Resoluções, aspect ratios, frame rates

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6 min readAug 2, 2018

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foto por: Alex grodkiewicz

A escolha da câmera (vide) implica em três fatores importantes para o produto final de seu projeto: a resolução, o aspect ratio e o frame rate. São aspectos que o sensor define e que, consequentemente, acabam configurando a qualidade da imagem digital que será trabalhada e o quadro que o diretor terá para executar as tomadas. Toda a cinematografia deve ser planejada com o tamanho do sensor e a resolução final em mente, conhecendo até onde o equipamento disponível chega.

A definição de resolução é bem simples: é o número de pixels em cada dimensão que a imagem é percebida pelo sensor. Normalmente, é medida em altura e largura. Se uma câmera grava em resolução de 1080p, quer dizer que a imagem é gravada em um formato de 1920 colunas por 1080 linhas de pixels.

Alguns dos termos mais usados pelo marketing de TVs, câmeras e praticamente qualquer dispositivo capaz de reproduzir ou captar vídeo são HD e Full HD e, mais recentemente, 2k e 4k. Todos são indicativos da resolução que o dispositivo pode reproduzir.

A resolução vem em tamanho crescente com o avanço tecnológico, como um aumento do padrão que o consumidor aceita como normal. Se em 2008 tínhamos HD (1020x720, ou 720p) como a melhor resolução digital disponível, vimos isso ser substituído rapidamente pelo Full HD, que reproduz muito mais pixels, ficando em 1920 por 1080, ou 1080p.

Hoje, o padrão de reprodução internacional é 4k, também chamado de 2160p. É com essa resolução que a indústria de Hollywood trabalha para projeção e também é com essa resolução que o YouTube trabalha como padrão de alta definição.

É seguro dizer que gradualmente as resoluções 2k e 4k serão o padrão do mercado e eventualmente serão substituídas por outras ainda mais altas resoluções. De acordo com Mark Hoelzel, em um estudo feito na América do Norte, em 2025 mais de metade das casas de família terão televisores capazes de reprodução do 4k, o que implica diretamente no produto final: o vídeo, filme ou o que for terá de ser feito para se adaptar a essas resoluções.

No Brasil, não devemos sentir com tanta velocidade as mudanças. O padrão para transmissão de TV é em Full HD, de 1920 colunas por 1080 linhas. Esse foi um padrão adaptado no nosso país lentamente a partir de 2007, com decretos e medidas do governo Lula. Hoje a transmissão brasileira é feita pelo meio digital, tendo iniciado o desligamento da transmissão analógica em 2014. Ainda temos um bom tempo de produção em 1080p. Plataformas como o YouTube e o Vimeo aconselham vídeos em Full HD, e são raros ainda vídeos em 4k nas plataformas.

A conversa sobre resolução impacta diretamente na aspect ratio, conhecida por aqui também como proporção de tela. Esse valor é calculado de maneira semelhante à resolução, dividindo as medidas de largura pela altura. Na história do cinema, a primeira proporção de tela a ser adotada em grande escala foi a chamada “janela clássica”, o 4:3. Traduzindo para resolução, essa seria é uma de 480p (640x480).

Eventualmente o cinema avançou para proporções widescreen e aspect ratios mais largas, chegando até a mais panorâmica 21:9, usada com lentes anamórficas CinemaScope, que permitiam um quadro largo que manteria a mesma altura independente da tela na qual estivesse sendo exibido. Hoje é uma aspect ratio que já caiu em desuso pelo difícil acesso a lentes anamórficas.

O formato que vem sendo o mais adotado nos dias de hoje, tanto pelas fabricantes de câmeras quanto para televisores e telas de celulares, é o 16:9. Desde 2009, tem sido adotado internacionalmente como o aspecto mais padronizado para qualquer reprodução de televisão. Nos celulares, é usado inversamente como 9:16.

O frame rate (também conhecido como cadência) é a segunda preocupação necessária para o produto final. Não só impacta em vídeo, mas também em games e animações. De maneira grossa, o frame rate é o número de quadros por segundo que uma imagem digital reproduz. A imagem do vídeo nada mais é que uma junção de quadros congelados, que são agrupados por segundo.

Desde 1929, no cinema, a projeção foi padronizada com um frame rate de 24 quadros por segundo, chamada de 24p. Acadêmicos divergem sobre o porquê de ser essa a cadência escolhida. Uns dizem que, na época, era a mais baixa possível, evitando males da imagem digital como interlaço e interpolação. Diz-se que 24p tem o “film look”, o aspecto cinematográfico de borrão no movimento, enquanto 30p, 60p ou outras resoluções mais altas tem aspecto de vídeo, por captar uma imagem fluída, sem o motion blur.

O Hobbit (The Hobbit no original, 2012) foi o primeiro grande filme a ser filmado em 48p, o que foi chamado na época de High Frame Rate. O diretor, Peter Jackson, disse que a alta frame rate foi desdenhada de início por puristas, mas que no fim acabou sendo aceita. O fato é que O Hobbit foi produzido com expectativa de mais de 10 mil cinemas reproduzirem seus 48p, o que acabou não sendo o caso. Alguns dizem que essa foi uma das falhas do filme, mas Peter Jackson defende dizendo que o 48p é “mais real e mais parecido com o movimento na vida. Agora olho 24p e acho estranho”.

James Cameron, diretor de Avatar, também é a favor de uma adaptação maior ao 48p. Cameron argumenta que uma imagem em 2k captada em 48 frames por segundo parece tão definida quanto uma imagem 4k captada em 24 frames, com uma diferença principal relativa ao movimento da câmera: ao fazer movimentos de câmera, a imagem captada em 24p vai sofrer muito de judder, que é aquele efeito visual de borrado ou tremido nesse tipo de movimento de câmera.

Apesar do sucesso da franquia Hobbit e de Avatar, ainda há de se perceber um aumento nas produções usando esse frame rate, tanto de forma independente quanto em grandes produções, o 24p ainda reina em absoluto como a alternativa mais semelhante ao movimento capturado pelos rolos de filme de antigamente.

É muito importante definir, logo no início do projeto, qual será o frame rate e a resolução do produto final. Isso depende das capacidades da câmera escolhida e impacta em praticamente todas as decisões estilísticas que serão tomadas depois, como o desenho dos storyboards ou a edição do filme.

Para o trabalho independente, o 24p ainda é o mais próximo que se pode chegar de um feel e clima de cinema; entretanto, para construir o feel do cinema, serão necessários diversos cuidados com a imagem, que veremos ao longo do processo.

Câmeras são vendidas, via de regra, com algumas resoluções e frame rates já pré-definidas. As mais comuns atualmente são 24p, 25p e 30p para Full HD (1080p), 60p e 24p para HDTV (720p) e 30p e 25p para a definição standard, o 4:3 (480p).

Nas produções que falaremos nesse guia, trabalhei normalmente com o 1080p, em 24 frames por segundo, respeitando a aspect ratio de 16:9 que é mais comumente aceita no âmbito internacional como padrão.

Na maioria das produções independentes de hoje em dia, podemos perceber um domínio do 1080p, na aspect ratio de 16:9. O Full HD domina a indústria do cinema independente desde 2008, com o lançamento de duas câmeras muito importantes: a Nikon D90 e a Canon 5D Mark II, as duas primeiras DSLRs capazes de fotografar e produzir vídeo em alta definição. As DSLRs mudaram o mercado da produção independente, e serão as ferramentas que usaremos para produzir as nossas histórias por uma miríade de motivos: facilidade de acesso, preço, tamanho e praticidade — tudo isso em uma pequena câmera.

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