Felicidade é ação

Simonsen
Editora Simonsen
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3 min readSep 27, 2016

Relendo A Política, de Aristóteles, percebi que não tinha dado a devida importância para esta frase: “a fonte da felicidade individual e a fonte da felicidade coletiva é a mesma”. Este é o tipo de coisa que, quando lemos, temos aquela reação de curiosidade que nos faz perguntar ao texto, imediatamente: e que fonte é esta?

A relação entre indivíduo e sociedade é uma das mais complexas que existem. É tema da sociologia, da antropologia, da psicologia, da própria filosofia e da literatura. A história, aliás, também se preocupa com isto: em que medida, por exemplo, o agente individual influencia um processo histórico?, etc. É das mais interessantes e frutíferas questões da vida humana (pelo menos assim eu vejo): a substância pessoal sofre ação do corpo coletivo e vice-versa.

Para nossa sorte, Aristóteles tratou de levantar a bola e chutar para o gol: é taxativo ao esclarecer o ponto sobre a fonte da felicidade. “a vida ativa é preferível ao Estado e aos cidadãos”. Felicidade é ação, diz o estagirita. E sobre esta fonte me ocupo agora, destacando a perspectiva antropológica.

Se existe um denominador comum nas (consideradas) pessoas felizes é este: elas agem. Atuam sobre a realidade, produzem, criam a si mesmas.

Quando dizem “vou fazer isto”, fazem. Quando se propõem a estudar uma coisa ou a organizar uma festa, isto acontece. São causa e consequência — autores da própria história pessoal.

Aplicando o raciocínio contrário, é fácil perceber que os infelizes são aqueles que não agem (e diria Plotino, tudo que é, age). É comum observar nestas pessoas características como paralisia, reclamação, tédio, ansiedade, adiamento, desordem. Cada um à sua maneira, infelizes são ótimos em repetições existenciais e dominam como poucos o modo de vida passivo auto-indulgente.

Quem quer que queira ser feliz precisa fazer algo. A começar pela posse de si, pela integração do eu, até chegar à colaboração consciente na realização de um Estado de bem-estar: o apogeu coletivo depende desta apropriação individual do dever de agir (e agir, antes de política, anímica e existencialmente). Se minha comunidade e eu temos uma só fonte de felicidade — e o Estado não é capaz de agir senão por meio de agentes pessoais — é a minha atividade que poderá promover a eudaimonia (basta lembrar que, na mesma Política, Aristóteles ensina que os governantes são aqueles que primeiro se inclinam às virtudes aspiradas pela sociedade que lideram, e depois atuam na persecução do bem-estar do corpo coletivo).

Resumindo: temo os dias em que os agentes históricos atuam politicamente antes de atuar sobre si mesmos. É preciso conquistar para si aquilo que se deseja para todos os outros.

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Tiago Amorim é paranaense, casado e pai de dois filhos. Bacharel em Direito e psicopedagogo, atua na área da educação há mais de dez anos. Já lecionou em diversas instituições privadas e atualmente desenvolve um trabalho autônomo que pode ser conhecido em seu website (avidahumana.com.br). Estudioso da Antropologia Filosófica, especializou-se na Escola de Madri — movimento intelectual iniciado por José Ortega y Gasset no século XX. Considera-se um seguidor de Julián Marias, o pensador mais influente em sua vida.

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