A Equipe (ou a falta dela)

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6 min readNov 13, 2018
foto: Matheus Gomes

Em uma ida ao cinema, já parou pra contar quanto tempo de duração tem os créditos? Na média de dois a três minutos ou até mais, dependendo do filme. São muitos cargos, equipes e nomes. Em grandes produções, estão envolvidos dezenas de atores, equipes inteiras de filmagem, transporte, luz, efeitos especiais, maquiagem, figurino, produtores executivos, gaffers e muitos outros cargos.

Não é o nosso caso.

Na realidade mais dura de quem faz cinema sem muito financiamento, as equipes ficam na casa dos dois dígitos e, por vezes, em escalas menores ainda. O livro de Robert Rodriguez se chama Rebel Without a Crew por um motivo.

Para produzir Branco Suja Fácil, tivemos uma equipe de simpáticas oito pessoas. A produção foi extremamente compacta e envolveu marinheiros de primeira viagem com gente mais experiente. Para produzir documentários, já fui por vezes sozinho fazer filmagens, portando apenas com a câmera e gravador.

Uma recomendação básica que só aprendi fazendo: planeje uma equipe condizente com o tamanho da produção. Não canso de dizer que estamos em um cenário independente e de baixo orçamento, isso tem de influenciar todas as decisões que você tome. Por um lado, serve de aprendizado para lidar com grandes orçamentos no futuro.

A escolha da equipe é feita, obviamente, baseada no trabalho em cima do roteiro, como vimos no capítulo 2. Com base no roteiro que usamos, decidi que seriam necessários os seguintes profissionais:

Acabei assumindo dois papéis — fiz vias de diretor e câmera. O papel do diretor em uma pequena produção (ao meu ver, ao menos) geralmente é do criador daquele projeto, que também contrata a equipe. Foi o meu caso, onde dividi produção com outras duas auxiliares. Os atores foram encontrados por meio de contatos pessoais anteriores. Acho interessante, também, colocar fotógrafos em todas as produções que faço. É legal ter um registro e sempre pode servir como ponto de partida para uma campanha de divulgação.

O bem-estar geral

No caso do cinema indie, o cachê muitas vezes não existe. Branco Suja Fácil seguiu esse padrão e, ainda assim, conseguimos juntar essas oito pessoas.

Outra responsabilidade do diretor, quando ele é o responsável pelo time, é providenciar transporte, alimentação e as necessidades básicas da equipe. É bom manter uma equipe bem-humorada e bem alimentada. Ninguém quer sofrer para trabalhar.

Não seja ingênuo — como já fui muitas e muitas vezes.

Certa vez, para um projeto da faculdade, fui fazer uma filmagem com colegas nas dunas de uma praia no litoral norte do Rio Grande do Sul. Éramos uma equipe de seis pessoas e nenhum dos espertos lembrou de levar guarda-sol ou qualquer tipo de cooler com água gelada.

Lá pelas 15 hrs da tarde, a equipe tinha torrado seis horas debaixo do sol já, sem sombra. Não tinha água gelada pra tomar e os brilhantes levaram quase nada de comida pro meio das dunas. Não tínhamos mais condições de gravar por volta das 16 hrs. Queimaduras do sol, cansaço e fome acabaram com a equipe. Voltamos para casa, dormimos e somente depois finalizamos.

Taí o resultado, que mostra o cansaço inegável de uma equipe abaixo de sol por oito horas:

A pré-produção bem-feita teria evitado esse tipo de expedição idiótica. Com pouca coisa, já seria possível cobrir as necessidades básicas da equipe de filmagem; as dificuldades que sofremos naquela gravação impactaram no produto final. Foi preciso uma boa carga de dublagem na pós-produção para aproveitar o curta.

No fim, porém, acabou tudo bem. Mas aprenda com meus erros: mantenha a equipe bem cuidada, pois facilita o bom trabalho de todos.

Juntando as peças

Atualmente, é mais fácil do que nunca reunir o pessoal necessário para produzir seu curta. Existem diversas plataformas para isso e podemos usá-las de formas diferentes. Se antigamente o convite para pequenas produções era no boca a boca, hoje o Facebook facilita o contato com praticamente qualquer pessoa na sua esfera de conhecidos.

Procure pessoas interessadas. Se você tem um orçamento para gastar, com certeza aparecerão pessoas para receber. Preze pelos que estão motivados a criar, pelos que querem produzir e colocar seu nome em alguma coisa.

Desde que o mundo é mundo, existem pessoas interessadas em trabalhar perto do cinema. Seja pretensioso, mire alto. As pessoas querem chegar lá com você. Procure aquele amigo ator, o conhecido fotógrafo ou aquela maquiadora que a irmã conhece, chame aquele amigo metido a produtor musical pra trabalhar no áudio do filme.

Correr desesperadamente a lista de contatos não é a única forma. Vá atrás dos cursos de teatro locais e visite os departamentos de artes nas faculdades. Muitas atrizes e atores querendo criar portfólio estão a procura de papéis para interpretar, entre em grupos de todas as redes sociais possíveis, bata em todas as portas. Eventualmente, alguém vai aparecer.

Se não houver orçamento, procure convencer de outras formas. Aí entra o domínio que você tem do roteiro e a habilidade de fazer as pessoas acreditarem no seu filme. Invoque seu vendedor interior e traga a flor da pele os melhores aspectos da sua ideia. Se pergunte mais uma vez: por que você está fazendo isso?

O maior ponto de venda de seu projeto é você. Com o tempo, você perceberá uma evolução na maneira de tratar com esses processos e criará preferências de equipe e formas de trabalho. É importante manter um diálogo sempre aberto e de duas vias.

Considero importante esclarecer uma coisa: dentro de uma produção audiovisual, o trabalho de cada um impacta na qualidade do produto final. A equipe e o diretor, que compartilham as mesmas visões para o projeto conseguem ir mais longe e se dedicar mais. Uma das coisas mais valiosas para compartilhar com a equipe é essa. O resultado final depende do esforço de todos.

Mais uma coisa

Seja razoável com a equipe, fazendo uma medida certa de horários e condições de trabalho. A transparência com eles, no projeto, ajuda a desinibir os inexperientes e trazer novas ideias para qualquer problema.

Lembre-se, acima de tudo, que, apesar da tecnologia estar ficando mais barata, o material humano não barateou. Os profissionais estão ficando cada vez mais capacitados, mais concorridos. Com o dinheiro que se faria um curso, é possível comprar uma câmera boa e produzir um filme relevante, com atento a estética e uma história interessante.

No capítulo sobre distribuição, falaremos de como seu projeto pode ser divulgado por você mesmo, usando todo o alcance que a internet pode dar. Essas são facilidades que a nossa época nos dá, mas que diversificam muito o mercado.

Por um lado, é mais fácil publicar uma produção independente. Do outro, quantos outros estão fazendo outros projetos e também terão esse fácil acesso? Como criar uma narrativa que se destaque entre as demais e que não seja só uma repetição de formas mais conhecidas e usadas?

Considero importante manter a originalidade para que se encontre uma voz própria. Se você está fazendo um curta, pense nele no meio de tantos outros nesse mar de entretenimento. O que você pode fazer para que ele se torne diferente? Você vai se impor no projeto, o seu toque pessoal vai trazer ele para um viés único e cada membro da equipe vai fazer isso também, dando o seu toque de originalidade no seu departamento.

O time será um dos grandes fatores para o sucesso, ou não, da produção. Correr atrás de bons colegas de trabalho, profissionais ou entusiastas, é uma tarefa de dedicação, mas muito válida se você quer realizar seu projeto da forma certa.

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