O que é crescimento econômico? — Heitor Rodrigues e João Pedro FG

João Pedro F.G.
Simpleconomia
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7 min readMay 7, 2020

Primeiramente o que será exposto neste texto será apenas um recorte. Características menos usuais no tocante a matemática e uma análise mais sofisticada dos dados estarão nas fontes, para quem se interessar a ler o assunto mais a fundo é claro. Pois o objetivo deste texto é apenas expor, brevemente, o debate na área. Caso haja algum erro, por favor, comente!

Agora vamos ao que interessa!

Imagem de Seul, capital da Coreia do Sul, um dos tigres asiáticos.

Alguns países têm enfrentado décadas e até mesmo séculos de estagnação da sua renda per capita. Economistas como Gunnar Myrdal e Ragnar Nurkse, salientaram que a dificuldade de aumentar a formação de capital em paralelo ao crescimento demográfico: Onde X país é pobre porque POUPA POUCO, poupa pouco PORQUE É POBRE. Porém, Ragnar Nurk se juntou a Paul Rosenstein-Rodan, em 1950, descreviam o mercado interno dos países pobres como precários demais para a instalação de novas indústrias com base na complexidade tecnológica moderna. E os mesmos propuseram uma solução, onde um “grande impulso” (big push) seria estruturado mediante planejamento central, e que implantasse de forma simultânea uma cadeia de investimentos que se completariam uns aos outros.

Mas a proposta de Nurkse e Rosenstein seria plausível? O tal do grande impulso necessitava de grandes injeções em oferta de capital, porém se os países pobres têm deficiência em capital, como isto teria qualquer aplicabilidade prática? Os países com baixa renda per capita e com alta população poderiam alcançar certo “milagre” econômico tomando medidas de enriquecimento de capital junto ao capital humano de forma gradativa. Contudo há outros modelos.

Em 1956 foi publicado um artigo que seria o divisor de águas nos debates sobre desenvolvimento econômico na metade do século XX, se trata do trabalho do economista Robert Solow em “A Contribution to the Theory of Economic Growth”.

Para simplificar nossas vidas, usaremos como exemplo países que apenas consomem e produzem um único bem puro (produto), mas isso pode ficar a critério do leitor, o mesmo pode utilizar diversos cenários para tentar assimilar o conteúdo; podem ser robôs, abelhas etc. Cientificamente falando, modelos simplificados possuem certa facilidade de entendimento, e nesse caso usaremos uma sociedade bem simples. Entenderemos exatamente como estas pessoas se comportam, tendo o foco na maximização da sua própria utilidade, e também saberemos como seria a reação com restrições. Ou seja, os indivíduos que habitam aquela sociedade podem querer consumir a maior quantidade possível de produto, porém estarão limitados pela quantidade de produto que geral com as tecnologias disponíveis.

Analisando a parte algébrica de forma mais simples; teremos que o modelo de Solow apresentado no artigo está estruturado em duas equações, a de Acumulação de Capital e da Função de Produção, neste texto iremos focalizar, por enquanto, apenas na Função de Produção, que será a Cobb-Douglas do tipo:

Esta função tem caráter descritivo sobre insumos como tratores, técnicos, operários e engenheiros se combinam parar gerar produto. Onde o produto é Y, capital K e trabalho L. E sendo α um número entre 0 e 1. É uma função sobre retornos constantes à escala; o produto dobrará se e somente se todos os insumos forem duplicados.

A relação entre o produto por trabalhador ou mesmo o produto per capita também pode ser explicada a partir da primeira equação, apenas reescrevendo:

Produto por trabalhador: y≡ Y/L

Capital por trabalhador: k≡ K/L

Que será:

Trocando em miúdos, com mais investimento em capital por trabalhador, a sociedade contará com mais produto por trabalhador. Contudo, há retornos decrescentes ao capital por trabalhador; a cada x unidade adicionada de capital que damos a certo trabalhador, o produto gerado pelo mesmo cresce cada vez menos.

Mas indo agora direto ao ponto, o qual o artigo tenta responder, é “Por que somos tão ricos e eles tão pobres?”. Tais países que têm altas razões poupança/investimento têm o potencial de adquirirem altos crescimentos, ceteris paribus (tudo o mais constante). Obviamente tais países adotaram medidas onde a acumulação de capital por cada trabalhador eram maiores. Países com altas taxas de investimento conseguem, em média, manter a tendência de crescimento. Porém há aqueles países que estão atolados no que chamamos de Estado estacionário, onde presenciamos níveis de depreciação, isto é, a desvalorização de um bem e que estes estão de paralelo com mesma taxa de investimento.

Mas qual seria a saída para este dilema? Solow nos diz que a depreciação e a taxa de crescimento da força de trabalho afetam o montante de capital per capita disponível na economia ao ponto de reduzi-lo. Quando a relação é positiva e a economia presencia um aumento de capital por trabalhador, dizemos que este fenômeno é o aprofundamento do capital, mas quando uma mudança nula, porém é observável que o estoque de capital real está crescendo por uma variável como o crescimento populacional, chamamos de alargamento de capital.

