cronômetro

Gustavo
Simetria
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2 min readSep 29, 2022

abro meus olhos

os primeiros 10 segundos do dia são os melhores

o vazio, a constância, a tranquilidade de não existir

*

acometido pelo relógio, minhas pernas aceleram

o corpo está começando a funcionar, mas o relógio não para

atrasado, atrasado, um cronômetro

*

que sensações podem ser produzidas assim?

eu me sinto feliz, me sinto eufórico, me sinto empolgado

são momentos em que sinto o sol em meu rosto

*

mas a melancolia chega, durante o dia, durante a noite

durante o sono, um sonho é o suficiente para despertar

aterrorizar com memórias antigas, medos não justificados

*

enquanto o relógio se torna o inimigo, a mente divaga em possibilidades

a alegria do sorriso se converte em lágrimas frias

sem aviso, singelo

*

em um segundo, o contágio da decepção se espalhou

o corpo recua, desliga, apaga todas as funções necessárias

os olhos vertem e os nervos se contraem

desespero

*

por quê?

meu cérebro, ao menos, me responda, por quê?

porque sinto como se tudo fosse acabar, porque sinto

*

os lamentos ecoam no silêncio da língua

calejados, os dedos não cessam em soltar fúnebres condenações

lapsos de sanidade, lapsos de insanidade

histeria

*

a impaciência e a ansiedade causam o impulso, causam a ação

causam dor

*

em minutos, tão rápido como surgiu, imergiu

devastou os sentimentos

desolado, sinto vergonha, quero meu casulo

*

quero deixar de existir, ser retirado de minha realidade

teletransportado para outro momento, passado ou futuro, não importa

nada importa, quero a sensação do despertar, todo momento, sem submissão

*

e o relógio, calmamente, segue seu caminho

o sol brilha um pouco entre as nuvens, escuras, anunciam a chuva

meu corpo já não suporta e o dia não acabou

*

em uma nova jornada, persigo sorrisos, persigo a alegria

encontro morada em relações virtuosas, felicidade

em poucas palavras trocadas, me sinto renovado

como um sistema atualizado, estou pronto

*

preparado para cair, para lutar, para vencer

estou motivado e todas as partes do meu corpo estão pulsando

quero viver, quero viver

respiro

*

níveis

o relógio continua seu percurso

e o cronômetro cessa

parece que o tempo está comigo

*

sentido, qual o sentido?

meu humor oscila e a tristeza vence

determinado a perseguir o passado, me ausentei do futuro

*

posso existir? tenho tempo para viver?

falácia, mentiras e ilusões, por quê?

*

a dúvida me reprime e meus joelhos se chocam com o chão

nunca vencerei essa corrida, o tempo me consumiu

inerte e inexistente, acabou com meus esforços

poucas coisas importam

*

em segundos de colapso

minha visão está turva, meu peito está fechado

me deleito com a chuva em meu rosto

um último sorriso, uma última gargalhada

*

a sensação de acordar é um deleite

nada em sua mente, nada para pensar

agora será eterno, vislumbro o vazio

perdi a corrida e o tempo me consumiu

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Gustavo
Simetria

Jornalista, apaixonado por história e futebol. Um integrante da sociedade dos poetas mortos.