O que você quer saber da vida?

Simonsen
Editora Simonsen
Published in
3 min readDec 2, 2016

Este é um trecho do livro “Por Que Não Somos Felizes?”, escrito pelo prof. Tiago Amorim, que pode ser adquirido neste link: http://www.saraiva.com.br/por-que-nao-somos-felizes-9374820.html

Todo homem tem um conjunto de perguntas radicais que motivam seus processos de intelecção. Aliás, conhecer um homem é saber distinguir este conjunto que fornece ao observador sua tendência existencial, inclinações biográficas e disposições vocacionais. Cada um de nós tem algumas questões realmente pessoais que deseja responder ao longo da vida. Nem sempre respondemos, mas isso não importa: o movimento, no sentido de compreender aquelas realidades anunciadas nas grandes perguntas antes de qualquer outra coisa, já configura (em parte) a trajetória individual.

O que você quer saber da vida? Com o que você gasta tempo, energia e dinheiro para conhecer? O inventário das próprias questões é um dos meios de posse de si: reconhecer as perguntas mais radicais — aquelas que despertam intimamente a faculdade da inteligência — é requisito para o alcance da felicidade. De certa forma, uma pessoa é também aquilo a que ela tende interessadamente e que ela não abre mão de saber (sob pena de não realizar o próprio ser).

Uma das minhas perguntas é esta: qual é a relação que existe efetivamente entre a sociedade e o indivíduo? Não sob o ponto de vista da sociologia, mas, primeira e radicalmente, da antropologia filosófica. Em que medida minha realidade altera-se, comunica-se, expande-se e limita-se na complexa interação com a “realidade” coletiva? Por exemplo: o “quanto” da história colonial brasileira, ou das leis estaduais, ou da música nordestina faz parte do meu mundo, estabelecendo conteúdos e continentes sobre os quais transcorre minha vida?

A relação entre história pessoal e coletiva, para tomar um dos exemplos, já me proporcionou muitas horas de leituras, reflexões e escrita. Para mim, não há resposta fácil ou pronta: com base no princípio de autoria, é preciso dar alguma resposta aos anseios, fatos e pretensões coletivas históricas que chegam até minha realidade individual, como a instauração da República, em 1889: eu não estava lá, nem conheço tantos detalhes do processo. Entretanto, estou aqui, vivendo sob o regime republicano iniciado há mais de cem anos, tendo de absorver um conteúdo da narrativa social que também é meu, mas que não tenho certeza do “quanto” é meu.

Foi Olavo de Carvalho quem afirmou: só entendemos a história desde nossa própria história. O que fora anunciado como um princípio evidente precisa ser desdobrado analiticamente, pois, no meu caso, trata-se de uma pergunta que precisa ser respondida.

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