Eu tenho um lance com o flickr.

Uma história sobre a minha história com fotografia.

Lucas Bellator
Silva Home Reads
6 min readOct 19, 2018

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Hoje caiu a ficha que fazem seis anos que comecei a fotografar.
Enquanto transferia mais uma grossa camada de fotos e clipes para o Mac, percebi que foi no inverno de Julho de 2012 que tirei minhas primeiras fotos. Na minha cabeça, fazia muito tempo. Olhar pro passado agora me parece olhar uma outra vida, de certa forma. Outra vida, mas da qual eu tenho memórias muito boas e em primeira pessoa.

Usei uma Sony A55, na época, emprestada pelo meu pai, com a premissa de colar na Festa do Peixe, festival local de Tramandaí/RS, pra fotografar a extinta Use The Force, Luke, amigos meus que faziam seu primeiro show tocando algo como Metalcore Gaúcho.,

Sim.
Metalcore. Gaúcho.

Eu não generalizei como ‘rock gaúcho’, que seria mais fácil e compreensível, justamente pra pintar uma imagem mais precisa do que era. A Use The Force, Luke era uma banda de “gritaria e barulheira”, como diria minha mãe.

Me lembro daquele domingo frio, eu coçando no apartamento e um dos caras me manda uma mensagem: “Vai no show?” De primeiro momento, dada a preguiça do meu domingo, considerei ficar na baia. Ver o resto de um filme, dormir e voltar a Porto Alegre no dia seguinte eram os planos. Mas olhei pra câmera do meu pai parada num tripé, na janela do apartamento. Ele tinha duas lentes, bag, duas baterias, todo um lance.

Até hoje tenho um feel muito natural sobre tudo isso.

Uma naturalidade casual, um ‘por que não?’ bateu pela primeira vez no meio do meu trem de pensamento. Me lembro, e lembro mesmo, que a frase que veio a minha cabeça foi: “vou pegar essa câmera aí emprestada e vou fotografar o show desses caras”. Era o primeiro show de amigos de longa data e a banda também não tinha ninguém melhor pra fazer essas fotos.

Barulheira e gritaria, lembra?

Eu simplesmente cabia lá, sem experiência alguma, mas com a mesma vontade. Eles queriam mostrar o som deles e diversão e a mim coube registrar. Inventei essa pra mim. Registrar a parada toda.

O meu eu de 2012 tinha algo como uma básica experiência com fotografia.
Meu pai, que teve câmera desde sempre, ensinou o que era obturador, velocidades, uma ou outra ideia de frame e o mais importante: como segurar uma câmera decentemente. Convencer ele de me emprestar a câmera foi muito mais fácil que eu esperava, e seu Jadir lançou o equipamento todo na minha mão na única condição de que eu não quebrasse.

Uma coisa que eu acredito que até meu eu de 2012 tinha, era referência.
Eu já acompanhava a cena rock/emo/alternativo/hardcore que rolava no Brasil e, graças aos céus, temos sorte de ter bons fotógrafos trabalhando nesse meio. Gastei muito do meu tempo de adolescente (2008–201?) vendo foto de banda no bendito flickr.

Aí que eu acho que começou o bagulho. Não sei como, mas eu achava (e acho) legal pra caralho ficar vendo fotos de performances e artistas. Passei muito tempo nos flickrs de caras como o Gustavo Vara, o Luringa e pegando influências de outras coisas também. Jornalismo, o trabalho do Stuckert cobrindo o Lula, os grupos e o explore — o explore é muito válido até hoje.

De qualquer forma, ainda rolou todo um lance gringo de caras como o Adam Elmakias e Todd Owyoung que foi muito legal de acompanhar no flickr das antigas. Aí depois, eventualmente, eu descobri fotógrafos da Magnum, inventei de tentar aprender a fazer cinema e acabei espiralando por vários meios.

