A câmera e a falta de dinheiro

Duas coisas muito, muito relacionadas.

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4 min readJul 24, 2018

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foto por Matheus Gomes

Para realizar um curta, clipe, esquete, qualquer coisa que envolva imagem em movimento, você vai, inerentemente, precisar de uma ferramenta, a peça mais básica do arsenal: a câmera. Todo o resto é dispensável, mas temos que concordar que não há como produzir nada sem a câmera. Ela pode ser cara, barata, compatível com várias lentes ou com meia dúzia.

Com o seu roteiro em mãos (lembre-se, você já tem um), você precisa decidir com o que irá filmá-lo. O primeiro texto desta série intenciona em ajudar pelo menos um pouco nesse aspecto.

Para quem vê de fora, o monte de nomes, modelos e marcas pode ser confuso e assustador. Hoje em dia, para nossa sorte e azar, existem as mais diversas opções de câmera com suas qualidades e defeitos. Quem não tem uma câmera e decide comprar uma fica muito preocupado com a qualidade – será que essa é boa ou a outra é melhor? Muitas vezes, não faz a mínima diferença de uma para outra, mas o fabricante insiste em dizer que a sua tem um sensor x, ou que tem a tecnologia y.

Olhando para o passado, podemos ver: a câmera é a ferramenta mais básica, mas o modelo mais recente ou a tecnologia mais avançada não é o que vai transformar seu projeto em algo inovador e interessante.

Quando Robert Rodriguez filmou seu longa de estreia, El Mariachi (1992), o orçamento era quase nada. Com apenas sete mil dólares para fazer o filme, Rodriguez usou câmeras Arriflex 16M e 16S, que já eram modelos antiquados para a época.

Pelo orçamento curto, Rodriguez converteu o filme para vídeo, podendo editar mais facilmente. O som não foi gravado no set também: o filme foi inteiramente dublado na pós-produção. El Mariachi ganhou múltiplas premiações internacionais e hoje é considerado um filme cult. Ganhou duas sequências, lançou atores e mostrou talentos. Sua renda foi maior que dois milhões de dólares, um lucro absurdo para um filme feito com SETE MIL dólares.

O clássico do terror, A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, no original, 1999) é um dos mais icônicos filmes da história recente do cinema. Críticos e estudiosos da arte dizem que foi um dos responsáveis pelo crescimento do gênero found-footage de horror e muitos diretores citam a obra como influência em seus roteiros e filmes. O filme foi captado com câmeras RCA HI-8, classificadas como camcorders. É uma câmera pré-histórica olhando as possibilidades que temos hoje, mas foi a ferramenta usada para criar um longa metragem que se tornou um marco de sucesso e referência até hoje.

Anos depois, em 2007, foi lançado Atividade Paranormal (Paranormal Activity, no original). As semelhanças são gritantes: Atividade Paranormal foi produzido com um orçamento minúsculo e equipe diminuída, com uma câmera Sony HDR-FX1, que atualmente é encontrada por menos de dois mil reais, e muitos filmmakers com certeza consideram defasadíssima. O filme foi sucesso absoluto de renda e lucro, assim como outros exemplos citados acima.

O que torna uma câmera tão defasada? Seria a qualidade da imagem ou a velocidade do movimento? A portabilidade? Arrisco dizer que nenhuma das alternativas. Somos rápidos ao condenar uma ferramenta como defasada simplesmente por haver opções mais rápidas e avançadas.

Um iPhone do mais recente modelo capta vídeo em melhor qualidade que muitas câmeras consideradas top de linha outrora. As ferramentas mudaram e se diversificaram, mas isso não invalida o que a história do cinema já mostrou: para realizar um filme de sucesso, seja ele curta ou longa metragem, não importa a qualidade da câmera. O que importa é o argumento e a equipe, a ideia e o diretor.

Pense nisso: se Rodriguez conseguiu fazer El Mariachi em um processo tortuoso, dependendo de câmeras analógicas já defasadas e conversão de filme para vídeo para que pudesse editar dentro do orçamento, com certeza temos muito mais facilidade hoje, filmando em 1080p, 2k ou 4k em câmeras que transferem esse material para edição em um computador levando menos de 10 minutos.

Temos a tecnologia a nosso favor e devemos usar isso. Não precisamos apelar para camcorders ou câmeras analógicas, mas não nos limitaremos a contar a história dependendo do equipamento mais novo.

Vamos contar a história com o equipamento disponível.

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