Ele me apresentou ao restante da banda e me contou que estavam montando o equipamento para a passagem de som. Ou seja — estavamos a recém começando o evento.

Os shows programados pro dia eram Tripwire, Inimigo Eu, e a tão esperada Pense. Enquanto a gurizada realizava a passagem de som, me ambientei. Fiz alguns testes com a câmera pra ver a luz, tirei algumas fotos da passagem de som, e fumei (sim, fumei) alguns cigarros na rua. Acompanhei o Cristiano enquanto ele conversava com os fãs que iam chegando pro show, fui apresentada a uma pá de gente nova e logo socializávamos com as outras bandas da noite.

A Pense, pra quem não conhece, é uma banda de hardcore que surgiu em 2007 nos confins de Minas Gerais. O grupo ja passou por diversas formações, algo até normal, digamos, na cena do hardcore brasileiro. Hoje integram a Pense o Lucas Guerra (vocal), Cristiano Souza (guitarra), Ítalo Nonato (Guitarra), Judá Ramos (baixo) e Charles Taylo (Bateria). A Pense vem retomando a carreira que foi pausada num hiato do início de 2015 e durou quase dois anos. Cesando o hiato eles voltam trazendo uma tour especial em comemoração aos 10 anos da banda.

Após terminar a passagem de som das bandas de abertura, peguei meu caderninho com anotações e perguntas e fui conversar com Cristiano. Eu nunca havia entrevistado alguém. Não tinha a menor idéia de como ia ser e como ia me sair. Devido a isso, uns dias antes montei uma pauta com algumas perguntas básicas pra me guiar: Por quê entrar em hiato? Por quê voltaram? O que mudou? Quais os novos projetos? E o DVD, hein?. E pesquisei sobre a banda, os integrantes e as músicas. Afinal, queria fazer bonito na minha primeira experiência como “entrevistadora”.

Três quintos da Pense. Da direita pra esquerda: Charles, Cris, Judá

Muito calmo e com um sotaque típico, Cris me apresentou a história da banda. Sentamos no bar do Pub enquanto aguardavamos o Ítalo (Guitarra) chegar para tirarmos algumas fotos da banda. Pra começar, perguntei sobre o hiato. Por quê vocês acharam melhor pausar? Ele explicou, de maneira muito simples, que o maior motivo da banda ter parado foi um só: o cansaço. De primeiro momento, aquilo me estranhou pela trivialidade. Cansaço?

Mas tem uma certa razão aí. Afinal, a banda era naturalmente independente. Isso carrega uma inexperiência que resulta em falta de estrutura. Estrutura que a Pense não tinha para a quantidade assídua de shows que vinha fazendo. Indo muitas vezes com o próprio carro ou ônibus para os shows e ficando “aonde dava”. A maioria dos integrantes se dividia em vários empregos além da banda. Dinheiro conta e tudo começou a se tornar cansativo, desgastante. Com o fim de uma turnê, segundo ele, a banda optou por dar um ponto final aquele momento.

Após saber o motivo da pausa, quis saber também o por quê de a banda ter voltado. O Cris me fala que primeiramente a banda decide voltar realizando cerca de um show por final de semana. A ideia era ir devagar, não ficar algo tão puxado como antigamente e contar com uma estrutura melhor. Momento é importante e os caras conseguiram tocar a vida profissional dentro e fora da banda, cessando o hiato por definitivo.

Peguntei o que ele achava que havia mudado desde o hiato até o atual momento. Aí, com muita convicção ele diz “O hiato foi bom pra banda, acredito que voltamos com mais experiência e maturidade, uma bagagem melhor pra saber lidar e levar a banda adiante, a pausa se fez necessária e trouxe um retorno positivo pra banda” o que é refletido nos shows enérgicos e lotados de fãs.

Do hiato para cá ocorreram mudanças nas baterias da banda que com a saída de Danilo Vilarino, que decidiu sair da banda afim de se dedicar a projetos pessoais, quem assumiu as baquetas foi o também mineiro Charles Taylo, que diz ter deixado um trabalho fixo como professor e a faculdade de engenharia para se dedicar a essa nova fase da banda.

“A banda atualmente tem trabalhado na produção de um novo álbum” é o que diz Cristiano quando questiono sobre no que eles tem trabalhado atualmente. Ele comentou que as pessoas deveriam esperar pro próximo ano, álbum que, segundo ele, deve ser lançado em 2018 de forma independente. “Não vamos fixar uma data para o lançamento, pois se uma data for fixada sempre acontece de não ficar pronto a tempo. Conosco as cobranças são gritantes. Devido a isso foi decido que não haveria uma data certa para o lançamento.”

Faltava algo, porém. Eu queria saber do famigerado DVD, entitulado Viva Como Se Houvesse Um Final. No facebook da Pense, praticamente todos os posts e publicações da banda tem um fã questionando “E aí, quando sai o DVD?”. O disco com o áudio da apresentação está disponível no Spotify desde julho.

Mas e aí, e o DVD?

Com um certo receio sobre o assunto, o Cris me conta em off que ocorreram alguns imprevistos com as filmagens, e esses imprevistos impactaram a produção do DVD. Ele ainda afirma que em breve a banda fará um pronunciamento a respeito disso, pra clarificar e encerrar o assunto de vez.

Tripwire

Após nossa conversa, o Ítalo já havia chegado e eu então reuni os meninos da banda e fomos fazer fotos promo do grupo pelos entornos do pub, isso antes de iniciar o show das bandas de abertura. Em seguida começaram os shows (na hora, parabéns Unrest!) e eu fui atrás de registros dos shows das outras bandas.

Aprendi que assim é melhor para me preparar e me acostumar com luz do local.

O show da Pense começou e parecia que um pandemônio ia se instaurar no Preto Zé. Os fãs literalmente vibravam, cantando junto todas as músicas a todos os pulmões. Porto Alegre representou demais como público. Teve roda punk, gente cantando junto no microfone e muitas, mas muitas pessoas subindo no palco e se jogando, stagedive de show de hardcore mesmo.

Pra mim, que nunca havia ido em um show de Hardcore a experiência foi totalmente nova e por que não, muito louca?

Até quem não é fã ou conhece a banda se sente vibrante, a energia passada por banda e público é única. Durante o show era até difícil de fotografar, pois a galera te empurra junto e sequer nota, tamanho o êxtase em que se encontram. Se as caixas de som não foram perdoadas em meio aos empurrões, imagine eu.

Mesmo com imprevistos que chegam a ser clichês, como cordas arrebentando durante o show, nada parou os caras. Em suma, um show incrível, bem organizado, o som glorioso e acima de tudo de uma energia inacreditável, não vou negar que desde então fico ouvindo Revitalizar e me dá uma vontade de ir varias outras vezes assistir esse show enérgico.

A Pense fez dez anos e a Pense está de volta, meus amigos.
Vida longa!

A Silva Home Movies é o selo de produção independente mais aconchegante.
Queremos incentivar você a fazer, produzir e lançar suas ideias.
Entre em nossa casa e compartilhe suas ideias e histórias.

https://www.youtube.com/silvahomemovies

--

--