abro meus olhos
os primeiros 10 segundos do dia são os melhores
o vazio, a constância, a tranquilidade de não existir
*
acometido pelo relógio, minhas pernas aceleram
o corpo está começando a funcionar, mas o relógio não para
atrasado, atrasado, um cronômetro
*
que sensações podem ser produzidas assim?
eu me sinto feliz, me sinto eufórico, me sinto empolgado
são momentos em que sinto o sol em meu rosto
*
mas a melancolia chega, durante o dia, durante a noite
durante o sono, um sonho é o suficiente para despertar
aterrorizar com memórias antigas, medos não justificados
*
enquanto o relógio se torna o inimigo, a mente divaga em possibilidades
a alegria do sorriso se converte em lágrimas frias
sem aviso, singelo
*
em um segundo, o contágio da decepção se espalhou
o corpo recua, desliga, apaga todas as funções necessárias
os olhos vertem e os nervos se contraem
desespero
*
por quê?
meu cérebro, ao menos, me responda, por quê?
porque sinto como se tudo fosse acabar, porque sinto
*
os lamentos ecoam no silêncio da língua
calejados, os dedos não cessam em soltar fúnebres condenações
lapsos de sanidade, lapsos de insanidade
histeria
*
a impaciência e a ansiedade causam o impulso, causam a ação
causam dor
*
em minutos, tão rápido como surgiu, imergiu
devastou os sentimentos
desolado, sinto vergonha, quero meu casulo
*
quero deixar de existir, ser retirado de minha realidade
teletransportado para outro momento, passado ou futuro, não importa
nada importa, quero a sensação do despertar, todo momento, sem submissão
*
e o relógio, calmamente, segue seu caminho
o sol brilha um pouco entre as nuvens, escuras, anunciam a chuva
meu corpo já não suporta e o dia não acabou
*
em uma nova jornada, persigo sorrisos, persigo a alegria
encontro morada em relações virtuosas, felicidade
em poucas palavras trocadas, me sinto renovado
como um sistema atualizado, estou pronto
*
preparado para cair, para lutar, para vencer
estou motivado e todas as partes do meu corpo estão pulsando
quero viver, quero viver
respiro
*
níveis
o relógio continua seu percurso
e o cronômetro cessa
parece que o tempo está comigo
*
sentido, qual o sentido?
meu humor oscila e a tristeza vence
determinado a perseguir o passado, me ausentei do futuro
*
posso existir? tenho tempo para viver?
falácia, mentiras e ilusões, por quê?
*
a dúvida me reprime e meus joelhos se chocam com o chão
nunca vencerei essa corrida, o tempo me consumiu
inerte e inexistente, acabou com meus esforços
poucas coisas importam
*
em segundos de colapso
minha visão está turva, meu peito está fechado
me deleito com a chuva em meu rosto
um último sorriso, uma última gargalhada
*
a sensação de acordar é um deleite
nada em sua mente, nada para pensar
agora será eterno, vislumbro o vazio
perdi a corrida e o tempo me consumiu