Da minha paixão pelo Ao Vivo

Considerações de um aficionado por música

Lucas Bellator
Silva Home Reads
5 min readJun 29, 2017

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Scalene em 2016. Foto: eu

Recentemente, há não muito tempo, tô eu numa festinha.

Imagine uma sala mal ventilada e quinze ou dezesseis pessoas ouvindo música, falando besteira. Taí tua festinha. Ficávamos em turnos escolhendo a música, variando por vertentes dos mais variados gêneros e subgêneros. Tenho a sorte de cultivar amigos dos mais variados gostos, mas de comum paixão pela música.

Eis que me pedem pra colocar uma, qualquer coisa que eu quisesse ouvir. Aproveitando o momento na conversa, e, principalmente levando em conta que me encontrava num ambiente onde já havia rolado uma variedade de bandas que passava por Sticky Fingers, Rage Against The Machine, Muse, Parkway Drive, Arctic Monkeys, Strokes e Beirut, abri o YouTube e escolhi um show do Alexisonfire no festival de Reading, em 2015.

Ah, não… ao vivo não, cara…”, escutei lá no fundo. Talvez devido à embriaguez do momento, aquilo me pegou de surpresa. Admito que mexeu comigo mais que deveria. Ao vivo não? Como que ao vivo não?

Um dos trechos da tal performance do AOF.

Deixei rolar e me sentei. Umas duas músicas dentro do show, o Dallas me acerta um agudo lindo, lá em cima, em Boiled Frogs. Mas eu fiquei pensando naquilo que alguém tinha dito. Magoado. Por que as pessoas não gostariam de um som ao vivo? É ao vivo, pô!

Olhei pro YouTube, tentando encontrar a resposta vendo os caras tocar.
Porra, performance de um artista entusiasmado é muito bonito de se ver. No show os artistas mais ligados testam outras coisas, a emoção fala mais alto. Se no CD a música é de uma forma, no show a banda pode fazer de outra, ou então aumentar ou diminuir. Não que seja uma regra. Mas sempre tem uma banda.

Tem casos na direção oposta, que o show é quase um replay do disco. Vai de artista pra artista como fazer o espetáculo que é a apresentação. Se tu for ver, um show, grande ou pequeno, é a sua forma de espetáculo por si só. Mesmo o cara que não se preocupa com seu show, essa é a expressão da arte dele.

Naquele show específico o Alexisonfire tá especialmente animado. Talvez eu tenha escolhido o show justamente por isso, pra ver se alguém que não conhecia se cativava. Foi algo que sempre funcionou comigo, pra qualquer música de qualquer gênero. Vejo o conjunto da obra quando é adicionada uma performance aquela sonoridade.

É algo pessoal, óbvio. Possível fruto do meu trabalho como fotógrafo de musica (hiperlinks sempre presentes), vendo muitas bandas e artistas tocarem e se apresentarem repetidas vezes em tours e et cetera. Ou não, também. Gosto de pensar que a performance seja o que me puxou pra fotografia, querer registrar e eternizar a catarse que a música tem.

Diferentes formas de arte e catarse unidas na música. Fotos: eu

Pra mim, essa catarse é amplificada exponencialmente ao vivo. Nos momentos mais sinceros da performance, o artista é um só com a música. Seja num show pra cinquenta mil ou em uma casa quase destruída pra catorze pessoas, a performance traz à tona o sentimento, vivo.

Pensei em tudo isso e olhei de novo pro YouTube. Me virei pra encarar a sala de amigos. Naquela hora, consegui ouvir o show soar como os outros na sala percebiam, talvez: um som estridente, uma chiadeira braba com graves, agudos e médios mal comprimidos em um som stereo.

Dificilmente os técnicos de som daquele festival imaginaram mixar para que o som saísse sair por miseras caixinhas de som por streaming do YouTube. Levei em conta que para quem não conhecia, soava mais como um chiado melódico do que versões dos hits de discos que eu tanto gostava

Logo alguém veio e trocou a música, afinal já tínhamos passado de mais da metade do show sem perturbações e nossa festinha nada mais era que um ambiente democrático. Quando a próxima tocou, uma recheada de groove do Vulfpeck, me surpreendi e aproveitei o som.

Fiquei e fico, porém, pensando nisso tudo que o cenário atual que a música vive. Nessa época em que programas de talentos são feitos com playback, que qualquer um começa a produzir com uma placa de som porca em casa, que o Spotify corre o mundo todo. A arte em forma de música vive uma democratização INSANA ao redor do mundo. Pluralidade de artistas, gêneros e subgêneros e tudo mais que ninguém se cansa de falar sobre.

Mesmo com tudo isso em voga, a performance não perde espaço, e pelo contrario, mais do que nunca artistas são obrigados a embarcarem em turnês que buscam modelos interessantemente rentáveis. As bandas continuam gravando DVDs (muitas ainda chamam de DVD, inclusive), os artistas ficam cada vez mais criativos em palcos, iluminação, estrutura e tudo que envolve fazer show. A produção tem sido cada vez mais profissional. Nos dias de hoje, é comum optar por streaming via facebook ou de outras plataformas. As pessoas assistem a qualquer hora, em qualquer lugar. E é como dizem: assim que entrou pra internet, não sai mais.

Para a minha sorte e a de quem goste, o Ao Vivo vive, mais que nunca.

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