Companhia de teatro das Caldas da Rainha vai ter sede própria

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sinalAberto
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5 min readJun 4, 2018

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Por Cátia Cavaleiro

A construção do edifício do Teatro da Rainha deve começar em agosto ou setembro e conta com o financiamento da autarquia local, no valor de dois milhões de euros.

Durante mais de dez anos a Companhia tentou obter a comparticipação da União Europeia, através de fundos comunitários, ou o apoio do Governo, sem sucesso. O diretor artístico do Teatro da Rainha e encenador, Fernando Mora Ramos, classifica a investida como “absolutamente frustrante”. Segundo o presidente do município, Tinta Ferreira, o investimento fica “bastante acima das expectativas” do seu executivo. No entanto, para o autarca trata-se de um equipamento “importante para a política cultural do país e da região”.

A falta de apoios nacionais e comunitários levou o arquiteto Nuno Ribeiro Lopes a criar um novo projeto, com custos e dimensões mais reduzidas. De acordo com o autor da obra, passar para um segundo plano levou a “um exercício de projetação muito comprimido, muito atento”. O objetivo foi, sobretudo, continuar a ter um equipamento versátil, capaz de responder às necessidades dos artistas e ao tipo de encenações que pretendem desenvolver. “O principal desafio foi tentar meter tudo naquela caixa de sapatos”, refere o arquiteto.

Para Ribeiro Lopes o edifício “possibilita tudo”. O palco e a plateia podem ser posicionados de forma tradicional, mas também é possível criar muitas outras disposições. Inclusive, “o próprio palco pode abrir-se sobre o jardim”, salienta o arquiteto. A sede vai localizar-se na Praça da Universidade, uma zona central da cidade, onde atualmente há um parque de estacionamento pouco utilizado. O sítio permite, segundo o autor do projeto, “ir buscar a cidade antiga, se calhar a gente mais pobre” e estabelecer uma “ligação entre comunidades”.

O edifício não reflete em nada as preocupações estéticas ou artifícios de um teatro à italiana, nem pretende fazê-lo. É precisamente aí que está a sua beleza. Estamos perante um projeto que pretende ser simples, mas é muito complexo e que vai oferecer aos seus espectadores experiências únicas. Os limites que se impõem às configurações possíveis para as encenações, são os da imaginação. Fica, ainda, a expectativa de que cada espetáculo que aqui tenha lugar seja tão único como o que o inaugurar.

A assinatura do contrato da obra deveria ter decorrido no dia 16 de dezembro. No entanto, a CIP — Construção SA, a única empresa que tinha participado no concurso, com a apresentação de uma proposta de cerca de 1,73 milhões de euros, não entregou todos os papéis necessários a tempo. Entretanto, a autarquia decidiu lançar um novo concurso, que deverá estar concluído no verão, ao mesmo tempo que aumentou o valor do financiamento para perto dos 2 milhões de euros. O presidente da autarquia caldense assegura que o incidente não foi mais do que “um contratempo”, que “não fará com que o município desista de fazer a obra”.

Uma Companhia com história

O Teatro da Rainha tem 33 anos e é a única companhia profissional de teatro que se localiza entre Lisboa e Coimbra. Desde 2002, ocupa parte das instalações da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste. O pequeno espaço improvisado, como o foram muitos outros que o grupo ocupou, é evidentemente insuficiente para permitir à companhia crescer. Ao visitar o espaço fica-se um pouco com a sensação de entrar na casa de um adulto que vive com os pais, apesar de o local ser suficiente para responder às necessidades da companhia, não lhe permite ir mais além.

Fundada em 1985, a associação conta com presenças internacionais, nomeadamente no Festival da União dos Teatros da Europa, em 2008. Entre 1990 e 2000 o grupo passou por cidades como Coimbra, Lisboa, Porto, Guarda ou Évora. Fernando Mora Ramos descreve o grupo como “uma espécie de vadios organizados”. Os artistas dedicam-se ao teatro de repertório, com enfoque em temas contemporâneos, mas debruçam-se também sobre os clássicos. Começou por ocupar durante alguns anos a Casa da Cultura caldense, que antes do 25 de abril foi um Casino. Nas Caldas da Rainha trabalharam, ainda, em sítios como o sótão da antiga lavandaria do Hospital Termal e fizeram encenações ao ar livre.

O diretor artístico da Companhia espera que a construção do equipamento cultural permita “uma intensidade redobrada” da atividade da associação e que, por outro lado, possa consolidar “o projeto de criação de um curso de formação profissional”, que já começou a ser desenvolvido. Por sua vez, Tinta Ferreira revela estar “entusiasmado” com a obra e acredita que “os caldenses quando a virem concretizada e concluída, ficarão também entusiasmados e orgulhosos da mesma”.

A associação teatral insere-se numa cidade que tem uma tradição artística enraizada, onde tradicionais figuras de cerâmica enfeitam as ruas, e que conta com equipamentos culturais como um Centro de Artes, um Centro Cultural e de Congressos ou a Escola Superior de Artes e Design. O novo espaço vem destacar e acrescentar ainda mais valor à região, que se reafirma como pólo artístico e, por outro lado, desafia a centralização da cultura.

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