Todo o mundo é composto de mudança

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sinalAberto
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2 min readJun 6, 2018

Por Fernando Boavida

Se há algo que consegue inspirar sentidos contraditórios então pode ser descrito pela palavra ‘revolução’. As revoluções inspiram pânico e, ao mesmo tempo, atraem-nos, fazem-nos avançar. Ao longo da história da Humanidade muitas foram as revoluções e em todas se fizeram ouvir os profetas da desgraça. Também foi e é assim com a revolução gerada pelas tecnologias da informação e comunicação (TIC).

Um dos maiores receios associados às TIC era, e ainda é, o da destruição de empregos. É certo que as TIC conduziram a uma alteração radical das formas de trabalhar, do mercado de trabalho, das economias nacionais e mundial, mas não é menos certo que geraram milhares de milhões de empregos. Mesmo os tipos de trabalho que, em primeira análise, se antevia que sucumbissem às TIC acabaram por beneficiar delas, ao permitirem o alargamento a mercados até aí inacessíveis. Na prática, rigorosamente tudo o que fazemos hoje utiliza e/ou beneficia das TIC, algo que era impensável até para o mais otimista dos seus defensores.

Mas agora, com o advento de sistemas autónomos, inteligentes, com capacidade para analisarem e reagirem ao contexto, novos arautos levantam as suas vozes profetizando o domínio da máquina sobre o Homem, o fim do Mundo, o anunciado apocalipse. Outros não chegam tão longe, mas dizem, com muita falta de originalidade histórica, que estão em causa postos de trabalho. O tempo e a História se encarregarão de provar que uns e outros estão errados. O desenvolvimento tecnológico sempre gerou oportunidades, e há muito que sabemos que aproveitá-las é a única forma de sobreviver.

É claro que qualquer revolução acarreta desafios e no caso das TIC são vários, sendo os mais comuns a atualização e adaptação constantes, e a necessidade de aprendizagem continuada. É impossível saber se isto resultará no desaparecimento desta ou daquela profissão (muitas das que se dizia que desapareceriam com as TIC ainda aí estão e até mais fortes). O que, sim, se pode esperar é que muitas outras serão criadas.

A alteração da natureza e tipo de trabalho é algo que não deveria assustar ninguém. A nova revolução tecnológica proporcionada pelos sistemas inteligentes não deixará, é certo, de ser um desafio, mais uma mudança, mas já o grande Luís Vaz de Camões dizia que “todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”. Não sejamos, pois, mais um “velho do Restelo”, que desses já estamos fartos.

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