Focaremos no aprofundamento do capital, veja bem, se em algum momento o investimento por trabalhador for superior ao montante necessário para manter constante o capital por trabalhador é onde temos o aprofundamento do capital. E que agora, lembrando-se da função de produção, é possível discernir que tal nível elevado de capital por trabalhador está relacionado a um maior produto per capital, ou seja, a economia é mais rica agora do que antes.

O crescimento por si só, sem meios de modernização, não se sustentará por muito tempo. A sustentação do crescimento da renda per capita nesse modelo simples, teremos que adicionar a variável do progresso tecnológico na própria de função de produção. Chamaremos esta variável de A, logo reescreveremos a função como:

Apenas o progresso tecnológico sustenta o crescimento per capita, e sem este, acabará na medida onde os retornos decrescentes ao capital mostrarem os primeiros sinais, por isso chamamos a variável A como ”aumentadora de trabalho”. Em longo prazo a variável A é responsável pelo progresso tecnológico. Resumindo, x unidade de trabalho é mais rica produtivamente quando se tem alto índice de tecnologia. Há também a compensação sobre a tendência de declínio advindo do produto marginal do capital, observando-se assim, no longo prazo, crescimento à taxa do progresso tecnológico; disparidades entre infraestruturas também fazem parte dos fundamentos para um bom crescimento econômico, entende-se que reformas na infraestrutura em x economia levará a alterações de renda. Reformas estruturais tendem a diminuir distorções no ramo econômico.

O modelo de Solow fornece boas explicações para o que ele se propõe a responder, contudo, ele sofreu diversas críticas desde a sua criação. Tal modelo trata variáveis de poupança, crescimento populacional e mudança tecnológica como exógenas, ou seja, não tenta explicar o que determina tais variáveis, sendo assim, defensores de modelos de crescimento endógeno criticaram-no justamente por esse aspecto e suas consequências. Outra crítica feita por diversos economistas no século XX é a de que o modelo não leva em conta o capital humano, sendo que já se sabia da importância deste para o processo do crescimento.

Então, em 1992, N. Gregory Mankiw, David Romer e David N. Weil contribuíram substancialmente para o debate do crescimento econômico em “A Contribution to the Empirics of Economic Growth”. Tal artigo busca testar o modelo de Solow e refiná-lo, com a adição do capital humano. O modelo de Solow refinado é definido como a seguinte função de produção:

H é o estoque de capital humano e as outras variáveis são definidas da mesma forma que nas equações anteriores. A diferença entre os níveis de renda entre os países é melhor explicada pelo modelo acima, já que a falta do capital humano no modelo de Solow original fazia com que as previsões relacionadas à magnitude da influência da taxa de poupança e de crescimento populacional fossem incorretas. Assim, concluiu-se que o modelo de Solow é consistente com os dados, caso se reconheça a importância do capital físico e humano.

Sendo assim, um melhor PIB Per Capita, níveis de educacionais e de poupança, seriam melhores alcançados via melhor distribuição de capital por trabalhador, reforma agrária, reforma tributária, altos investimentos em educação básica etc.

Os Tigres Asiáticos, ou seja, Coréia do Sul, Hong Kong, Cingapura e Taiwan tiveram taxas de crescimento médio anual superiores a 5% entre 1960 e 1990, que é resultado inerente de acumulação de fatores como: aumentos pesados em educação, capital físico, aumentos na participação da força de trabalho, e a transição da agricultura para a indústria. O Japão manteve uma taxa de crescimento com extrema rapidez e agora registra o mais alto nível de produto per capita da Ásia, e começando na década de 1960, Cingapura, Taiwan, Hong Kong e Coréia do Sul começaram a reagir rapidamente. Em 1960, seu produto per capita médio era de cerca de 16% do produto per capita dos Estados Unidos; em 2004, havia aumentado para 65% do nível dos Estados Unidos.

Salientando que boa parte de tais acumulações não seriam sequer pensadas sem primeiro o investimento massivo em escolaridade. Ou seja, países ricos têm como característica investimentos maiores de frações do PIB e do seu tempo na acumulação de capital e em qualificações; e mesmo assim, a grande quantidade de capital e de qualificação por trabalhador não é uma característica automática ou determinística, o progresso advém da aplicação correta dos insumos, gerando assim a maior produtividade possível.

Fontes:

Jones, Charles. Teoria do Crescimento Econômico, 4ª. Editora Campus.

Mankiw, N.Gregory. Romer, David. Weil, David. A Contribution To The Empirics Of Economic Growth. (1992).

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João Pedro F.G.
Simpleconomia

Data Scientist | Researcher @ IPEA & MADE - USP | Interested in Inequality, Economics, AI and Casual Inference