Mas não tem como dizer que eu não tinha referência. Na fase mais embrionária da minha fotografia, o flickr foi fundamental. Fotógrafos brasileiros documentavam as bandas que eu curtia e o rock virava registro, tornando aquilo referência.

E eu bebi dessa referência pra caralho.

Então, no 22 de Julho de 2012, eu saí do apartamento do meu pai na beira mar de Tramandaí com uma bag de câmera atravessada no torso, na missão de fotografar minha primeira banda, pela primeira vez na vida.

Naquele dia, o troço deu certo de uma maneira que é rara de se acontecer. Cheguei lá cedo, antes das quatro da tarde. Seriam sete bandas naquela noite da Festa. A UTFL só tocaria por volta das 18h e a primeira banda montava o palco quando cheguei. O troço fluiu de uma maneira tão boa que acabei por fotografar as sete bandas da noite e ainda me recordo da ordem:

Amanda Nunes (que eu acabei fotografando diversas vezes nos anos seguintes), Canal Stereo, UTFL, Gustavo Ribeiro e Banda, André Cardoso e Banda, In Plaine e no fim, por um strike de sorte, consegui acabar fotografando Raimundos, que fechavam a noite no festival.

Foi uma noite que me abriu os olhos. Parecia que eu tinha bebido um gole daquela felix felicis. Tudo funcionou. Consegui um photopass no dia, fiz amizade com as nove bandas e até conheci o Digão, do Raimundos no final da noite. Apertei a mão do cara tremendo de vergonha de estar conhecendo alguém em carne e osso que eu só tinha visto na televisão e no youtube.

2012, folks.

Corta pra 2018.

O meu flickr, hoje, tem 431 fotos. Admito que nunca atualizei tanto quanto deveria e conforme fui fazendo mais fotos, fui largando mais o flickr de mão. É uma história mais velha que o próprio tempo: o criativo que começa a se ‘atolar’ de trabalho e perde tempo de cuidar do que trouxe os tais trabalhos. Muita gente é mais esperta que eu e consegue fazer esse malabarismo. Eu com certeza ainda tô aprendendo.

Participo e uso muito menos dessa ferramenta do que deveria; ainda assim, creio que consegui construir algo que me traz certa satisfação. Ver quantos atos, shows, retratos e lances diferentes fotografei e acompanhar como me desenvolvi durante esses seis anos é necessário pra sacar o que vem pela frente.

Também ficou claro que recebi muito menos grana do que deveria. Qualquer amigo pode explicar, o fotógrafo de banda amadora geralmente não faz dinheiro nenhum. Eu fiz alguma coisa, andei na cena do metalcore (também muito amadora) que aconteceu em Porto Alegre por alguns anos, mas pouquíssimas bandas realmente fizeram dinheiro e eu fiz menos ainda.

Oh, well.

Trabalhei em outros ramos, viajei, fiz muito de outras coisas que não são importantes agora, nesse texto. Escrevo ele em um ponto da minha carreira que avalio tudo que já fiz e quero fazer e procuro encontrar um caminho no qual eu consiga enxergar uma maneira mais orgânica de seguir trabalhando.

Mexendo nos meus arquivos de foto, mais uma vez voltei ao velho e bom flickr. A última vez que eu tinha realmente atualizado ele foi em meados de 2017, então existem meses de material para selecionar e em vários casos ainda tratar, editar e fazer todo aquele corre.

A minha fotografia pegou muito do flickr no início, aprendi e quero aprender muito mais ainda naquela mesma maneira. Olhar o que pessoas diferentes tem feito, em diferentes estilos e diferentes dinâmicas. Sem soar demagogo, acredito que tá na hora de eu mesmo dar de volta pra rede que eu tanto usei e continuar a atualizar e buscar mais interações e por fim, colaborar.

Então, sem mais delongas, vou voltar pro que eu deveria estar fazendo: trabalhar nos arquivos empoeirados e popular esse flickerzão do Brasil, da internet, do mundo.

Até a próxima!

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