Mel Gibson e suas aberrações cinematográficas: mais mentiras em Até o Último Homem

Gustavo
Simetria
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5 min readMay 10, 2024

Até o Último Homem é mais uma propaganda do cinema norte-americano para ludibriar a população, principalmente os jovens, de que a guerra é a única forma de combater o mal e os vilões e de que eles, norte-americanos, tem um compromisso tão ferrenho em cumprir com os princípios do país que se atiram em um combate que não estão preparados para ter.

Arraigado na religião, na ética militar e nos “princípios fundamentais do homem”, narra a história de um objetor de consciência que tem em seu coração a vontade de ser médico e salvar pessoas.

Ele sente que Deus quer que ele vá à guerra e salve o máximo de conterrâneos possíveis, pois ele não quer permanecer apático e imóvel enquanto seus irmãos lutam para manter a segurança dos Estados Unidos da América, e do mundo.

Foto: usc.edu.br

Roteiro típico de um filme dirigido por…

Ignorando muitos fatores históricos e sociais, Mel Gibson narra com pobreza a jornada do soldado e notifica que as únicas qualidades necessárias para conseguir alcançar objetivos bélicos louváveis e a glória ética infinita são a fé em Deus, a fé no seu país e a fé em seus princípios.

Além do romance mal estruturado e forçado, os diálogos entre Doss e outros personagens são recheados de convicções do protagonista e de crenças, sempre reafirmando a sua ética e a sua moral como características fortes e imprescindíveis para um cidadão patriota e comprometido com o bem-estar social.

O altruísmo em salvar as pessoas e a necessidade de provar a si que a guerra é a resposta para combater o mal e todos devem se mobilizar para vencê-la está presente em cada minuto do filme e em todos os personagens.

Foto: PJF

A exceção do seu pai (que não é um personagem agradável e é redimido heroicamente com a sua farda da Primeira Guerra Mundial). Não há menções a causas para a guerra, não há políticos envolvidos, nem leis, nem democracia, nada disso é mencionado no filme.

São 2 horas e 19 minutos de propaganda norte-americana para seu exército e para suas glórias, bem como uma ode a conceitos conservadores como família e os princípios da religião.

Para um filme que trata de um evento com impacto social inesquecível, brutal e sanguinário, a sociedade fica em segundo plano, ou melhor, não ocupa plano algum.

Mel Gibson prefere focar na romantização do conflito, das armas e da religião, criando um cenário ilusório e pouco crível.

A democracia do cabresto

A ironia é que, independente do que faça, Doss é atingido pela hipocrisia norte-americana e é tratado como um bandido por desrespeitar o que eles impõem.

A moral e bons costumes é adequada se for de encontro com a dos seus superiores. Se, em algum momento, alguém se mostrar difuso ou contrário a ética imposta pelos superiores, é espancado e preso, e pode apenas ser salvo pelo poder e pela eficiência das autoridades.

A sua ética não levaria ele a lugar algum se não fosse a influência de seu pai e do seu Capitão, que “lembra” o exército de que existem leis a serem cumpridas. Ética.

Baseado em fatos irreais

Há outros pontos que fazem o filme ser demasiado sensacionalista (e mentiroso), já que seu pai não precisou ir até o exército, Doss não foi espancado pelos companheiros e o cume no qual se passa o ápice do filme é, na realidade, bem mais baixo do que mostrado na obra.

Antes e após relatar as “adaptações” realizadas no filme, é importante sempre lembrar o nome do infame diretor: Mel Gibson. Vou repetir o quanto for necessário para fim de fixação.

O “heroísmo” de Doss também foi deveras exacerbado pelo diretor antissemita Mel Gibson. Ele não fez todo o resgate sozinho, como mostrado, mas recebeu ajuda de outros soldados após algumas horas no cume.

Resumindo: Doss não ficou em um cume inacessível, seu pai não precisou salvá-lo de julgamento algum, não foi rechaçado e espancado pelos companheiros, não resgatou tantas pessoas sozinho, e, tampouco, ficou lá no topo sozinho.

Realidade x Ficção. Foto: Quora

O impossível aconteceu: A Paixão de Cristo foi superada

Outro ponto a se tocar no filme é a ausência de pessoas que representem outros grupos sociais e etnias. Claro, há os japoneses, “japas”, como são chamados, mas eles são os inimigos e merecem ser destruídos a todo custo (menos por Doss, o norte-americano redimido que, guiado por Deus, salva até mesmo os seus inimigos).

Há poucas mulheres, não há pessoas pretas ou pessoas que representem outro grupo social da época, apenas pessoas brancas, religiosas, personagens comprometidos com a missão do seu diretor, Mel Gibson, de exaltar o exército e dar luz ao fato de que os Estados Unidos lutam pela liberdade e pelo bem dos seus cidadãos brancos e cristãos.

Com exceção do momento em que Doss salva todos no cume, o filme é um grande arquétipo previsível e sem profundidade, com personagens simples, de poucas falas e poucas atitudes, que estão apenas cumprindo um modelo de cidadão norte-americano.

O cidadão norte-americano médio, o soldado norte-americano exemplar, o soldado norte-americano maldoso, o soldado norte-americano convertido pela força magnética do protagonista, o general norte-americano ferrenho, os norte-americanos menos afortunados, há até menção a um descendente indígena, mas é apenas a manifestação do preconceito do seu superior.

O nêmesis de Doss, que incita toda a agressão e abuso no quartel e, depois, encantado pela retidão e pela incrível passividade do protagonista em ser espancado e humilhado, torna-se o parceiro ideal de Desmond.

Foto: Film Inquiry

Pois, adivinhe só? Ele é apenas mais uma das traquinagens de Mel Gibson. Nunca existiu.

A assinatura de Mel Gibson nunca esteve tão presente

Em suma, Mel Gibson não tece crítica alguma, ele apenas cria vilões para serem redimidos com sangue, mortes e assassinatos. A narrativa é mais forte que a realidade e Mel Gibson mostra o porquê ficou tanto tempo sem dirigir um filme sequer.

Até o Último Homem é um filme que existe para alimentar a si, existe para alimentar a máquina de persuasão cultural norte-americana, para financiar a guerra e vender histórias fabricadas como heroísmo.

E pior, o seu lastimável diretor, Mel Gibson, fez uso da divulgação de ser uma história real para dar uma pitada de drama a mais ao filme. Apenas evidenciou mais a sua imagem de oportunista, mentiroso e incompetente.

Foto: Variety

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Gustavo
Simetria

Jornalista, apaixonado por história e futebol. Um integrante da sociedade dos poetas mortos.