Suerte: Experiência e Movimento.

Ygor Riffel
Silva Home Reads
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6 min readSep 29, 2017

Esse ano entrei em uma nova fase da minha vida. Peguei o que aprendi nos livros do C.G Jung e resolvi, finalmente, quebrar o misoneísmo que recaía a mim, a minha rotina, ao cotidiano que me prende. Com minha recém comprada Canon 60D na mão, dei uma de repórter por um dia e fotografei um dos shows mais importantes da carreira da Suerte.

Você, por acaso, conhece a Suerte? Formada em 2008 por integrantes de bandas e ex-bandas em Porto Alegre, a Suerte é uma banda de hardcore melódico. Apesar de todas as idas e vindas no cenário, formações e reformações durante os anos de carreira, eles dizem de cara: “ apesar de todas as aparências, ainda há muito o que compartilhar“.

As letras que formam as canções da Suerte saem de um dos corações mais sinceros que eu já conheci: Leonardo Zimmerman, o vocalista/guitarrista/artista. O Léo, também conhecido como Z, Zelo, Leonardo Yuxin e tantos outros nomes e apelidos que um cara como ele, envolvido em vários projetos, poderia ter. Z, que já tocou na Suerte e na Doyoulike?, tem um projeto solo de rap e um de voz e violão, além de participar do Conceito, um espaço cultural no Sarandi, Zona Norte de Porto Alegre. Não é pouca coisa na música.

Esse show tinha uma camada a mais de importância sobre qualquer outro: marcava o retorno da banda, que se encontrava em inércia musical por 2 anos. Me orgulho de dizer que sempre acompanhei os caras da banda, muito antes de ter uma câmera.

O show reacendeu a minha alma novamente. Para alguém que sempre acompanhou os caras nos Pinhachellas da vida, eventos pequenos na praia que uma cena muito aconchegante existia, foi muito lindo. A energia aqui em PoA não poderia ser outra — roda punk , todos cantando juntos no microfone, uma sinestesia muito grande entre banda e plateia. É incrível como a galera sempre sabe as letras e canta junto, como se fossem hinos. Me senti novamente numa grande e calorosa família abraçando o pessoal e cantando com a câmera no rosto, me senti vivo, vivendo.

Nos dias seguintes ao show, fui a um ensaio da Suerte, buscando entender mais sobre a banda e sobre o vocalista. Perguntei ao Leonardo como ele lidava com a parte criativa, com tantos projetos na vida e sempre criando algo novo.

“Levo com leveza e naturalidade, me permito fazer as coisas fluírem, sem cobranças, fazer de tudo um pouco, todos nós somos uma mistura de um monte de coisa né? Independente do gênero musical ou veia artística que sigo, percebi cedo que eu deveria seguir por um caminho de autonomia, resolvi seguir o que meu coração mandou. ”

Fui encarregado de fazer uma reportagem completa e, com isso, instiguei e perguntei o que uma banda precisava para um tour, tendo em vista que logo menos eles partiriam em viagem para São Paulo e tocariam, ao longo do caminho, em várias cidades.

“A banda se faz muito antes do ensaio, ensaio é a lapidação som. É muito importante para a banda passar da melhor forma possível a sua música e mensagem para o público. Fora do ensaio a coisa mais importante acontece: a ligação entre os integrantes, ideais em comum, aquilo que o grupo acredita e sente. Tudo isso é essencial antes de chegar em um tour.

Na tour, em si, é muito importante ter organização, pensar em todas possibilidades e tranquilidade para lidar com o acaso. Tem que ter uma leveza. E eu (Z) busco respeitar todo mundo que ta envolvido, sinto que todo mundo faz parte.”

O entrevistado, então, descreveu a cena, a parte comercial e como uma cena musical se sustenta. “Acontece muito da galera se apoiar e pilhar fazer por si, principalmente na Suerte, a parte colaborativa e a comercial se complementam, mas eu entendo que são diferentes, tento tratar todos com carinho do modo que eu gostaria de ser tratado, no geral seria melhor se as duas coisas andassem juntas, um ajudando o outro, pensando no bem de todos.”

Merch de produção própria, com artes feitas a mão.

Reforçou o que acreditei desde sempre: que a arte nos faz amadurecer, nem que seja como forma de tradução do que somos. A arte, seja ela música, pintura ou qualquer outra forma, só se cria pela vivência que nós temos. O artista tira o que tá dentro dele e coloca pra fora da forma que achar melhor.

Perguntei pro Z o que ele achava dos diversos ramos da música que foram criados. Entramos em acordo de que música é paixão e o fato de existir tantos “galhos” nessa árvore faz com que o artista fique cada vez mais livre. Livre pra fazer o que realmente vem de dentro, com essência que vem do âmago. Z concluiu que o “foda” é quando vêm os aproveitadores e tudo vira só números, daí o capital se apropria de tudo. A cena continua em efervescência, nós precisamos estar abertos para conciliar o novo e sempre evoluir.

É preciso manter os ouvidos abertos, aprender a desaprender.

“A galera tá cada vez mais do it yourself. O lance é quebrar os padrões, sair do comodismo e botar a cara a tapa, tem que ter a vontade de fazer, não cair nas autossabotagens que nós mesmos criamos, quando parecer difícil se esforçar mais, e se for pra recuar, que usemos o impulso pra saltar mais longe, o próprio universo vai do mais simples ao mais complexo, com cada qual um novo e precisamos estar dispostos a buscar o que a gente realmente quer, sempre se aprimorando e não dando brechas para pensamentos negativos que nós fazem desistir do que se corre atrás, seja na cena, seja na vida profissional ou pessoal.”, encerrou a entrevista, o Z. Isso ficou na minha cabeça enquanto ia para casa, editava e trabalhava no texto.

Depois de mais um show da Suerte, o primeiro que fotografei, saí com a alma tranquila por saber que os caras estão aí de novo. Finalizei minha pauta com suor, esforço e calor. As fotos que, com toda certeza, não se gravaram só no sensor da minha câmera, mas que pra sempre vou guardar como recordações de poder ter vivido tais momentos.

Concluo, honestamente, dizendo que foi muito foda conversar com Z dessa maneira franca. Me fez amadurecer muitas ideias e sei que se depender de mim, essa cena vai continuar crescendo, se propagando e se difundindo, assim como o meu próprio conhecimento adquirido com essas grandes oportunidades que o universo apresenta. Muito massa, de verdade, poder participar do retorno e poder escrever meu ponto de vista sobre toda a cena que rola e muitos não veem.

A arte está em todo lugar, basta olhar pro lugar certo e interpretar de maneira completa.

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Ygor Riffel
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De todas as artes criadas para recreio de espírito, nenhuma como a da música satisfaz mais cabalmente a esse fim.